O DESAFIO VERTICAL DOS JUROS: BANCOS CENTRAIS DE ECONOMIAS DESENVOLVIDAS ESCALAM AS TAXAS PARA NOVAS ALTURAS
Lá fora, os mercados asiáticos caíram nesta sexta-feira, com os investidores preocupados com o fato de que mais aumentos nas taxas de juros pelos principais bancos centrais podem prejudicar o crescimento econômico global — o desempenho foi afetado pela falta de liquidez derivada do feriado chinês, que fechou os mercados por lá.
Sobre o aperto monetário, os bancos centrais da Suíça, Noruega e Inglaterra elevaram suas taxas de juros recentemente: o Banco Central da Suíça aumentou em 25 pontos para 1,75%; o Banco Central da Noruega aumentou em 50 pontos para 3,75%; e o Banco Central da Inglaterra aumentou em 50 pontos para 5,00%.
Essas elevações seguem as decisões da Zona do Euro, Austrália e Canadá.
Os mercados europeus abrem em queda, assim como os futuros americanos. A ansiedade reflete a fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que disse ao Congresso que mais aumentos nas taxas de juros podem ser necessários este ano para reduzir a inflação dos EUA para a meta de 2% do banco central, em linha com as demais autoridades monetárias.
Sim, a inflação moderou um pouco desde meados do ano passado, mas as pressões inflacionárias continuam altas e o processo de reduzir a inflação para 2% ainda tem um longo caminho a percorrer.
Para hoje, contamos com índices de atividades em diversas regiões já sob forte contração de liquidez. Ainda sofremos com a ressaca pós-pandêmica e não sabemos quanto tempo ela vai durar.
A ver…
00:57 — E realizou
No Brasil, os investidores optaram por descontar a frustração frente ao comunicado do Copom nos ativos locais. A ata da reunião será divulgada na semana que vem, mas sua importância, ainda que grande, foi relativamente esvaziada pelo tom do documento da noite de quarta-feira e pela reação do mercado durante o pregão de ontem.
Consequentemente, não devemos ver muitas novidades na ata que possam alterar a percepção do mercado — no final ainda espero o início do ciclo de cortes em agosto.
Mais importante será a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), marcada para o dia 29, na qual poderemos ter algumas mudanças na condução da política monetária. Será muito importante não ocorrer uma mudança de meta de inflação, que poderia comprometer a credibilidade do BC.
Uma surpresa negativa pode afetar a curva de juros, as ações e o dólar — não me espantaria ver um BC ainda duro em agosto se for o caso. Discussões sobre o arcabouço e a reforma tributária fazem parte da agenda.
01:37 — Mais aumentos
Nos EUA, após Jerome Powell sinalizar possíveis mais dois aumentos do juro americano, as falas de alguns diretores do Fed previstas para esta sexta-feira podem ajustar as apostas do mercado — as participações incluem comentários de incluindo James Bullard, Raphael Bostic e Loretta Mester.
A política monetária continua a ser uma prioridade para os investidores. No fundo, a autoridade monetária depende de dados do banco central a partir daqui. A chance dos americanos acompanharem os europeus é grande.
O Banco da Inglaterra continua lutando contra a inflação mais aquecida entre as economias desenvolvidas este ano (preços ao consumidor do Reino Unido subiram 8,7% em maio em relação ao ano anterior), tendo elevado sua meta de taxa de juros em meio ponto percentual — esse foi o 13º aumento consecutivo do BoE desde dezembro de 2021, colocando sua taxa de referência para 5%.
Em outras partes da Europa, outros bancos centrais também continuam a apertar. O Banco Nacional Suíço elevou sua taxa-alvo em um quarto de ponto percentual hoje, enquanto o Banco Norueguês elevou em meio ponto e sinalizou que mais aumentos estão por vir.
Segue-se a alta de 25 pontos do Banco Central Europeu na semana passada. Consequentemente, há muita preocupação por aí sobre uma possível recessão nos EUA no próximo ano e como isso pode acontecer.
02:29 — Acordos
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, anunciaram uma série de acordos comerciais e de defesa destinados a melhorar os laços militares e econômicos entre suas nações durante a visita de estado de quinta-feira na Casa Branca, em linha com o que havíamos comentado anteriormente.
Para ilustrar, a General Electric planeja fabricar motores F414 em conjunto com a empresa estatal indiana Hindustan Aeronautics para a aeronaves de combate leves, como parte de um esforço para melhorar o compartilhamento de defesa e tecnologia à medida que a China se torna agressiva em suas ambições na Ásia.
Os dois líderes também lançaram uma série de acordos relacionados com o segmento de semicondutores projetados para aproveitar os subsídios indianos destinados a trazer fabricação de tecnologia avançada para o país do sul da Ásia. A relação amistosa entre os americanos e os indianos deve incomodar bastante os chineses.
03:15 — Por falar na China…
A China iniciou uma nova rodada de inspeções em todo o país para descobrir quanto dinheiro os governos locais devem. As autoridades serão pressionadas a esclarecer suas chamadas dívidas ocultas, enquanto os líderes nacionais tentam obter uma imagem mais completa das responsabilidades em todos os níveis do governo.
A campanha está sendo liderada pelo Ministério das Finanças. Não está claro quando a pesquisa terminará ou o que virá a seguir, mas uma contabilidade precisa do tamanho dos passivos seria fundamental para formular políticas para lidar com o problema. Um ajuste fiscal nas províncias deverá acontecer nos próximos anos.
04:08 — Ambições europeias
A tentativa da Europa de se tornar o primeiro continente neutro em carbono do mundo até 2050 pode acabar causando dor de cabeça para os bancos centrais da região; afinal, a transição pode alimentar os preços ao consumidor.
Estudos mostram que a inflação na Zona do Euro pode chegar a ser 30 pontos-base maior até o final da década. O motivo? Bem, os preços da energia aumentarão durante a transição, pois a eliminação gradual de tecnologias com alto teor de carbono reduz a oferta agregada e o investimento em novas tecnologias reforça a demanda.
O problema é que aumentar as taxas de juros em resposta a isso (o aumento da inflação) pode prejudicar o investimento em energia mais limpa.
Portanto, a política monetária e os esforços para salvar o planeta correm o risco de trabalhar um contra o outro. Ao mesmo tempo, se houver remoção dos incentivos dos investimentos, pode ser contraproducente para a transição energética.
Em outras palavras, existe um trade-off complexo entre suas ações e seu mandato de estabilidade de preços. A transição energética, um dos grandes temas do século, será bem mais complexa do que se esperava.