MERCADOS GLOBAIS: DO 'HAPPY HOUR' AO 'MAU HUMOR' EM QUESTÃO DE SEMANAS
No exterior, as bolsas de valores asiáticas seguiram a tendência de queda dos mercados americanos nesta quinta-feira, após a divulgação das atas da mais recente reunião do Federal Reserve dos Estados Unidos, que minaram as expectativas de que os aumentos nas taxas de juros estivessem chegando ao fim.
O índice S&P 500 registrou queda na quarta-feira, após o referido documento sugerir uma falta de clareza por parte da autoridade monetária quanto às próximas medidas a serem tomadas, após o recente aumento na principal taxa de empréstimo, que atingiu o patamar mais elevado em duas décadas.
Os investidores estavam antecipando que a decisão fosse pautada na percepção de controle da inflação e que o aumento dos juros no mês passado seria o último.
Na Europa, os mercados acionários também estão em queda nesta manhã, enquanto os futuros das bolsas americanas buscam uma recuperação.
Enquanto isso, os mercados emergentes estão enfrentando a perspectiva de registrar o pior mês de agosto em quase dez anos, principalmente devido a novos indícios de problemas econômicos na China e a riscos políticos na Argentina.
O Brasil, que também lida com desafios internos, acaba sendo impactado pelo clima negativo que prevalece nos mercados globais.
A ver…
00:45 — Ou vai ou racha
No cenário brasileiro, observamos a ocorrência de nossa décima segunda queda consecutiva, um feito sem precedentes na história recente (seria necessário retroceder mais de meio século para encontrar algo comparável, o que impossibilita uma comparação significativa).
É verdade que essa redução tem sido relativamente modesta quando comparada a períodos de acentuada tensão ocorridos anteriormente (por exemplo, o índice caiu cerca de 5,34% em agosto, o que é desfavorável, embora não represente uma catástrofe), porém, essa situação resultou no deslize abaixo dos 116 mil pontos.
Além das questões internacionais que estão influenciando a movimentação de recursos estrangeiros, há ainda a complexa situação interna a ser enfrentada.
O ex-presidente Lula, embora tenha recebido elogios do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por liderar o Brasil no cenário global das questões climáticas, foi trazido de volta à realidade.
As tensões entre o governo federal e o Congresso Nacional se agravaram após atritos entre Fernando Haddad e Arthur Lira. Agora, a pressão está em concluir a reforma ministerial.
A expectativa é de que as negociações sejam finalizadas antes da viagem de Lula à África do Sul para a Cúpula dos BRICS no final deste mês, visando destravar a agenda econômica entre os parlamentares, atualmente estagnada.
O presidente se reuniu com líderes do Partido dos Trabalhadores (PT) para definir quais postos serão alterados e, posteriormente, se encontrou com o presidente da Câmara.
Tudo indica que veremos a reintrodução do Ministério da Micro e Pequena Empresa, além da mudança na direção do Sebrae Nacional.
Essa é a única maneira de resgatar a aprovação do conjunto legislativo e do orçamento, permitindo a retomada de uma perspectiva mais positiva para o mercado, que havia sido conquistada desde o final de março.
01:37 — Uma ata mais dura do que o esperado
Durante a reunião de política monetária em julho, as autoridades do Federal Reserve nos Estados Unidos mantiveram uma preocupação generalizada com a possibilidade de a inflação não recuar e a perspectiva de necessidade de futuras elevações nas taxas de juros.
No entanto, tornaram-se cada vez mais evidentes algumas divisões dentro desse consenso.
A ata da reunião revelou que dois membros do Comitê Federal de Mercado Aberto manifestaram apoio à manutenção das taxas inalteradas ou poderiam ter endossado tal abordagem.
A elevação da taxa em julho levou a faixa-alvo da taxa de referência do Fed para 5,25% a 5,5%, atingindo o nível mais alto em 22 anos. Paralelamente, a acumulação de economias por parte das famílias norte-americanas durante a pandemia provavelmente chegará ao seu fim no trimestre atual.
O modelo GDPNow, desenvolvido pelo Fed de Atlanta, agora projeta um crescimento anual ajustado sazonalmente de 5,8% para o terceiro trimestre.
Múltiplos indicadores econômicos recentes sugeriram que setores-chave da economia estão, de fato, acelerando.
Caso essa tendência prossiga, o Comitê Federal de Mercado Aberto poderá se ver compelido a adotar medidas mais rigorosas na política monetária como forma de controlar a inflação.
02:28 — Deu a louca na Fitch
A agência de classificação de risco Fitch, a mesma que rebaixou os Estados Unidos e melhorou a avaliação do Brasil, agora volta sua atenção para a China. A Fitch indicou a possibilidade de um rebaixamento do rating soberano da China, que atualmente se encontra em "A+" com perspectiva estável desde 2007, devido às condições econômicas do país asiático.
Caso os passivos contingentes de outros setores se transformem em obrigações reais para o governo chinês, e caso a China aumente sua exposição patrimonial para sustentar a economia, a agência pode reavaliar a situação.
Afinal, a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB) da China está um tanto elevada para a classificação de crédito atual.
Além disso, outra observação significativa da mesma agência também merece destaque.
Tudo indica que o crescimento econômico dos países desenvolvidos não retornará aos níveis pré-pandemia de Covid-19. Essa constatação resultou na revisão para baixo das projeções do PIB potencial das principais economias globais.
Essa deterioração reflete os impactos duradouros das crises do coronavírus e das interrupções no fornecimento de gás na Europa, ambos fatores que desaceleraram a acumulação de capital e reduziram o crescimento da produtividade.
Adicionalmente, a diminuição sustentada nas taxas de participação na força de trabalho também contribui para esse cenário. Vivemos tempos peculiares e desafiadores.
03:13 — Todo mundo está olhando para a China
Um dos maiores players do sistema financeiro paralelo ("shadow bank") da China recentemente optou por ignorar pagamentos associados a vários produtos de investimento, gerando protestos incomuns em Pequim.
Essa situação ocorre à medida que as ramificações decorrentes de uma queda em constante expansão no mercado imobiliário passam a afetar também o setor financeiro.
Seguindo o precedente estabelecido pela preocupação gerada pela incorporadora Country Garden, agora é a vez do banco paralelo Zhongrong deixar de honrar pagamentos de diversos produtos, sem um plano imediato para resolver a situação com os clientes.
Esse acontecimento sinaliza que as complexidades e fragilidades do sistema bancário chinês vão além do que se havia compreendido previamente.
Adicionalmente, as principais lideranças da China comprometeram-se a estimular o consumo interno como parte de uma iniciativa para revitalizar a economia.
No entanto, os resultados até o momento estão longe de serem ideais. Um exemplo disso é a receita da Tencent, que ficou abaixo das projeções, demonstrando uma recuperação desigual no cenário da internet no país, em um contexto marcado por instabilidades econômicas.
A empresa registrou um aumento de 11% na receita, abaixo das expectativas, pois as vendas das principais divisões, incluindo jogos e serviços em nuvem, ficaram notavelmente aquém das previsões.
A perspectiva para o panorama corporativo pode deteriorar ainda mais caso o governo não opte por oferecer estímulos substanciais.
04:06 — Boa brisa na Turquia
A Turquia talvez esteja se encaminhando para sua primeira melhoria de classificação de crédito em mais de uma década, caso o presidente Recep Tayyip Erdogan permita que sua nova equipe econômica reverta as políticas econômicas que ele havia endossado previamente.
A Moody's tornou-se a primeira dentre as três principais agências de rating a levantar a possibilidade de conceder à Turquia uma avaliação mais positiva, embasando-se em melhorias nas finanças nacionais.
A agência manifestou um otimismo crescente quanto às perspectivas da dívida do país, o que incentivou investidores a alocarem recursos em títulos denominados em dólares turcos, à medida que os formuladores de políticas começaram a elevar o custo dos empréstimos como medida de contenção da inflação e implementaram aumentos tributários para endereçar o déficit orçamentário.
Este retorno a uma abordagem relativamente ortodoxa ocorre após anos de políticas de fomento ao crescimento a qualquer custo, respaldadas por Erdogan no contexto das eleições presidenciais de maio.
Posteriormente à sua reeleição para mais cinco anos no cargo, Erdogan indicou Mehmet Simsek como Ministro das Finanças, incumbindo-o de supervisionar a mudança nas políticas econômicas.
Tanto Simsek quanto a recém-designada chefe do banco central, Hafize Gaye Erkan, já implementaram significativos ajustes nas condições monetárias.
Entretanto, permanece um limite para as ações da equipe econômica, dada a aproximação das eleições municipais de março, sendo que o partido de Erdogan busca recuperar Istambul após a derrota dolorosa sofrida em 2019. Resta observar se a abordagem econômica ortodoxa sobreviverá a esse contexto.