RETORNO DAS MARÉS INCERTAS: O ESTRESSE FISCAL VOLTA AO PALCO
No cenário internacional, os mercados estão apresentando uma mescla de desempenhos nesta quinta-feira, enquanto os investidores enfrentam o desafio de acompanhar a recuperação de Wall Street.
Essa dinâmica ocorre apesar dos novos dados que alimentam o otimismo de que o Federal Reserve possa postergar mais aumentos das taxas de juros ao longo deste ano.
No entanto, outra leitura desfavorável da China trouxe uma nuvem de incertezas ao ambiente.
Na China, constatamos que a atividade industrial sofreu uma contração novamente neste mês, acompanhada por um enfraquecimento dos serviços.
Essa situação, por sua vez, deve intensificar a pressão sobre as autoridades chinesas para tomarem medidas que revitalizem uma economia em dificuldades.
Enquanto os mercados europeus estão em alta, os futuros americanos estão enfrentando um tímido avanço.
Os investidores receberam positivamente a notícia de que houve menos criação de empregos no setor privado dos Estados Unidos e que o crescimento do segundo trimestre foi menor do que inicialmente projetado.
Esses indícios sugerem que a economia está perdendo força após mais de um ano de aperto monetário. Em virtude disso, os investidores agora avaliam que as chances de um novo aumento nas taxas de juros são inferiores a 50%. Na agenda do dia, destaca-se o Índice de Preços ao Consumidor (PCE), indicador preferido pelo Fed para medir a inflação.
A ver…
00:52 — Nuvens Carregadas no Horizonte
No Brasil, chegamos ao fim de agosto sem sentir falta deste mês. Até o momento, registramos apenas cinco altas acumuladas, acompanhadas por um volume bastante reduzido.
Entre os diversos fatores, tornou-se evidente que as preocupações fiscais voltaram a ocupar a atenção dos investidores, após passarmos meses absorvendo a noção geral do arcabouço fiscal proposto.
Agora, estamos na etapa subsequente, que consiste em implementá-lo ou, pelo menos, elaborar um plano concreto para sua execução.
Ontem, nos deparamos com certa tensão devido aos dados divulgados sobre as contas públicas, revelando déficits maiores do que inicialmente estimado.
Hoje, mais informações surgirão com a apresentação do resultado consolidado do setor público.
Ao mesmo tempo, na véspera da apresentação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024, o Senado aprovou o projeto relacionado ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), uma das principais medidas da Fazenda para reforçar a arrecadação.
Essa mudança restaura o equilíbrio a favor da União, revertendo a situação que, anteriormente, favorecia os contribuintes (que levou o estoque de litígios administrativos a ultrapassar a marca de R$ 1,3 trilhão).
A expectativa otimista aponta para uma arrecadação de até R$ 50 bilhões, embora isso esteja bem distante dos R$ 11 bilhões estimados em visões mais realistas. Apesar disso, representa um avanço significativo, especialmente após a aprovação da prorrogação da desoneração da folha até 2027.
01:45 — Alguém pediu mais um indicador de inflação?
Nos Estados Unidos, os investidores estão assimilando uma avalanche de dados econômicos, que continuam a pintar um quadro geral confuso, dificultando a previsão precisa do que está por vir.
Recentemente, foi anunciada a revisão para baixo da estimativa inicial do crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre, agora registrando uma taxa anualizada de 2,1%, em comparação com os 2,4% previamente divulgados.
Embora este número supere a cifra observada no primeiro trimestre, permanece abaixo das expectativas iniciais.
Além disso, o relatório de folhas de pagamento privadas da ADP foi divulgado, atuando como um indicador preliminar para os dados mais amplos sobre empregos que serão revelados na sexta-feira. As contratações diminuíram para 177 mil em agosto, em comparação com as 312 mil de julho, e não alcançaram o consenso estimado.
Caso os dados de emprego divulgados na sexta-feira demonstrem uma tendência semelhante de desaceleração nas folhas de pagamento não agrícolas, porém ainda indiquem crescimento, essa poderia ser exatamente a situação que os investidores necessitam.
Um mercado de trabalho mais frouxo resultaria em menos pressão ascendente sobre a inflação devido ao crescimento dos salários.
Contudo, a expansão contínua da força de trabalho também significa crescimento econômico e maiores lucros para as empresas. (Uma divulgação muito robusta na sexta-feira também poderá influenciar a narrativa em relação aos próximos passos do Federal Reserve, sugerindo a necessidade de medidas mais restritivas).
Antes disso, o foco se volta para a divulgação de hoje do indicador de inflação preferido pelo banco central dos EUA, o Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE).
02:48 — Maré de azar chinesa
Na China, a empresa de desenvolvimento imobiliário Country Garden emitiu um alerta, indicando que pode enfrentar dificuldades para honrar sua dívida e levantando questões sobre sua viabilidade nos negócios.
Isso ocorre após a empresa registrar um prejuízo semestral recorde de quase US$ 7 bilhões. Através de um comunicado oficial, a empresa expressou a possibilidade de não ser capaz de cumprir suas obrigações de dívida se o estado de suas finanças continuar se deteriorando.
Anteriormente uma das maiores incorporadoras imobiliárias do país em termos de vendas, a Country Garden encontra-se em uma espiral de endividamento que poderia ser mais grave do que a situação enfrentada pela concorrente Evergrande.
Isso ocorre porque a Country Garden possui quatro vezes mais projetos imobiliários em andamento. A crise no setor imobiliário chinês tem se intensificado, marcada por uma queda significativa nas vendas de imóveis novos em julho, atingindo a maior queda em um ano.
Apesar dos esforços das autoridades, a situação não se reverteu totalmente, com uma série de medidas fragmentadas, como reduções nas taxas de corretagem e a suposta orientação para os credores diminuírem as taxas de hipotecas.
Além disso, a atividade industrial chinesa registrou sua quinta contração consecutiva em agosto.
O índice oficial de gerentes de compras do setor industrial registrou um ligeiro aumento para 49,7 pontos no mês, mas ainda permaneceu abaixo da marca de 50 pontos, que indica uma condição de contração. O contexto é bem difícil.
03:49 — Uma inteligência artificial para chamar de sua
Com a ascensão da inteligência artificial (IA) generativa, pronta para remodelar a indústria editorial, as empresas estão enfrentando um dilema ao se posicionar em relação a essas tecnologias inovadoras.
Esse desafio tem impactado editores em praticamente todos os setores da indústria de mídia, abrangendo desde conteúdo online e mídia impressa até cinema e música.
A reação inicial de muitas empresas tem sido buscar alianças para evitar ameaças aos seus resultados financeiros.
Na indústria do entretenimento, atores e escritores de Hollywood entraram em greve, em parte por receio de perderem receitas para as máquinas.
Essa greve já perdura por mais de 100 dias. Além disso, editores renomados, como The New York Times e Wall Street Journal, iniciaram negociações para formar uma frente unida contra empresas como Google e Microsoft.
No mês de julho, a Associated Press firmou um acordo de dois anos com a OpenAI, a empresa-mãe da ChatGPT, marcando o primeiro acordo oficial de compartilhamento de notícias com uma empresa de inteligência artificial.
Esse movimento poderia servir como exemplo para outros, à medida que eles expandem suas ofertas e fontes de receita. Lembrando que a IA explica boa parte do desempenho das ações americanas no primeiro semestre, algo que pode se repetir ao longo dos próximos anos.
04:35 — Nem tanta unidade assim
Os esforços da China para fortalecer o papel do BRICS como um contrapeso ao G7 podem ser limitados pelas prioridades políticas de outros membros do grupo.
Apesar disso, isso não deverá interromper a colaboração do grupo em relação a objetivos comuns e possíveis expansões futuras. A previsão é de que novos países possam ingressar na aliança ao longo do tempo.
Enquanto a Rússia pode estar mais inclinada a se alinhar com a China, outros membros do BRICS podem adotar uma abordagem mais cautelosa para evitar desgastes nas relações com os Estados Unidos e países europeus.
A realidade política e econômica da África do Sul e da Índia pode apresentar desafios para a China em sua busca por estabelecer um contrapeso ao Ocidente.
A África do Sul demonstrou certa inclinação em direção à China e à Rússia, mas seu ministro das Relações Exteriores já deixou claro que consideraria um equívoco enxergar a expansão do BRICS como uma postura antiocidental.
Na verdade, estamos falando de um alinhamento econômico alternativo, que não necessariamente é antagônico, especialmente em um mundo globalizado, onde a harmonia entre vizinhos se torna cada vez mais crucial.