SINFONIA DE DELIBERAÇÕES: BRASÍLIA SE TORNA CENTRAL NA SEMANA
Nesta segunda-feira, os mercados asiáticos encerraram em alta, seguindo o otimismo global observado na sexta-feira.
Os investidores responderam positivamente aos comentários feitos pelo presidente do Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, durante o Simpósio de Jackson Hole.
Powell reiterou o compromisso do banco central em controlar a inflação a 2%, mas indicou que as taxas de juros podem permanecer inalteradas em setembro, enquanto os dados e as perspectivas são avaliados, adiando os possíveis cortes de taxa para 2024.
Os mercados europeus e os futuros americanos estão apresentando ganhos nesta semana. O otimismo em relação à China também contribui para o cenário positivo, permitindo que os mercados minimizem os eventuais questionamentos em torno das declarações de Powell.
No âmbito internacional, a agenda inclui os dados do PIB do segundo trimestre dos EUA e o PCE, a métrica preferida pelo Fed para medir a inflação, além dos números do payroll na sexta-feira, referentes ao mercado de trabalho norte-americano.
No cenário doméstico, o foco se volta para Brasília, onde uma agenda movimentada pode ter um impacto significativo na arrecadação, após a frustração gerada pelos resultados do IPCA-15 na semana anterior.
A ver…
00:47 — Caminhos de Poder: as decisões que afetam a arrecadação
No Brasil, os investidores mal tiveram a oportunidade de celebrar o alívio proporcionado pela aprovação do arcabouço fiscal na semana passada. Isso ocorreu porque o IPCA-15, que veio acima das expectativas, causou inquietação entre os agentes financeiros, enfraquecendo a possibilidade de um aumento no ritmo de redução da taxa Selic já em 2023.
Paralelamente, em Brasília, a atenção volta-se para as decisões que serão tomadas nesta semana (o estresse fiscal está influenciando a curva de juros e, por conseguinte, as ações).
Na agenda, contamos com a possível votação da desoneração da folha de pagamento (impacto potencial negativo de mais de R$ 9 bilhões) e o projeto do voto de qualidade do Carf (com possibilidade de impulsionar a arrecadação em mais de R$ 10 bilhões).
Enquanto a primeira é vista como uma possível derrota do governo, a segunda é uma das principais medidas para zerar o déficit primário do governo federal em 2024 (ninguém acredita nisso).
Seja como for, a convergência fiscal pode contribuir para uma queda mais consistente dos juros e uma manutenção em nível baixo por mais tempo.
A Reforma Ministerial deve ser concretizada, o que oferecerá ao governo a chance de conquistar ao menos uma vitória nos próximos dias.
No entanto, o percurso não é desprovido de desafios. A nomeação de Carlos Lupi (Ministro da Previdência) e Anielle Franco (Ministra da Igualdade Racial) para o conselho da Tupy parece estar interligada com a reorganização de cargos proposta por Lula (ambos os cargos provavelmente serão substituídos na esteira dessa dança de cadeiras ou terão suas pastas desnutridas). As cenas dos próximos capítulos serão interessantes.
01:51 — Uma fala dura, mas já antecipada
Nos Estados Unidos, durante o Simpósio de Jackson Hole, o encontro anual que reúne banqueiros centrais de todo o mundo em Wyoming, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, afirmou que a inflação continua substancialmente alta e que ele estaria disposto a elevar ainda mais as taxas de juros, se necessário, ou mantê-las em níveis elevados por um período prolongado.
Por que o mercado de ações não experimentou uma queda abrupta, como ocorreu após o discurso igualmente contundente de Powell no ano anterior? Uma razão para isso pode ser o fato de que a inflação diminuiu significativamente desde então, algo que Powell reconheceu em seu discurso.
Além disso, ele destacou os riscos associados a uma atuação excessiva ou insuficiente por parte do Fed.
Em resumo, o tom da fala de Powell foi "hawkish" (favorável a políticas contracionistas), sim, mas não trouxe revelações surpreendentes.
A semana que se inicia desempenha um papel crucial para solidificar essa percepção, com um forte foco nas divulgações econômicas.
Estaremos atentos ao lançamento do indicador de inflação preferido pelo Fed e ao relatório de empregos de agosto.
Surpresas negativas nos números podem impulsionar ainda mais o mercado. Por outro lado, se os dados reforçarem a força da economia, isso poderá esfriar um pouco o otimismo.
02:42 — Um movimento na Europa
A renomada empresa de semicondutores Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), a maior fabricante de semicondutores do mundo, concordou em estabelecer uma fábrica de chips no leste da Alemanha, num investimento conjunto de US$ 11 bilhões com três outros fabricantes de chips.
A TSMC será detentora de 70% das instalações situadas em Dresden, que se dedicarão à produção de chips para os setores automotivo e industrial.
Este movimento representa um passo inicial da TSMC para consolidar sua presença significativa na Europa, a fim de mitigar os riscos decorrentes da crescente tensão entre os Estados Unidos e a China.
A produção da fábrica está programada para ter início em 2027. As outras três empresas envolvidas - Infineon, NXP e Bosch - terão cada uma participação acionária de 10%, sujeita à aprovação das autoridades regulatórias.
Essa iniciativa de expansão geográfica da TSMC, que inclui a construção de fábricas na Europa e nos Estados Unidos, reflete os esforços do mundo ocidental para minimizar a probabilidade de um possível conflito relativo a uma eventual invasão chinesa da ilha de Taiwan.
03:34 — Teremos mais flexibilização…
O presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, disse que o ritmo da atividade econômica na China tem sido uma decepção que pode obscurecer as perspectivas econômicas do Japão.
Ueda fez o discurso durante uma sessão sobre globalização realizada no sábado no Simpósio Jackson Hole, em Wyoming. O problema subjacente parece ser o ajustamento no sector imobiliário e as suas repercussões para o resto da economia.
Ueda também disse que os fluxos comerciais e de investimento estrangeiro sugerem que as empresas japonesas estão a diversificar a produção da China para o resto da Ásia e os Estados Unidos, em parte em resposta aos riscos geopolíticos.
Os efeitos a longo prazo dos fatores geopolíticos sobre a economia japonesa são, sem surpresa, muito incertos, dado que a guerra comercial entre as principais economias avançadas e a China, principalmente no setor dos semicondutores, é um grande risco para a cadeia de suprimentos globais.
Os bancos centrais terão dificuldade em ter em conta estas forças ao tomarem decisões. Por isso, na cabeça dele, o movimento correto é o de reforçar o atual quadro de flexibilização monetária, bem único hoje entre as principais economias de todo mundo (todos subiram juros, menos o Japão).
04:23 — Qual o tamanhão do apoio?
O colapso de empresas de incorporação imobiliária, como a Evergrande, que buscou proteção contra credores nos EUA, evidencia a urgência de uma intervenção governamental na China para implementar um plano de resgate capaz de absorver aproximadamente US$ 1 trilhão em ativos imobiliários problemáticos.
Esse movimento ecoaria a abordagem adotada pelo Federal Reserve, que assumiu a responsabilidade por bilhões em hipotecas e ativos tóxicos após a crise global de 2007 e 2008.
Outra corporação do setor, a Country Garden, também se encontra sob intenso escrutínio após não honrar um pagamento de cupom no valor de US$ 22,5 milhões.
A maior preocupação no momento é que o governo chinês esteja contando com um retorno "orgânico" da confiança ao mercado imobiliário, mas essa perspectiva parece pouco provável.
O recente corte de juros implementado pelo Banco Popular da China (PBoC) não parece suficiente para restaurar a confiança ou mitigar os desafios enfrentados pelo setor.
Apesar das dificuldades associadas à implementação de um amplo plano de estímulo, a China poderia adotar uma abordagem semelhante à de "fazer o que for necessário" inspirada no italiano Mario Draghi, que liderou o Banco Central Europeu (BCE) durante a tumultuada década de 2010.
Contudo, é crucial destacar que, após a crise do subprime, os governos ocidentais levaram quase uma década para revitalizar suas economias. Ademais, é preciso reconhecer que estímulos excessivos na China poderiam inflacionar o mundo, representando um risco significativo atualmente.