PRELÚDIO DOS PREÇOS: IPCA-15 AQUECE A EXPECTATIVA INFLACIONÁRIA
No cenário internacional, os mercados asiáticos encerraram majoritariamente em baixa nesta sexta-feira, seguindo as tendências geralmente negativas observadas em Wall Street durante a noite.
Essa tendência é amplamente atribuída às preocupações renovadas acerca de uma possível desaceleração econômica na China, decorrente dos desafios presentes no mercado imobiliário chinês.
Os investidores permanecem em estado de cautela, aguardando atentamente o pronunciamento que será feito pelo presidente do Federal Reserve dos Estados Unidos, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, ao final do dia.
Eles esperam obter mais insights acerca da situação econômica e das perspectivas relacionadas às taxas de juros.
Em contrapartida, os mercados europeus e os futuros norte-americanos apresentam um movimento ascendente na manhã atual.
Na programação do dia, além do discurso de Powell, que se prevê não descartará a possibilidade de um novo aumento das taxas de juros do Fed ainda este ano, há também a divulgação do índice alemão de sentimento empresarial.
Além disso, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, também está agendada para discursar em Wyoming.
No âmbito das commodities, merece destaque o petróleo, que apresenta uma valorização nesta manhã e volta a se aproximar da marca de US$ 85 por barril no contrato brent.
A ver…
00:48 — Como virá essa prévia?
No Brasil, as atenções estarão voltadas para o IPCA-15 de agosto, que é a prévia da inflação oficial.
O impacto do substancial reajuste nos preços dos combustíveis promovido pela Petrobras recentemente já deve começar a ser refletido nos números preliminares divulgados hoje, contribuindo com um acréscimo de 0,4 ponto percentual até setembro.
Qualquer resultado inesperado poderá influenciar a trajetória da taxa Selic (taxa básica de juros), onde dados acima do esperado podem diminuir a probabilidade de uma aceleração nas reduções de 75 pontos-base ao longo de 2023, enquanto resultados abaixo fortaleceriam essa possibilidade.
Além do índice geral, será crucial monitorar os detalhes internos dos dados, a fim de avaliar a qualidade da evolução da inflação.
Enquanto isso, em Brasília, as atenções se voltam novamente para a execução do plano econômico. O líder do governo expressa a crença em mais de R$ 200 bilhões em arrecadação adicional com as próximas medidas fiscais.
Tal declaração gerou surpresa e ceticismo, dado que poucos acreditam que o governo será capaz de zerar o déficit público até 2024.
A incerteza reside na distância entre as metas e a implementação prática. No entanto, é notório que a busca por recursos extras, que nem mesmo chegaram a R$ 100 bilhões, levanta questionamentos sobre a viabilidade de alcançar a cifra de R$ 200 bilhões.
Esse é um aspecto a ser acompanhado com atenção nos próximos meses.
01:53 — Um vislumbre do mercado de carbono
Enquanto o grupo BRICS amplia sua abrangência ao convidar mais seis países para se juntarem às suas discussões, o Brasil direciona seu foco para a questão do mercado de carbono.
O governo está buscando estabelecer um limite para as emissões de carbono de grandes empresas poluidoras, como parte de uma iniciativa de transição verde destinada a impulsionar o país em direção à neutralidade de CO² até 2050, seguindo um modelo semelhante ao adotado na Europa.
Esse projeto abrange a implementação de um mercado de carbono regulado, além de medidas para gradualmente eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis e incentivar a adoção de veículos elétricos no transporte público.
A criação do mercado regulado de carbono impactará aproximadamente 5 mil empresas que emitem anualmente mais de 25 mil toneladas de CO² equivalente na atmosfera.
Segmentos como siderurgia, indústria química, fabricantes de cimento e alumínio estão entre os que provavelmente sentirão os efeitos mais imediatos dessa iniciativa.
02:30 — O que você tem a nos dizer, Powell?
Nos Estados Unidos, após um início animador, o mercado rapidamente deixou para trás o impacto impressionante dos resultados da Nvidia (a empresa está experimentando uma demanda substancial e acelerada por seus chips especializados em inteligência artificial, que chegam a custar até US$ 40 mil cada).
A reviravolta ocorreu devido à ansiedade do mercado em relação ao pronunciamento do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no Simpósio Anual de Política Econômica do Fed de Kansas City, em Jackson Hole.
Tradicionalmente, o encontro de Jackson Hole tem sido palco para que os formuladores de políticas apresentem considerações de longo prazo sobre o quadro político.
Powell não é o principal protagonista das discussões intelectuais no Fed e, por isso, é mais provável que seu discurso tenha um enfoque cíclico e conjuntural.
Recentemente, algumas declarações de outros membros do Fed chamaram a atenção para a necessidade de manter as taxas de juros elevadas por mais tempo, e não se pode descartar a possibilidade de novos aumentos.
Até recentemente, a maioria dos participantes do mercado acreditava que o Fed havia concluído seu ciclo de aumento da taxa de juros de referência, que agora está no nível mais alto em 22 anos.
No entanto, os indícios de um mercado de trabalho ajustado e de gastos robustos dos consumidores levaram alguns operadores a ponderar sobre a probabilidade de novos apertos monetários neste outono. Resta observar se Powell fornecerá alguma orientação adicional durante seu discurso.
03:27 — Problemas chineses
Havia grande expectativa de uma robusta recuperação na China após a segunda maior economia do mundo ter abandonado sua política de "zero Covid" neste ano.
Após anos de restrições, muitos imaginavam que os consumidores chineses voltariam a gastar vigorosamente. No entanto, a realidade tem sido diferente. O processo de reabertura do país teve um começo desfavorável e, desde então, a situação apenas se agravou.
O crescimento econômico tem sido moderado (o PIB da China desacelerou no segundo trimestre, após já apresentar um ritmo modesto no primeiro trimestre), o desemprego encontra-se em patamares elevados (os jovens entre 16 e 24 anos enfrentam uma taxa de desemprego acima de 20%) e as exportações estão em declínio (no mês passado, as exportações chinesas sofreram a maior queda desde o início de 2020).
Você se lembra quando os Estados Unidos tentaram revitalizar a economia por meio de trilhões de dólares em estímulos e taxas de juros baixas? O esforço foi bem-sucedido até certo ponto, mas acabou gerando pressão excessiva na demanda dos consumidores, junto com um aumento inflacionário.
A China também tem buscado estimular a economia, mas de maneira surpreendente, tem enfrentado uma situação de deflação recentemente, ou seja, uma redução de preços.
Caso os consumidores comecem a antecipar quedas de preços, isso poderá agravar ainda mais a demanda. A deflação é um sinal preocupante para a economia global.
O dilema reside no fato de que, enquanto o mundo espera que a China adote estímulos para evitar uma recessão em sua imensa economia, também teme que um excesso dessas medidas possa inflar a economia global, algo altamente indesejado.
Encontrar o ponto de equilíbrio entre estímulos efetivos e contenção da inflação é um desafio complexo que o governo chinês precisará enfrentar nos próximos meses.
04:37 — Uma OTAN do Pacífico?
Os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul anunciaram seu compromisso em fortalecer a região do Indo-Pacífico, expressando preocupações sobre a crescente presença militar marítima da China e buscando reduzir a dependência energética da Rússia.
As informações vieram à tona após uma reunião entre o presidente americano, Joe Biden, o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, realizada em Camp David.
Esses países manifestaram críticas à postura assertiva do governo chinês em suas atividades no Mar do Sul da China, as quais eles consideram ilegais.
Entre essas atividades estão a militarização da região, o uso perigoso da guarda costeira e embarcações de milícia marítima, além de práticas de pesca não regulamentadas.
Contudo, durante o encontro, os líderes também reiteraram suas posições em relação a Taiwan e enfatizaram a importância de uma solução pacífica para as questões relacionadas ao estreito de Taiwan.
Os três países também reafirmaram o compromisso de buscar a completa desnuclearização da Coreia do Norte, em conformidade com as resoluções das Nações Unidas, e expressaram preocupações diante das atividades cibernéticas provenientes desse país.
Esses desenvolvimentos sugerem a possibilidade da formação de uma nova aliança similar à OTAN na região do Pacífico, representando uma potencial resposta coletiva a desafios e ameaças emergentes.