SERÁ O SUFICIENTE PARA DERRUBAR OS JUROS?
Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta quinta-feira, apesar das sugestões mistas dos mercados globais durante o pregão de ontem.
Os investidores estão marginalmente mais otimistas de que o Fed dos EUA diminuirá o ritmo dos aumentos das taxas de juros, citando a desaceleração do crescimento salarial e da inflação, bem como os comentários recentes das autoridades do Federal Reserve, mas o jogo está em aberto.
Por enquanto os mercados europeus e os futuros americanos estão em alta nesta manhã, porém tudo pode mudar com o depoimento de Jerome Powell, o presidente do Fed, no Senado dos EUA, onde ele apresentará o relatório de política monetária ao Comitê Bancário.
O evento de hoje deve trabalhar as expectativas para os dados de payroll, na sexta-feira, e de inflação, na semana que vem. Enquanto isso, o Brasil sofre com seus próprios demônios, com investidores esperando pelo novo arcabouço fiscal.
A ver…
00:45 — E a Reforma Tributária?
Por aqui, há uma esperança de que o novo arcabouço fiscal, ainda que menos duro que o teto de gastos, possa servir de sustentação da relação entre Poder Executivo e Banco Central. A regra já está nas mãos do resto da equipe econômica e deverá ser apresentada formalmente nos próximos dias, após Lula bater o martelo.
Haddad procura com o movimento criar as condições necessárias para que os juros possam cair, mas não necessariamente será o caso, como sabemos. A única alternativa seria que Roberto Campos Neto, com as iniciativas em mãos (pacote fiscal, reoneração e novo arcabouço), pudesse sinalizar redução de juros por conta da questão do crédito.
Enquanto isso, o Congresso já começa a olhar para a Reforma Tributária, também um dos vetores positivos do ano, sem dúvida. Sabemos que há um ambiente positivo hoje entre as lideranças legislativas para aprovar uma reforma, criando uma organização econômica aprimorada e aprimorando o pacto federativo.
Neste contexto, devemos ter espaço para que o Congresso vote o texto ainda no semestre atual, contando com uma regra de transição para IVA estadual que deverá durar 6 anos. Todos os detalhes ainda não são conhecidos, mas as discussões parecem promissoras. Definitivamente, não será a reforma tributária ideal, até porque ela não existe, mas já é alguma coisa.
01:49 — A sabatina
Nos EUA, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, passará os próximos dois dias testemunhando sobre o seu "Relatório Semestral de Política Monetária" no Capitólio. A audiência de hoje, em frente ao Comitê Bancário do Senado, começa às 12h (horário de Brasília) e deverá ser um vetor importante de preço nos mercados internacionais a depender do que for indicado pela autoridade.
Powell deverá repetir a mensagem que tem transmitido desde a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto de fevereiro, sobre dependência de dados e mais trabalho a fazer até que a inflação seja controlada. A ideia será a de mostrar para o Congresso que ele levará as taxas tão alto quanto necessário para garantir que a inflação esteja pelo menos em uma trajetória de volta à estabilidade de preços.
Complementarmente, teremos mais uma sabatina com Powell amanhã, os dados de emprego na sexta-feira e o número da inflação de fevereiro na semana que vem, que o índice poderá voltar para baixo de 6% na comparação anual.
Além disso, temos hoje ainda os dados de crédito do Fed, que ganham contornos secundários por conta de Powell — hoje, o mercado precifica uma taxa terminal entre 5,25% e 5,50%, sendo que o primeiro corte virá apenas em 2024.
02:51 — Atividade alemã e o acordo com o Mercosul
Na Europa, os dados de pedidos às fábricas alemãs de janeiro aumentaram, contando ainda com uma revisão dos dados do mês anterior para cima. A noção de uma atividade mais robusta nas economias centrais europeias anima os investidores, que passam a ver o risco de uma recessão muito grave como mais distante.
Enquanto isso, outro assunto europeu, que inclusive nos interessa, é a retomada das negociações para efetivação do acordo comercial bilateral entre o Mercosul e a União Europeia.
As reuniões voltam a acontecer nos próximos dias e semanas, com o Brasil retomando o protagonismo nas tratativas. Um encontro entre negociadores dos dois blocos ocorrerá em Buenos Aires hoje e poderá dar alguns sinais de próximos passos, já que se trata da primeira aproximação concreta dos blocos neste ano.
Depois de anos no forno, o caminhar do acordo no longo prazo será benéfico para as duas regiões, podendo elevar o PIB potencial dos países envolvidos, especialmente o do Brasil.
03:39 — Surpresa chinesa
Hoje tivemos um dado chinês com impacto considerável sobre as commodities. A balança comercial da China no primeiro bimestre foi divulgada e mostrou uma queda anualizada de 6,8% para as exportações, menor do que o esperado (-9%), e um declínio de 10% nas importações, bem pior do que o esperado (-5%). Como consequência, o superávit de janeiro a fevereiro alcançou US$ 117 bilhões, superando as estimativas de US$ 84 bilhões.
A ideia da apresentação do dado bimestral de início de ano é eliminar distorções do feriado do Ano Novo Lunar, realizado em janeiro. O número, porém, nos mostra que a demanda por bens nas economias desenvolvidas ainda é bastante fraca (como a China é a maior montadora de produtos manufaturados do mundo, queda nas exportações é um sinal de atividade global). A situação fragiliza as commodities hoje, que não conseguem ter uma boa manhã, podendo impactar o dia no Brasil.
04:24 — O alerta de Taiwan
Como falamos ontem, os chineses esperam aumentar ainda mais do que no ano passado o orçamento militar. Foi o suficiente para o ministro da Defesa de Taiwan se pronunciar, alertando que a China pode fazer uso da força para tomar o controle da ilha. Sabemos, porém, que os chineses não conseguem hoje dominar e manter domínio sobre Taiwan, podendo resultar em um outro fracasso oriental, como o russo.
Sim, o governo chinês aumentou a pressão recentemente, realizando mais exercícios militares em torno da ilha, especialmente depois da visita da então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi.
Contudo, os EUA trabalham com a estimativa de que, em termos militares pelo menos, a China só será capaz de tomar e manter o território taiwanês a partir de 2027, com risco crescente até lá. Resta a diplomacia prevalecer entre os dois países, de modo a evitar uma guerra entre as duas potências.