E LÁ DE VOLTA OUTRA VEZ: PETRÓLEO A US$ 90 POR BARRIL
A dinâmica internacional teve um impacto significativo no sentimento dos mercados entre ontem e hoje. Isso não foi apenas devido aos dados de atividade econômica mais fracos na China e na Europa, mas também à persistente alta no preço do barril de petróleo.
O contrato do petróleo Brent atingiu a marca de US$ 90 por barril, gerando uma perspectiva mais negativa nos mercados globais.
Essa alta renovou preocupações sobre a resiliência da inflação, o que, por sua vez, limitou a queda das taxas de juros globais.
Na manhã atual, vemos os mercados europeus e os futuros nos Estados Unidos novamente em queda, alinhados com o desempenho negativo observado na Ásia (onde apenas o mercado japonês registrou algum ganho).
No calendário econômico, hoje estão programados mais índices de atividade, desta vez dos Estados Unidos, além de discursos de algumas autoridades monetárias.
Estes eventos ganham destaque após a alta no preço do petróleo. Também é importante mencionar o Livro Bege do Federal Reserve, que reúne os principais indicadores econômicos das diversas regiões sob a jurisdição do Fed.
A ver…
00:52 — Avançando em algumas discussões
No cenário doméstico, os investidores se preparam para enfrentar outro dia de aversão ao risco global, com a particularidade de ser a véspera do feriado de 7 de setembro, o que acrescenta uma dose extra de cautela.
Ontem, finalmente, houve progresso em algumas questões, incluindo a aprovação do programa "Desenrola".
Este programa veio acompanhado de uma cláusula que estabelece um teto de 100% para as taxas de juros no crédito rotativo do cartão (os bancos têm até 90 dias para apresentar suas propostas alternativas de redução das taxas do crédito rotativo e obter a aprovação do Conselho Monetário Nacional - CMN).
É importante notar que a imposição de um limite de juros, de natureza puramente artificial, pode criar algumas distorções nos preços.
No entanto, os avanços não se limitaram a isso. Também foi aprovado o requerimento de urgência para a votação do projeto de compensação do ICMS, que trata do acordo entre a União e os Estados para compensar as perdas de R$ 27 bilhões na arrecadação desse imposto em 2022.
Se aprovado, esse projeto representaria um importante fator positivo para as perspectivas do governo.
Na agenda econômica do dia, estamos atentos aos dados de inflação, como o IGP-DI de agosto, que se espera que acelere em 0,14% no mês (valores acima das expectativas podem gerar preocupações adicionais).
01:48 — Uma economia sem recessão, mas ainda com inflação
Nos Estados Unidos, observamos cada vez mais investidores adiando ou diluindo a probabilidade de uma recessão iminente.
Agora, importantes instituições do setor financeiro americano começaram a discutir a possibilidade de uma desaceleração econômica superficial e de curta duração, o que reduz as chances de uma recessão concreta.
Isso, por sua vez, está levando a uma melhoria nas projeções de lucros corporativos. Portanto, uma economia mais robusta implica em melhores resultados para uma série de empresas, embora também venha com o risco de que o Federal Reserve tenha que assumir uma postura mais ativa.
Isso se reflete claramente no recente aumento nas taxas de juros nos Estados Unidos. Por exemplo, o rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos subiu cerca de 0,1 ponto percentual hoje, atingindo 4,3%, seu patamar mais alto em algumas semanas, enquanto os títulos de 2 anos voltaram a 5%.
No calendário econômico, será de grande importância acompanhar a balança comercial dos EUA em julho, o índice de gerentes de compras de serviços de agosto e o Livro Bege do Federal Reserve (será a sexta vez que teremos acesso às perspectivas econômicas das diferentes regiões do Fed neste ano).
Surpresas nesses indicadores podem afetar os mercados.
02:36 — Tem espaço para subir mais?
O petróleo Brent alcançou um valor superior a 90 dólares por barril pela primeira vez desde novembro, à medida que os principais produtores da OPEP+ decidiram estender seus cortes na produção até o final do ano.
Esta medida, que traz consigo o risco de inflação adicional para a economia global, inclui a Arábia Saudita mantendo seu corte unilateral na produção de 1 milhão de barris por dia até dezembro, e a Rússia mantendo sua redução nas exportações de 300 mil barris por dia.
O aumento nos preços provavelmente causará preocupações nos Estados Unidos, onde o governo Biden está tentando evitar que o preço da gasolina alcance 4 dólares por galão.
Atualmente, os preços estão no patamar sazonal mais alto em mais de uma década. Um aumento adicional na inflação poderia pressionar os consumidores e dificultar os esforços dos bancos centrais em todo o mundo para conter a inflação.
Uma desaceleração mais lenta da inflação pode ser motivo de preocupação para os mercados, que estão atentos às mudanças nas políticas monetárias do Federal Reserve.
As evidências anteriores não fornecem muita confiança de que isso ocorrerá, o que sugere que as taxas de juros podem permanecer elevadas por um período prolongado.
03:27 — Nem tão grande assim
A China não parece mais próxima de superar os Estados Unidos como a maior economia do mundo no futuro próximo, e em algumas análises, pode até não conseguir fazê-lo de forma consistente, uma vez que a queda na confiança no país se aprofunda.
Estudos recentes indicam que agora é provável que tenhamos que esperar até meados da década de 2040 para que o PIB da China ultrapasse o dos Estados Unidos.
Essas considerações são contextualizadas pela tentativa de estabelecer uma nova ordem mundial. A Índia também desempenha um papel relevante nesse cenário (até mesmo considerando a possibilidade de mudar seu nome).
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, dedicou a última década a transformar a paisagem política da Índia e agora busca consolidar a presença do país no cenário global.
Sua visão coloca a Índia como um ponto central entre Washington e Pequim, mantendo sua autonomia para buscar seus próprios interesses nacionais, fortalecer sua economia e reivindicar um papel maior no cenário mundial, sem estar vinculada a nenhum dos dois gigantes.
04:14 — O retorno das naus… Ou quase isso.
O ano de 2023 marca o início da disseminação de uma abordagem inovadora para reduzir a pegada de carbono na navegação comercial.
Recentemente, um navio de carga adaptado com velas de asas sólidas empreendeu uma viagem experimental a serviço da gigante alimentar Cargill, percorrendo uma rota com baixo consumo de combustível da China ao Brasil.
Essa tecnologia, conhecida como WindWings, foi desenvolvida por uma empresa do Reino Unido fundada por especialistas em corridas de iates, a BAR Technologies.
O funcionamento é relativamente simples: duas velas dobráveis feitas de um material semelhante ao das turbinas eólicas são instaladas no topo do navio de carga a granel e ficam posicionadas a uma altura de 123 pés acima do convés quando estão em uso.
Essas velas permitem que o navio aproveite a força do vento marítimo como fonte de propulsão, reduzindo o consumo de combustíveis fósseis em até 20%.
Esse conceito pode representar uma mudança significativa para a indústria naval, que historicamente depende principalmente de navios movidos a petróleo e contribui com cerca de 3% das emissões globais de carbono.
O fato de que navios já existentes podem ser adaptados para utilizar essa tecnologia à vela é particularmente promissor para tornar mais ambientalmente sustentáveis os navios mais antigos, que consomem grandes quantidades de combustíveis fósseis.
No entanto, a transição deve ser gradual, pois a Cargill estima que levará pelo menos sete a dez anos para que as economias de combustível compensem os custos iniciais de instalação das velas.