FINALMENTE, A FORMALIZAÇÃO
Lá fora, a maioria dos mercados de ações asiáticos subiu nesta sexta-feira (14), com a inflação mais branda nos EUA estimulando expectativas crescentes de que os bancos centrais globais evitarão um aperto adicional na política monetária, embora os temores de desaceleração do crescimento econômico mantenham os ganhos limitados.
Reforçando essa ideia, a Autoridade Monetária de Cingapura tornou-se o último de uma lista dos bancos centrais a interromper os aumentos nas taxas de juros, sendo que a mudança ocorre depois que os dados mostraram que a economia de Cingapura desacelerou mais do que o esperado no primeiro trimestre de 2023.
Em outras palavras, podemos ver o mesmo acontecendo no Ocidente em breve. Ontem, mais dados nos EUA mostraram que a inflação de preços ao produtor diminuiu ainda mais em março (os dados, que vieram um dia depois de uma queda no índice de preços ao consumidor, aumentaram as esperanças de que uma pausa no ciclo de alta de juros do Federal Reserve fosse iminente) — podemos ter mais uma elevação de 25 pontos-base por lá e nada mais.
Na Europa, os mercados amanhecem em alta, enquanto os futuros americanos corrigem a alta de ontem. O grande tema do dia lá fora é o início da temporada de resultados nos EUA com os grandes bancos.
A ver…
00:59 — O texto formal do arcabouço fiscal finalmente será apresentado
No Brasil, enquanto a agenda de indicadores sustenta a apresentação, logo pela manhã, da pesquisa de serviços do IBGE em janeiro, os investidores se preocupam mesmo com o encaminhamento formal ao Congresso do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2024 e o novo marco fiscal.
Sim, a reação foi mista entre os economistas, mas pelo menos diminui as incertezas, o que pode ser verificado na queda do dólar, alta do Ibovespa e devolução dos prêmios na curva de juros.
O entendimento é de que, mesmo que haja rusgas com a ala política, o texto não deve enfrentar dificuldades no Congresso, nem sofrer grandes alterações, uma vez que a proposta já foi amplamente discutida com os presidentes de ambas as Casas e com líderes partidários.
Tudo deverá depender da capacidade de aumentar a arrecadação. Por isso, precisamos ficar atentos às medidas para gerar receita que a Fazenda adotará ao longo dos próximos meses.
01:42 — Dados de inflação fracos, mas que soam bem
As coisas vão bem nos EUA, com as ações subindo nesta quinta-feira, liderada por nomes de tecnologia, os quais foram ajudados por alguns dados encorajadores da inflação.
Assim, o índice Nasdaq encerrou a sequência de três dias de perdas e o S&P 500 encontrou seu maior patamar desde 15 de fevereiro, enquanto o Dow Jones Industrial Average já registra ganhos em 14 dos últimos 18 pregões.
Uma notícia boa foi o mais recente índice de preços ao produtor divulgado na manhã de quinta-feira. Ele mostrou que os custos das empresas subiram 2,7% na comparação anual, abaixo das expectativas de 3%. No mês, o índice caiu 0,5%, a maior queda em três anos.
Em outras palavras, o índice mede a mudança nos preços de venda dos produtores (uma desaceleração no aumento dos custos das empresas pode equivaler a uma recuperação das margens de lucro, o que sustentaria os ganhos das ações).
Os dados aos produtores seguem a leitura mais fria do que o esperado de quarta-feira sobre os preços ao consumidor. Assim, os investidores esperam que a desaceleração da inflação leve o Federal Reserve a parar de aumentar as taxas de juros, que visam reduzir a inflação ao reduzir a demanda econômica.
O Comitê Federal de Mercado Aberto, que define a política de juros, deve se reunir no início de maio para outro aumento de 25 pontos-base. Poderá ser a última alta neste ciclo de aperto monetário.
02:48 — E a temporada de resultados
Enquanto os investidores ainda repercutem a taxa de inflação dos preços ao produtor dos EUA de ontem, que desacelerou, nos voltamos para temporada de resultados do primeiro trimestre, que começa hoje, com Citigroup, JPMorgan Chase e Wells Fargo reportando resultados antes da abertura do mercado.
O mercado olhará com lupa os balanços e as carteiras de crédito dos bancos, na sequência de todas as preocupações do mês passado. Por isso, desta vez, mais do que de costume, o que os bancos dizem será um dos melhores indicadores econômicos prospectivos disponíveis.
Os bancos já estavam apertando as condições de empréstimo em janeiro, antes da turbulência que derrubou o Silicon Valley Bank. Com isso, as condições só podem ter piorado desde o susto do mercado no mês passado. A questão é quanto. Seria equivalente a um aumento de 50 pontos do Fed ou até mais?
A incerteza é suficiente para levar o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, a dizer que agora é hora de cautela, sugerindo que ele é a favor da pausa nos aumentos das taxas. Os executivos dos bancos podem adicionar cor quando relatarem os resultados.
03:40 — Uma alta nem tão verdadeira nos EUA
Agora, depois que o Nasdaq 100 entrou no que é amplamente chamado de território de mercado em alta recentemente, os investidores alegam que apenas um punhado de ações impulsionou esse rali. E isso é verdade, o domínio de alguns mega-caps neste gráfico notável.
Para se ter uma ideia, as 20 maiores ações do S&P 500 adicionaram cerca de US$ 2 trilhões em capitalização de mercado até agora este ano; os outros 480 somaram US$ 170 bilhões. Isso nos faz questionar o uso de índices que se tornaram tão dominados por alguns gigantes.
Apenas sete empresas representam metade do peso do Nasdaq 100 (com 100 membros), com as duas principais ações sozinhas, Microsoft e Apple, perfazendo 25%.
Ao mesmo tempo, usando outro indicador de referência, o S&P 500 registrou um retorno total negativo de 18,13% em 2022, sendo que as 20 principais ações contribuíram com 10,26 pontos percentuais para isso, ou mais da metade da queda. Em outras palavras, a alta até aqui verificada lá fora, em um ambiente tão conturbado, nos parece um pouco mentirosa.
04:29 — Tensões geopolíticas ameaçam ainda mais a estabilidade bancária
Os laços tensos entre a China e os Estados Unidos e a invasão da Ucrânia pela Rússia levaram a um aumento do isolamento financeiro nos últimos anos. Essas tensões desaceleraram os investimentos internacionais e prejudicaram os sistemas de pagamento e os preços dos ativos, minando a estabilidade financeira global.
Foi isso que defendeu o Fundo Monetário Internacional (FMI) em um novo relatório publicado recentemente. Esse movimento, por sua vez, alimenta a instabilidade ao aumentar os custos de financiamento dos bancos, diminuindo sua lucratividade e reduzindo seus empréstimos ao setor privado. O relatório vem quando as linhas de crédito ficam mais apertadas após a crise dos bancos regionais.
As crescentes tensões geopolíticas se somam a isso. A imposição de restrições financeiras, o aumento da incerteza e as saídas internacionais de crédito e investimento desencadeadas por uma escalada de tensões podem aumentar os riscos de rolagem da dívida dos bancos e os custos de financiamento.
Isso prejudica ainda mais uma realidade na qual caminhamos invariavelmente para uma recessão em muitos países, inclusive os de economias centrais.