VEM MAIS INFLAÇÃO AÍ, GENTE
Lá fora, as ações asiáticas fecharam predominantemente em alta nesta quarta-feira, apesar de algumas quedas importantes, enquanto os mercados aguardam pelos principais dados de inflação que provavelmente devem influenciar a posição do Federal Reserve sobre as taxas de juros.
Em Hong Kong, as negociações foram afetadas pelas perdas acentuadas da Tencent — o principal acionista disse que depositou 96 milhões de ações da Tencent, no valor de cerca de US$ 4,4 bilhões, no Sistema Central de Compensação e Liquidação de Hong Kong nesta semana (tal movimento geralmente indica uma venda de ações).
As perdas na Tencent se espalharam para outras ações de tecnologia, com as grandes Alibaba e Baidu perdendo cerca de 2% cada. Para piorar, a montadora de carros elétricos BYD caiu quase 2% depois que a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, reduziu ainda mais sua participação na empresa.
O humor mais negativo, porém, não se espalhou para a Europa, que consegue verificar uma alta nesta manhã em seus mercados, em linha com o que também observamos nos EUA.
O evento mais importante do dia fica por conta da inflação americana, que pode animar os mercados por lá a depender do resultado, assim como aconteceu ontem no Brasil com o IPCA.
A ver…
00:57 — Bastou o Lula viajar…
Por aqui, tivemos ontem uma boa notícia para os ativos locais com o índice de inflação oficial, que não só mostrou desaceleração relevante, como também sinalizações de uma composição menos maligna frente ao que observamos ao longo dos últimos meses.
O IPCA desacelerou para 0,71% em março, registrando queda no acumulado de 12 meses de 5,60% para 4,65%. Para melhorar ainda mais, os núcleos e a inflação de serviços também cederam, o que é importante para a chance de uma queda dos juros em breve, que poderia servir como gatilho para as ações.
O Ibovespa avançou, enquanto o dólar e os juros caíram. Sinal de propensão ao risco. Depois de altas relevantes como a de ontem, correções fazem parte, mas temos um caminho aqui para otimismo. Depende do contexto internacional também, com a inflação americana e a viagem à China no centro do dia de hoje.
Pelo menos algumas sinalizações importantes para a ancoragem das expectativas foram dadas, como a nota de Haddad ao FMI prometendo manter a sustentabilidade fiscal e da dívida. O texto do arcabouço deve chegar na sexta, podendo ser mais fiscalista do que esperávamos.
01:49 — Um negócio da China
O presidente Lula está na China para uma cúpula de quatro dias. Ele desembarca em Xangai, para a cerimônia de posse de Dilma como presidente do Banco dos BRICS, antes de seguir para Pequim, onde se encontrará com o presidente chinês, Xi Jinping.
A comitiva brasileira conta com mais de 250 empresários, dos quais cerca de um terço pertencem ao setor agrícola, e mais de 40 autoridades do governo brasileiro. Teremos muitas reuniões sobre comércio, com convite de Lula ao presidente Xi para visitar o Brasil e ver projetos para os quais o País está buscando investimento chinês.
Desde a última visita de Lula a Pequim, em 2009, a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, fazendo com que a demanda por soja, minério de ferro e petróleo disparasse. Para se ter uma ideia, em 2021, o Brasil era o maior destino da China para investimento estrangeiro direto.
Agora, em seu terceiro mandato, Lula enfrenta um cenário econômico e político difícil, esperando reviver a nossa economia estagnada diversificando as relações comerciais do Brasil com a China. Há espaço para otimismo, principalmente sabendo que pelo menos 20 acordos comerciais devem ser firmados.
02:43 — Os preços aos consumidores
Nos EUA, diante da expectativa pelos dados de inflação ao consumidor de hoje, os índices de ações tiveram outro dia misto ontem. Uma série de discursos de autoridades do Federal Reserve defendeu um aumento de 25 pontos-base na taxa de juros na próxima reunião de política monetária do banco central no início de maio (a probabilidade de tal movimento é de 70% agora).
Essas probabilidades podem mudar depois do relatório de inflação de março de hoje. O mercado espera, em média, que o índice de preços ao consumidor americano suba 5,2% na comparação anual, o que representaria uma desaceleração da alta de 6% verificada em fevereiro.
O núcleo, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, deve subir para 5,6% em março, de 5,5% em fevereiro, o que, por sua vez, é ruim.
Adicionalmente, teremos também as atas da reunião de política monetária do final de março do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). Eventuais surpresas nos dados ou nos documentos terão efeito direto no mercado. Contanto que as atas acalmem o nervosismo atual e a inflação confirme a desaceleração, não temos muitas razões para preocupação. Caso contrário, as coisas podem ficar mais difíceis.
03:38 — O relatório da OPEP+
Um dos focos desta semana também reside nos relatórios mensais do mercado de petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (OPEP+) e da Agência Internacional de Energia (AIE). Ambos os grupos esperam que uma recuperação na China leve a demanda por petróleo a níveis recordes este ano — há expectativa de que os chineses promovam mais estímulos para ajudar a sustentar o crescimento.
Os preços do petróleo sobem nesta manhã de quarta-feira, mantendo-se perto das máximas de um mês, próximo dos US$ 86 por barril, enquanto os investidores aguardam novos dados de inflação dos EUA que serão divulgados durante o dia, com o foco também voltado para um potencial aumento nos estoques de petróleo dos EUA.
A subida desse índice ontem se sucedeu em meio a crescentes esperanças de que o Federal Reserve dos EUA reduza sua postura hawkish, enquanto um recente corte na oferta pela OPEP+ continuou a fornecer suporte.
Ao mesmo tempo, os mercados também permaneceram cautelosos com quaisquer outras interrupções na demanda por petróleo, especialmente devido à desaceleração do crescimento econômico.
04:28 — As estimativas do FMI
Em seu relatório periódico de projeções, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu suas estimativas para o crescimento global, observando que a recente turbulência bancária aumentou a chance de uma desaceleração mais acentuada.
Ao mesmo tempo, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e os funcionários do Federal Reserve minimizaram os temores de uma contração acelerada no mercado de crédito.
Em outras palavras, as novas previsões de crescimento do FMI refletem o impacto da volatilidade no sistema bancário.
Com isso, o relatório indica um cenário mais benigno, em que o crescimento global fique ao redor de 2,8%, e um mais maligno, com crescimento de 2,5% neste ano, o mais fraco desde a recessão global de 2001, além dos espasmos da pandemia em 2020 e da crise global. crise financeira de 2009.
Uma recessão econômica certamente afetaria as pressões inflacionárias. A projeção para o crescimento dos EUA melhorou de 1,4% para 1,6% em 2023 e de 1,0% para 1,1% em 2024.
As estimativas da China não mudaram: 5,2% em 2023, 4,2% em 2024. O Fundo vê Alemanha e Reino Unido em recessão este ano, enquanto no Brasil a estimativa para 2023 caiu de 1,2% para 0,9% e a de 2024 ficou em 1,5%.