A REUNIÃO
Lá fora, os mercados de ações asiáticos encerraram mais um bom dia em alta nesta sexta-feira, apesar das indicações negativas de Wall Street durante o pregão de ontem, com os investidores permanecendo bastante cautelosos depois que dados mostraram um crescimento do emprego privado nos EUA mais forte do que o esperado, o que indicaria uma força contínua no mercado de trabalho americano. Isso, por sua vez, fará com que os juros continuem subindo ao longo de 2023.
Apesar da tensão, os mercados europeus sobem nesta manhã, enquanto investidores digerem o movimento de inflação da Zona do Euro. Os futuros americanos, por outro lado, ainda estão um pouco mais tensionados, esperando mais dados de empregos hoje, desta vez por meio do relatório mais importante, o payroll. O Brasil pode se descolar desse sentimento, uma vez que o fator político tem sido o principal vetor para os ativos locais, o que faz com que os investidores prestem atenção em Brasília hoje.
A ver…
00:48 — Puxão de orelha?
Por aqui, a ideia é que Lula possa, a partir das 9h30, conversar com todos seus ministros na primeira reunião ministerial formal. Não é possível que continuemos vendo um bate cabeça como o que aconteceu no começo dessa semana, principalmente com a fala desastrada e equivocada de Lupi. O pragmatismo lulista deve puxar a orelha de ministros que mantiverem um discurso torto relativamente à vontade do Planalto.
O movimento para alinhar o discurso do novo governo se soma aos discursos de posse de Alckmin e Tebet, que mostraram um tom bem moderado e alinhado com a Fazenda, de modo a serem guardiões da nova regra fiscal a ser desenvolvida nos próximos meses — a posse dos dois acalmou os mercados, assim como a atuação de alguns bombeiros, como Rui Costa e Jean Paul Prates, com discursos mais "market friendly."
01:29 — Dados de emprego
Nos EUA, os principais índices voltaram a ter dificuldades ontem, revertendo os ganhos do dia anterior, em meio às preocupações com a força do mercado de trabalho e o tom da última ata do Federal Reserve. Os dados mais recentes sobre empregos podem forçar o Federal Reserve a ser ainda mais agressivo ao tentar controlar a inflação, deixando as taxas mais altas por mais tempo. Mais dados fortes no mercado de trabalho podem aumentar a chance de mais uma alta de 50 pontos-base em fevereiro.
Por isso, todos os olhos estarão voltados para o relatório de payroll desta sexta-feira. A estimativa consensual é de um aumento de 217,5 mil empregos não agrícolas, após um ganho de 263 mil em novembro. Enquanto isso, a taxa de desemprego é vista como inalterada em um nível historicamente baixo de 3,7%. Por fim, espera-se que o salário médio por hora aumente 5% na comparação anual, após subir 5,1% no mês anterior. Números mais fortes do que o esperado pode provocar novos ajustes no mercado.
02:20 — A primeira vez desde o século 19
O Congresso americano segue sem definição. O republicano da Califórnia, Kevin McCarthy, perdeu a décima primeira votação para se tornar presidente da Câmara na quarta-feira, e a Câmara voltou de um intervalo à noite para adiar até hoje. Ao passar do nono turno, a situação atual superou a crise de 1923, quando a votação também demorou para ser encerrada. Com isso, olhamos agora para 1856, a última vez que foram necessários mais de nove turnos (à época, foram precisos 44 turnos).
Uma luta prolongada pelo cargo significa que os mercados podem ter que se preocupar com a incerteza da política fiscal, uma vez que o teto da dívida pode se tornar um problema nos próximos meses. O limite de gastos foi aumentado pela última vez em dezembro de 2021 em US$ 2,5 trilhões, para US$ 31,4 trilhões. O Congresso pode precisar de um novo acordo para aumentá-lo ou suspendê-lo. A questão que se coloca é que não se pode deliberar sobre nada no Congresso sem um presidente.
Sabemos o que estresse fiscal pode causar com ativos de risco, mesmo em países desenvolvidos (vide caso britânico). Se McCarthy continuar a fracassar, alternativas podem surgir: i) o deputado republicano Steve Scalise pode servir como conciliador entre a ala tradicional e a rebelde; ii) um líder de unidade amplamente atraente pode surgir; ou ainda iii) um presidente temporário pode ser indicado. Por enquanto, os investidores estão acompanhando com algum distanciamento, mas pode piorar.
03:32 — Inflação europeia
Os dados de inflação dos preços ao consumidor da zona do euro refletiram os números mais baixos das principais economias europeias. O dado cheio desacelerou mais do que o esperado, saindo de 10,1% na comparação anual para 9,2%. O problema é que o dado de núcleo acabou vindo acima do esperado, mostrando aceleração de 5% em novembro para 5,2% em dezembro. Por enquanto, os mercados não parecem ligar.
A situação europeia é delicada. Se a inflação não cair rapidamente, o BCE será forçado a subir muito mais os juros e mantê-los elevados por mais tempo, o que pode aprofundar a recessão que acontecerá no velho continente e causar problemas fiscais nos países diante do aumento do serviço da dívida (pagar mais juros). Os próximos meses serão vitais para sabermos para onde a Zona do Euro caminha.
04:12 — Um bom começo de ano
Os investidores asiáticos se esforçaram na sexta-feira para manter o ímpeto positivo da semana, mesmo diante das perdas acentuadas em Wall Street verificadas ontem, que ocorreram depois que dados de empregos superando as previsões sugeriram que o Federal Reserve terá que continuar elevando as taxas de juros.
De qualquer modo, os mercados regionais asiáticos tiveram um forte início de ano, em grande parte graças ao otimismo com a reabertura da China e aos sinais de que está diminuindo o tom de sua conversa dura sobre uma série de questões domésticas e geopolíticas. Caso a reabertura chinesa provoque mais crescimento, como aconteceu em outras regiões depois da reabertura, a recessão global pode ter um amortecedor importante.