BATE CABEÇA
Lá fora, os mercados acionários asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta quinta-feira, acompanhando as indicações amplamente positivas dos mercados globais durante o pregão de ontem, diante da diminuição das preocupações sobre as perspectivas para as taxas de juros. Sim, ainda há receio sobre o processo de reabertura chinês, mas pelo menos hoje ele ficou em segundo plano.
Por outro lado, os mercados europeus e os futuros americanos têm uma manhã mais incerta, sem conseguir esboçar um tom predominantemente positivo. Para a agenda, os investidores globais estão de olho no índice de preços ao produtor da Zona do Euro, dado que vem sendo impactado diretamente pela crise energética do continente. Nos EUA, seguimos debatendo a ata do Fed. No Brasil, o tema principal ainda é a política.
A ver…
00:38 — Quem vai botar ordem na casa?
Por aqui, houve uma diluição marginal dos ruídos gerados entre o primeiro e o segundo pregão de 2023. O bate cabeça no início do governo foi tanto que Lula convocou sua primeira reunião ministerial para amanhã. O objetivo: alinhar o discurso dos ministros com o desejo do Palácio do Planalto (o principal culpado pela zona foi o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que não entende de previdência social, diga-se de passagem). O direcionamento é positivo para evitar ruído junto ao mercado.
Além do movimento do próprio Lula, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o futuro presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, também trabalharam para conter os ânimos. Costa reforçou duas vezes a negativa do governo sobre a fala errada de Lupi sobre rever a previdência. Na sequência, Prates adotou um discurso bem “market friendly” e ajudou a diluir o risco sobre o futuro da estatal. A mobilização foi pequena frente ao estrago das últimas semanas, mas já foi algo para o mercado.
Nos próximos meses, os investidores locais devem se concentrar na evolução desse discurso mais racional e moderado, ao invés do emocionado que se tem visto desde a eleição. O contexto principal continuará sendo o novo arcabouço fiscal, a ser definido ainda no primeiro semestre — em entrevista, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, mostrou compromisso em deixar o endividamento abaixo de 80%. A fala deverá ser bem recebida pelo mercado, mas ainda é só um primeiro passo para arrumar a casa.
01:51 — Digerindo a ata do Fed
Ontem, as ações estavam ainda mais altas no início da tarde, antes que o Federal Reserve divulgasse as atas de sua reunião de política monetária de dezembro. O tom foi agressivo, mostrando que as taxas devem permanecer altas até que a inflação caísse de forma convincente. Seria complicado para o Fed não cumprir com sua orientação futura, principalmente depois dos erros de comunicação do ano passado.
Vimos que as autoridades concordaram que a inflação, apesar de algum leve alívio nos últimos meses, permanece inaceitavelmente alta. E eles acreditam unanimemente que não haverá cortes nas taxas em 2023, uma visão que vai contra as atuais expectativas do mercado e deveria fazer preço sobre os ativos de risco. Em outras palavras, os aumentos contínuos das taxas ainda são apropriados, embora talvez mais lentos.
02:31 — EUA bancando o país emergente em termos políticos
O fracasso repetido do deputado republicano McCarthy em ser eleito presidente da Câmara deixa o governo dos EUA sem um Congresso completo. Os mercados ainda não se importaram com o assunto, mas devem começar a se preocupar se as discussões se estenderam por tempo demais e afetaram as discussões sobre o teto da dívida. Já tivemos seis turnos e ainda nada de a Câmara decidir — os parlamentares vão se reunir novamente nesta quinta-feira.
Um grupo republicano de rebeldes, embora pequeno, tem sido extremamente eficaz em privar McCarthy de seu cargo. Consequentemente, McCarthy pode ser o candidato a presidente da Câmara mais humilhado em 100 anos. Mostra como a política americana passa por uma fase muito complicada. Ainda assim, McCarthy já fez quase tudo para apaziguar os extremistas. Não importa quem se torne presidente nos próximos dias, os conflitos e disfunções devem continuar nos próximos dois anos.
03:14 — A inflação cadente
Os investidores europeus estão avaliando nesta semana alguns dados de inflação que mostram uma desaceleração dos preços mais rápida do que se esperava. Começamos com a Alemanha, fomos para a França e terminamos na Suíça. Em todos os casos vimos arrefecimento dos índices. Hoje teremos o dado italiano, que deverá confirmar a tendência positiva para o controle dos preços por parte das autoridades monetárias.
Temos observado que a inflação global está finalmente desacelerando e devem ocorrer novas reduções acentuadas nos preços em quase todas as economias durante 2023. Provavelmente, a desinflação será mais acentuada do que o consenso dos economistas ou dos bancos centrais preveem, em grande parte por conta do efeito base e da normalização dos preços de energia e de alimentos.
04:02 — Os riscos para o crescimento global
A recessão é agora a preocupação econômica número 1 em 2023. Veremos demissões de trabalhadores e mais pessoas hesitando em gastar. Expectativas fracas ou excesso de investimento anterior também influenciam a equação, com muitas empresas sentindo que grandes áreas da economia poderiam experimentar o agravamento das forças macro e uma série de variáveis desconhecidas (guerra, pandemia e preços de energia, por exemplo).
Segundo a própria diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, o novo ano será mais difícil do que o ano que terminou. O motivo? As três grandes economias - EUA, UE, China - estão desacelerando simultaneamente. Ou seja, é possível ver um terço da economia mundial entrando em recessão. Mesmo em países que não estão em recessão esse cenário pode parecer uma recessão para centenas de milhões de pessoas. Sim, a janela pós-pandêmica se provará um desafio tão grande quanto a pandemia em si.