COMBUSTÍVEL DE ALTA OCTANAGEM PARA OS ATIVOS: S&P TOCA O TAMBORIM BRASILEIRO
Lá fora, as ações asiáticas estavam em alta na quinta-feira, depois que o Federal Reserve dos EUA manteve as taxas de juros estáveis.
Dados da China mostraram que a atividade do consumidor e da indústria enfraqueceu em maio e o desemprego recorde entre os jovens nas cidades aumentou à medida que a recuperação econômica após o fim dos controles contra a Covid desacelerou — os consumidores, preocupados com possíveis perdas de empregos, voltaram às lojas e restaurantes menos rapidamente do que o esperado.
Ainda assim, verificamos uma alta por lá (as exportações japonesas acima do esperado em maio ajudaram a sustentar o humor).
Nos mercados europeus e nos futuros americanos o clima não foi tão positivo.
Diferentemente da China, que cortou a taxa de juros da linha de empréstimo de médio prazo (MLF) de 1 ano para 2,65% ao ano, o Banco Central Europeu elevou hoje a taxa básica de juros em 25 pontos-base para 3,5% ao ano, o que deixa os investidores ansiosos, considerando o estado atual da economia europeia.
Enquanto isso, nos EUA, temos a continuidade da digestão do movimento de ontem do Fed, que poderá voltar a subir juros em um segundo momento, e avaliação dos dados de vendas no varejo para maio. Por aqui, gostamos da perspectiva positiva da S&P para o Brasil.
A ver…
00:51 — Da Bossa Nova ao Boom Financeiro: S&P voltar a ter perspectiva positiva com o Brasil
Ontem, a Standard and Poor's, uma das agências de rating mais conhecidas do mundo, revisou a perspectiva para o Brasil de "estável" para "positiva", enquanto manteve a nota de crédito soberano em BB-/B.
Vale lembrar que essas agências não são "leading indicator" e costumam atuar de maneira atrasada ou enviesada (vide 2008), mas ainda assim são muito importantes para os investidores estrangeiros.
O movimento vale como confirmação do que temos observado nas últimas semanas, não apenas com a aprovação de um arcabouço fiscal crível, mas também com o início de um amadurecimento das reformas estruturais importantes dos últimos anos — a queda persistente da inflação e a independência do Banco Central são pontos positivos que aumentam a confiança dos investidores estrangeiros nas instituições brasileiras.
Sinais de estabilidade nas políticas fiscal e monetária podem beneficiar o crescimento do PIB do Brasil, mesmo com o déficit fiscal ainda alto.
A implementação das reformas tem apresentado menos riscos e a perspectiva é de menor inflação e relaxamento monetário, o que apoia o crescimento do país.
Se o arcabouço e a reforma tributária avançarem, há chance de melhoria do rating do Brasil nos próximos 12 a 18 meses — estimativas mais conservadoras não veem esse movimento antes de 2026, mas cada vez mais se torna possível uma melhora da avaliação brasileira entre 2024 e 2025.
A decisão da S&P afasta receios de retrocesso no debate político, desde que o país alcance um superávit suficiente para estabilizar a dívida conforme prometido pela Fazenda. Outras agências de rating provavelmente seguirão o movimento da S&P.
01:54 — Conforme o esperado, mas ainda duro…
Conforme previsto, o Federal Reserve manteve as taxas de juros após 15 meses de alta, mas sinalizou que provavelmente retomará o aperto em algum momento para reduzir a inflação. A decisão deixou a taxa de referência dos fundos federais em uma faixa-alvo de 5% a 5,25% ao ano.
Mas as previsões indicam que as autoridades esperam dois aumentos adicionais de 25 pontos-base nas taxas, ou um aumento de meio ponto, antes do final do ano.
O imaginário dos investidores sugere que a maioria espera que o Fed continue aumentando as taxas, com cortes não previstos para começar até 2024, o que me parece bem razoável.
Na coletiva de imprensa que acompanha a decisão, Jerome Powell se manteve firme ao mudar de posicionamento pela primeira vez depois de 10 aumentos consecutivos da taxa de juros.
O seu tom, porém, permaneceu duro e cauteloso, bastante atento aos bancos regionais nos EUA, à inflação ainda bem resistente e à chance de uma recessão na economia americana — para alcançar a meta de inflação de 2%, o banco central terá que aumentar a taxa de desemprego em 0,5 ponto percentual este ano, o que é um nível sem precedentes na história americana sem resultar em recessão (as projeções indicam que a taxa de desemprego deve subir para 4,1% em 2023).
02:46 — Enquanto uns sobem, outros descem
Se por um lado o Fed deixou de subir os juros nos EUA após 15 meses de aumentos nas taxas, por outro, o Banco Central Europeu está pronto para entregar o que poderia ser o penúltimo aumento em sua campanha sem precedentes de aperto monetário.
A autoridade europeia elevou a taxa de juros em 25 pontos-base hoje para 3,5% ao ano. Em sua comunicação com o mercado, a presidente do BCE, Christine Lagarde, provavelmente irá reiterar que os próximos passos dependem das perspectivas de preços e da inflação subjacente.
Enquanto isso, na China, o banco central aumentou seu estímulo monetário para ajudar a estimular a economia em meio a sinais de enfraquecimento do mercado imobiliário, queda no investimento empresarial e desemprego recorde entre os jovens.
Para isso, a taxa de empréstimos de um ano, ou facilidade de empréstimo de médio prazo, foi reduzida em 10 pontos-base para 2,65% ao ano. Se tratou da primeira redução desde agosto, fazendo com que os bancos provavelmente reduzam suas taxas de empréstimo na próxima semana. Bom para as commodities hoje.
03:29 — A fumaça vista em todo o mundo: as consequências econômicas dos incêndios florestais
Enquanto os incêndios florestais assolavam o Canadá na semana passada, mais de 100 milhões de pessoas na América do Norte foram colocadas em alerta de saúde e segurança.
No Canadá, os incêndios obrigaram à evacuação de pelo menos 16 mil pessoas, destruindo 200 edifícios (a maioria casas). Este ano, os incêndios florestais no Canadá queimaram uma área equivalente a mais de 5 milhões de campos de futebol.
Enquanto isso, nos EUA, a fumaça levou à pior qualidade do ar já registrada na cidade de Nova York, tornando-a brevemente a cidade mais poluída da Terra.
O fenômeno atrasou os voos para os aeroportos de NY e Nova Jersey, interrompeu a produção combinada de mais de 240 mil barris de petróleo por dia e cancelou shows e outros eventos esportivos.
Desastres naturais como incêndios florestais estão se tornando não apenas mais frequentes, mas também mais caros. No ano passado, os desastres climáticos custaram ao governo dos EUA mais de US$ 165 bilhões (o terceiro ano mais caro de todos os tempos).
A inação na crise climática pode custar à economia global US$ 178 trilhões até 2070. Um dos grandes debates da década.
04:14 — El Niño
Enquanto o mundo luta para normalizar-se depois da Covid-19 e da guerra entre Rússia e Ucrânia, a chegada do primeiro El Niño em quase quatro anos prenuncia novos danos a uma economia global já frágil.
A mudança para uma fase de aquecimento do La Niña mais frio pode gerar caos, especialmente em economias emergentes de rápido crescimento.
Os El Niños anteriores resultaram em um impacto marcante na inflação global, adicionando 3,9 pontos percentuais aos preços das commodities não energéticas e 3,5 pontos ao petróleo.
Combinado com clima mais extremo e temperaturas mais altas devido à mudança climática acelerada, o cenário agora está montado para o ciclo El Niño mais caro do mundo desde que os meteorologistas começaram a acompanhar.