CORTANDO OS JUROS COMO UM CHEF CHINÊS: RECEITA PARA ESTIMULAR A ECONOMIA
Lá fora, os mercados de ações asiáticos fecharam em alta nesta terça-feira, antes da apresentação dos dados de inflação nos EUA e da decisão do Federal Reserve sobre a taxa de juros.
Sobre o segundo ponto, as expectativas são de que o banco central dos EUA, após 10 altas consecutivas, mantenha a taxa de juros inalterada nesta quarta-feira, já que os dados sugerem que a economia permanece saudável, mas mostra sinais de que as medidas de aperto estão entrando em ação.
Os mercados europeus operam predominantemente em alta nesta manhã, assim como acontece com os futuros americanos.
O dia também começou bem para as commodities depois que o Banco Central da China anunciou uma redução de 10 pontos-base na taxa de recompra reversa de sete dias, agora posicionada em 1,9%.
O ambiente internacional poderá ficar ainda melhor a depender dos dados de inflação americana — um número fraco pode elevar ainda mais os ativos de risco.
A ver…
00:43 — As expectativas continuam melhorando
No Brasil, depois de sete altas consecutivas, os investidores se preparam para mais ganhos com ativos de risco.
Lembrem-se: o grosso do movimento deriva da queda dos juros, em especial dos mais longos. Ainda assim, temos uma certa melhora dos fundamentos com expectativas de crescimento maior e inflação menor.
Até o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, se mostrou otimista — ontem, em evento do Instituto para Desenvolvimento do Varejo, a autoridade disse que os juros estão "na direção correta". Os cortes da Selic devem vir em agosto.
O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana que vem já deve alinhar ainda mais o tom nesse sentido, em linha com o que tem mostrado o Focus, com expectativas cada vez menores para a inflação.
Claro, ainda precisamos acompanhar com atenção o final da tramitação do arcabouço fiscal e as discussões sobre a Reforma Tributária, mas o contexto geral segue positivo.
Outro destaque fica por conta do Conselho Monetário Nacional (CMN), no dia 29, que deverá manter a meta de inflação, enquanto amplia o horizonte de atuação e alarga as bandas da meta.
01:33 — A inflação americana
Nos EUA, é tudo sobre o macro nesta semana, com os principais dados de inflação e decisões do banco central chegando.
A inflação dos preços ao consumidor dos EUA em maio deve ficar perto de 4% ao ano, em algo como 4,2%, enquanto o núcleo do IPC, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, deve subir 5,2%. Isso comparado com ganhos de 4,9% e 5,5%, respectivamente, em abril. A desaceleração é notável.
Mas vale lembrar que isso não é novidade para partes dos Estados Unidos. Áreas como Nova York e Los Angeles viram as taxas de inflação cair este ano e já estão experimentando uma inflação abaixo de 4%.
Essa rápida desinflação argumenta contra a inevitabilidade da rigidez de preços. Sabemos que um grande obstáculo para os investidores permanece no Federal Reserve e no caminho da política monetária a partir daqui.
Os mercados estão precificando uma pausa nos aumentos das taxas de juros na reunião de dois dias do Comitê Federal de Mercado Aberto nesta semana, que termina na quarta-feira. Isso daria um fim aos aumentos em 10 reuniões consecutivas desde março de 2022.
O dado de inflação de hoje dará apoio para a decisão das próximas reuniões.
02:26 — Nova Máxima Histórica
As ações da Apple fecharam ontem em um novo recorde histórico, colocando a empresa perto de atingir uma marca paradigmática de US$ 3 trilhões — as ações subiram cerca de 1,6% na segunda-feira para encerrar a sessão em US$ 183,79, elevando o ganho da gigante da tecnologia para mais de 40% neste ano.
A nova alta ocorre menos de uma semana depois que a Apple lançou novos produtos, incluindo seu headset Vision Pro, com grandes esperanças de que se torne o próximo grande produto de sucesso.
No final, a Apple tem uma trajetória com a qual as pessoas se sentem confortáveis: fluxo de caixa inacreditável e modelo de negócio incrível.
03:10 — Flexibilizou, mas não mudou o estrutural
O Banco Popular da China aliviou sua política de juros de curto prazo. Isso sinaliza que é provável que haja mais flexibilização em outras taxas e pode sugerir uma preocupação moderada com o ritmo de crescimento da demanda doméstica.
Ainda assim, mesmo que as coisas se animem no curto prazo, os chineses ainda precisam enfrentar um desafio estrutural muito maior: a demografia.
A China talvez possua a pior trajetória demográfica de qualquer país em tempos de paz. Sua população de 1,4 bilhão atingiu o pico recentemente e agora está começando a encolher, devido ao envelhecimento e à queda nas taxas de natalidade.
Até 2035, estima-se que a China perderá cerca de 70 milhões de adultos em idade produtiva e deverá adicionar 130 milhões de idosos. É uma bomba relógio demográfica.
04:03 — Um pouco sobre as eleições de Taiwan
A população de Taiwan deverá ir às urnas em janeiro de 2024 no que é provavelmente a eleição presidencial mais importante desde que a ilha abraçou a democracia em 1996. Como sempre, a votação será toda sobre China.
Procurando substituir o presidente de mandato limitado, Tsai Ing-wen, estão o vice-presidente William Lai, do Partido Democrático Progressista, e Hou Yu-ih, um ex-policial indicado pelo partido de oposição Kuomintang.
O DPP e o KMT sempre dominaram a política taiwanesa, com o primeiro adotando uma linha mais dura nas relações com o continente.
Desta vez, porém, um candidato de um terceiro partido quer dar a eles uma corrida pelo seu dinheiro. Duas vezes ex-prefeito da capital, Taipei, Ko Wen-je tenta abrir uma candidatura moderada, tendo conseguido ficar até aqui em segundo lugar nas pesquisas presidenciais.
Ko está ganhando força graças à sua popularidade entre os jovens eleitores fartos dos partidos tradicionais. Ocorre que Ko não trata das relações com a China, preferindo se concentrar em questões domésticas.
Uma liderança fraca em Taiwan pode ser o gatilho que a China procurava para uma invasão.