O LABIRINTO BRASILEIRO: A EPOPEIA SEM FIM DO ARCABOUÇO FISCAL
Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em alta na sexta-feira, acompanhando as movimentações positivas em Wall Street durante a noite, com os investidores reagindo à perspectiva de melhora para as taxas de juros depois que o Fed dos EUA interrompeu seus aumentos de juros após dez elevações consecutivas.
Ao longo do pregão, o mercado também aguardava a decisão da taxa de juros do Banco do Japão ao final do dia, que optou por manter a própria política monetária inalterada — ainda assim, os patamares exacerbadamente flexíveis devem ser abandonados em breve.
Os mercados europeus e os futuros americanos têm uma manhã de alta, diferentemente das principais commodities, como petróleo e minério de ferro, que caem na abertura dos mercados ocidentais.
Os temores dos investidores de danos econômicos crescentes ameaçam ofuscar a próxima rodada de aumentos das taxas de juros quase prometidos pelos banqueiros centrais globais — o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sinalizando um possível aumento de 0,5 p.p. a mais e Christine Lagarde, do BCE, dizendo que é provável um aumento de 25 pontos-base.
A ver…
00:42 — Ninguém aguenta mais, mas pelo menos está terminando
Não estava me referindo ao Brasil no subtítulo deste trecho, ainda que os mais pessimistas entendam algo parecido, mas, sim, à saga do arcabouço fiscal brasileiro, que parece engasgado na Câmara.
Em reunião entre Rodrigo Pacheco, líderes do Senado e os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, ficou acordado que o texto da regra fiscal será votado na terça-feira, dia 20, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) — a votação em plenário deve acontecer no dia 21.
O problema? O texto terá que voltar à Câmara, uma vez que algumas coisas serão alteradas, como o limite de crescimento do Fundo Constitucional do DF e a exclusão dos recursos para o Fundeb do controle de gastos.
A expectativa é que Lira vote a nova versão logo na sequência. A demora, provoca irritação entre os investidores, que não aguentam mais esse assunto, estão desesperados para virar essa página e já estão de olho na Reforma Tributária.
Na agenda do dia, depois do nervosismo recente com a redução de preço da Petrobras, que deixou a gasolina mais barata em 4,66% nas refinarias (R$ 0,13/litro), contamos com a agenda do dia que nos presenteia com o IGP-10 de junho, que apontou deflação, em linha com a crescente projeção de menor inflação em 2023, e o IBC-Br de abril, a proxy do PIB publicada pelo Banco Central. Surpresas de inflação para baixo e atividade para cima podem animar os investidores.
01:38 — E não para de subir
Nos EUA, as ações dispararam ontem, com os investidores se esquecendo dos comentários "hawkish" que acompanharam a pausa na taxa de juros do Federal Reserve.
O índice Dow Jones avançou 1,3% para seu maior valor de fechamento desde 2 de dezembro de 2022, enquanto o S&P consolidou sua mais longa sequência de vitórias diárias desde que subiu por oito dias consecutivos no início de novembro de 2021 (estamos agora no maior patamar desde abril de 2022, assim como no Nasdaq).
Paralelamente, o Departamento de Comércio americano disse que as vendas no varejo subiram 0,3% em maio, superando as expectativas de um declínio de 0,2%.
Excluindo automóveis e combustível, as vendas subiram 0,4% em maio. Poucos esperavam que o relatório fosse tão forte, mostrando ainda vigor da economia americana, que resiste à entrada em uma recessão. Hoje, contamos com o índice de confiança do consumidor da Universidade de Michigan.
02:24 — Para onde vão as taxas de juros
O Federal Reserve não alterou as taxas de juros (não foi um "pulo", de acordo com o presidente do Fed Powell, que quis evitar deixar muito claro a chance de voltar a subir os juros na próxima reunião).
A coletiva de imprensa presumivelmente não pretendia soar tão agressiva e economicamente incoerente, como acabou acontecendo.
O famoso “gráfico de pontos”, que compila a opinião dos demais membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), sinalizou dois aumentos de juros adicionais.
Powell disse que a pausa permitiu que o Fed obtivesse mais informações antes de tomar decisões.
De fato, em uma época em que os dados são menos confiáveis, parar para refletir deveria ser um padrão natural para os formuladores de política monetária, não um fenômeno inédito e inesperado; afinal, mercados de trabalho aquecidos foram enfatizados, o que torna difícil explicar o fraco crescimento dos salários reais.
De qualquer forma, o aperto monetário americano não chegou ao seu fim.
03:11 — O comércio entre EUA e China
A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse nesta semana que é melhor que os EUA mantenham os laços com a China, mesmo com o aumento das tensões entre os dois países.
Certamente, embora haja preocupações que precisam ser abordadas, a dissociação entre os dois gigantes players seria um grande erro.
Os americanos se beneficiam muito ao comprar bens mais baratos de produzir na China, enquanto os chineses se beneficiam das exportações dos EUA, que reforçam a economia dos EUA.
Por isso, seria desastroso interromper o comércio com a China. Eles modem discutir uma redução de risco e iniciativas para minimizar a influência chinesa, mas uma separação completa deveria ser evitada a qualquer custo.
Sobre a redução de influência, a secretária também tem solicitado mais dinheiro para empréstimos aos países em desenvolvimento, de modo a combater o posicionamento estratégico chinês — esse dinheiro é necessário para aumentar o envolvimento americano em diferentes regiões em um momento de competição geopolítica.
O Brasil pode se beneficiar disso.
04:04 — Uma pequena visita
Neste fim de semana, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, fará sua viagem a Pequim — sim, esta é a mesma viagem que Blinken adiou por causa daquele balão espião chinês. São muitos assuntos a serem debatidos, desde espionagem até Taiwan.
Ao mesmo tempo, os chineses querem obter de Blinken um convite pessoal para conversar com o presidente dos EUA, Joe Biden — a última vez que Xi e Biden estiveram juntos foi no ano passado, no G-20 em Bali.
Faz mais de seis anos desde a última visita de Xi Jinping aos Estados Unidos, quando o presidente chinês visitou Mar-a-Lago com Donald Trump, uma reaproximação mais cordial seria bem-vinda.
Contudo, não vamos esperar que Blinken faça muito progresso em qualquer questão em que Washington e Pequim estejam em desacordo (são inúmeras).
Se a relação bilateral ao menos ficar mais amena, com as duas partes ainda conversando entre si, já seria uma importante vitória.