O PIBÃO AMERICANO
Lá fora, os mercados asiáticos subiram novamente nesta sexta-feira, uma vez que os temores sobre uma possível recessão na economia dos EUA foram atenuados por dados mostrando que ela cresceu mais do que o esperado em 2022, aumentando o tom amplamente otimista nos pregões este ano.
Ainda há no radar para hoje os dados de inflação americana pelo PCE (indicador tradicionalmente querido pelo Fed), que pode balizar a decisão de política monetária na próxima semana.
Também há internacionalmente um otimismo com o ressurgimento econômico da China após quase três anos de restrições contra a Covid-19. Os volumes na Ásia, contudo, ainda estão afetados devido à China ainda estar fechada para o Ano Novo Lunar.
A Europa sobe nesta manhã, enquanto os futuros americanos caem, corrigindo a alta de ontem e digerindo a ansiedade pelos dados de inflação e resultados corporativos. No Brasil, houve um pouco de tensão interna por conta de fatores políticos.
A ver…
00:46 — Os ruídos de uma reforma tributária
Por aqui, estivemos surfando de maneira geral nos últimos dias um certo otimismo para países emergentes, que fortalecem nossas ações e nossa moeda.
Apesar do erro grotesco na apresentação do fluxo estrangeiro por parte do BC, que revisou o dado para uma saída líquida de US$ 3,2 bilhões no ano passado (bem diferente da estimativa anterior, que contava com uma entrada de mais de US$ 9 bilhões), ainda há força na tese de entrada de dinheiro gringo em 2023, reforçada pela reabertura chinesa e na sua importância para as moedas de países emergentes, bem como para o mercado de commodities. Um dólar abaixo de R$ 5,00 não é impossível.
Depende, é claro, das bobagens que o governo possa falar ou fazer. Ontem, tivemos a oficialização do nome de Jean Paul Prates para a presidência da Petrobras pelo Conselho da companhia. Apesar de não ser novidade, a consumação do fato não caiu bem no mercado por conta de outros ruídos políticos envolvendo os rumos da companhia.
Enquanto isso, duas frentes de debate são desenhadas em Brasília. A primeira comandada por Haddad, que montou uma dedicada à reforma tributária (quer fazer ainda no primeiro ano, além do novo arcabouço fiscal). E a segunda comandada por Lula, que negocia a reposição de perdas do ICMS com os governadores.
01:50 — O crescimento americano
Ontem, nos EUA, tivemos a informação de que o PIB americano cresceu a uma taxa de 2,9% no quarto trimestre, abaixo do resultado de 3,2% no terceiro trimestre, mas acima da estimativa de consenso de 2,3%. Foi outro exemplo de investidores avaliando o equilíbrio entre boas e más notícias.
Por um lado, a economia dos EUA permanece forte e não parece prestes a entrar em recessão, mesmo que seja amplamente esperada ainda este ano ou em 2024. Por outro lado, o robusto desempenho do PIB também levanta a questão de quão agressivo o Federal Reserve será enquanto tenta reduzir ainda mais a inflação.
Na semana que vem, o Comitê Federal de Mercado Aberto, que define a política de taxas, deve se reunir na terça e quarta-feira para considerar seu próximo aumento de taxa, possivelmente 25 pontos-base. Até aqui, há pouca substância para mudar o plano do Fed de apertar e manter as taxas em território suficientemente restritivo.
02:38 — Mais emoção para o mercado americano
O calendário internacional ainda conta com mais emoção nos EUA. Teremos ao longo do dia os dados de renda e gastos de dezembro, além da medida de inflação, o deflator PCE. A desaceleração da inflação deve minimizar a queda nos gastos reais, e o crescimento da renda parece ser consistente com a meta de inflação do Fed olhando para a variação mensal.
Ao mesmo tempo, o PCE, que já foi o indicador favorito do Fed, deve voltar a ganhar relevância, depois da autoridade monetária ter equivocadamente ancorado a expectativa do mercado no IPC nos últimos meses.
Espera-se que a renda pessoal suba 0,2% na comparação mensal, frente a um ganho de 0,4% em novembro, enquanto os gastos devem cair 0,1%, após subirem 0,1% anteriormente.
Enquanto isso, o índice de preços de gastos de consumo pessoal deve aumentar 4,4% na comparação anual, três décimos de ponto percentual a menos que em novembro. Fora isso, ainda teremos o índice de sentimento do consumidor dos EUA e alguns resultados corporativos de grandes nomes, como American Express, Charter Communications, Chevron e HCA Healthcare.
03:31 — Mais tensão no mercado de semicondutores
Além dos EUA, o Japão e os Países Baixos também estão trabalhando para restringir o acesso da China a máquinas de semicondutores. A segregação reforça a tendência de desglobalização da nova década, ou ao menos uma desaceleração considerável da globalização que vivemos durante os últimos 30 anos, desde a queda do muro de Berlim.
Em outras palavras, é provável que o nacionalismo econômico continue durante esta nova revolução industrial, dividindo o mundo em polos mais regionalizados.
Os movimentos recentes viram países retratando grupos estrangeiros como o inimigo. Um ponto central nesta etapa será o acesso às diferentes tecnologias, bem como a forma com elas são usadas. Tanto a capacidade de fabricação como a possibilidade de implementação serão profundamente acompanhadas.
Neste momento, em relação aos semicondutores, os EUA estão bem na frente, com o apoio de Taiwan e da Europa, colocando a China em uma posição bem desfavorável.
04:16 — Uma outra interpretação sobre a reabertura chinesa
Para aqueles que comemoram a reabertura da China como salvadora dos problemas do comércio global em 2023, há quem avalie a situação de uma outra forma. Depois de registrar uma expansão de cerca de 6,7% em 2022, o crescimento do comércio global deve avançar a um ritmo mais modesto de 1,6% este ano.
Temos que observar que as importações de bens entre EUA, Japão, Zona do Euro, China e Brasil, já estão mostrando uma queda acentuada desde o final de 2022, já que a reabertura chinesa é principalmente benéfica para serviços e demanda interna.
Em outras palavras, a perspectiva comercial marginalmente mais pessimista é uma história bastante simples de desaceleração do crescimento.
Assim, com a reabertura da China, o transbordamento positivo para o resto do mundo não seria comparável à história, como aconteceu no início dos anos 2000.
Ao mesmo tempo, se quisermos olhar para o copo meio cheio, a menor demanda global está desempenhando um papel fundamental na redução dos gargalos da cadeia de suprimentos, o que tira pressão inflacionária e ajuda as autoridades monetárias a relaxar o tom do aperto dos juros.