SE NÃO FALAR BOBAGEM, O BRASIL É FELIZ
Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em alta nesta quinta-feira, apesar das movimentações negativas dos ativos globais durante o pregão de ontem, já com algumas localidades retornando à normalidade após o feriado de Ano Novo Lunar, enquanto tentam recuperar o atraso.
Os investidores também seguem otimistas com a possibilidade de o Fed dos EUA diminuir o ritmo dos aumentos das taxas de juros, citando a desaceleração do crescimento salarial e da inflação. Vale lembrar que, do outro lado do Pacífico, os mercados da China, Índia e Austrália estavam fechados.
Nesta manhã, as ações europeias sobem com os futuros de ações dos EUA, em meio a um tom positivo entre os investidores, já que algumas surpresas com os resultados corporativos amenizam as decepções recentes. Há uma confiança crescente de que a economia pode não exigir uma recessão para domar a fera da inflação.
No Brasil, a tese positiva para países emergentes beneficia os ativos locais, contanto que o governo deixe de falar bobagens. Dando sequência ao ritmo de alta, há chance de acompanharmos mais dias positivos em janeiro.
A ver…
00:51 — A narrativa positiva sobre os emergentes privilegia o Brasil
Com uma agenda doméstica ainda fraca, os ativos locais respondem ao comportamento internacional, principalmente diante da temporada de resultados nos EUA (a nossa temporada começa hoje, com Cielo, mas só depois do fechamento de mercado) e do PIB americano para o quarto trimestre.
Os desdobramentos do dado de atividade sobre o dólar e ativos estrangeiros pode ter um efeito relevante sobre o comportamento do fluxo gringo para o Brasil, como aconteceu ontem, quando a Bolsa e o Real terminam o dia em seus respectivos patamares mais elevados desde novembro do ano passado.
A única coisa que impede eventualmente um movimento mais contundente é a sequência atrapalhada de falas do governo. Quando elas param, as coisas vão bem. Neste sentido, os próximos meses serão importantes, uma vez que definiremos a nova regra fiscal, ponto fraco do Brasil nos últimos anos.
Entre outros vetores para o dia, temos a votação da indicação de Jean Paul Prates para comandar a Petrobras pelo Conselho da companhia. Alguns dados secundários sobre confiança e balança comercial estão no radar, assim como a entrevista coletiva do novo secretário do Tesouro, Rogério Ceron, responsável pela nova regra fiscal.
01:49 — Entre dados de PIB e a temporada de resultados
Os investidores agora se concentram nos dados do PIB dos EUA do quarto trimestre, que serão divulgados antes do almoço, o que pode definir o tom da reunião de política monetária do Fed de 31 de janeiro a 1 de fevereiro. Espera-se que a economia tenha crescido a uma taxa anual de 2,5%, após um aumento de 3,2% no terceiro trimestre — há impacto da queda do crescimento dos salários reais, à medida que a poupança e o crédito se esgotaram. Temos também o relatório de bens duráveis de dezembro, mas que acaba ganhando contornos secundários diante da relevância do dado de atividade.
Fora a agenda econômica, contamos também com a temporada de resultados. Hoje teremos nomes como American Airlines, Blackstone, Comcast, Dow, Intel, Mastercard, Sherwin-Williams, Southwest Airlines e Visa.
Fora isso, ainda temos que mastigar os números de IBM e Tesla, que foram divulgados na noite de ontem. As ações da Tesla devem subir hoje, depois que a fabricante de veículos elétricos reportou números robustos no quarto trimestre (lucro operacional recorde de US$ 3,9 bilhões). A IBM, por outro lado, deve ter um pouco mais de dificuldade para desempenhar bem.
02:46 — A crise alimentar ainda está acontecendo
O índice de preços de commodities alimentares da FAO das Nações Unidas em dezembro ficou abaixo do nível do ano anterior, mas os preços dos alimentos ao consumidor subiram 11,8% nos EUA, 16,8% no Reino Unido e 16,3% na Europa no mesmo período. Como conversamos aqui, há uma crise alimentar se aprofundando em países mais pobres, o que denota preocupação social neste início de década.
Além disso, a inflação tem sido ainda impulsionada por áreas como energia e produção de alimentos. Em sendo o caso, o contexto para os alimentos ganha relevância para a realidade econômica de muitas empresas, que também sofrem com a elevação dos preços. É claro, porém, que comparativamente a preocupação principal é com a grave situação da população em situação alimentar vulnerável no mundo.
03:25 — Mais demissões
Nos Estados Unidos, dezenas de milhares de profissionais de tecnologia estão passando por algo provavelmente inédito em suas carreiras. Mais e mais demissões são anunciadas no Vale do Silício. Para ilustrar, a Alphabet, empresa controladora do Google, tornou-se a mais recente gigante da tecnologia a realizar demissões em massa, demitindo 12 mil funcionários (cerca de 6% de sua força de trabalho).
E embora as demissões estejam atingindo o setor de tecnologia há meses, as semanas recentes foram particularmente dolorosas: três das maiores empresas de tecnologia do mundo (Alphabet, Microsoft e Amazon) anunciaram cortes de empregos.
Diante de um ambiente econômico em deterioração, as empresas de tecnologia estão deixando de lado algumas ideias que não geram resultado, promovendo eficiência e sendo mais cirúrgicos sobre seus investimentos. Isso eleva o total de demissões na indústria de tecnologia para mais de 200 mil desde o ano passado.
Trata-se de um grande número, corrigindo a onda de contratações das Big Techs durante a pandemia — o patamar de empregados ainda está acima do nível pré-pandêmico, contudo, o que poderia indicar mais demissões pela frente, até mesmo porque a recessão ainda não começou e as taxas de juros continuam subindo. Estamos vendo apenas o começo de um processo de correção no mercado de trabalho.
04:30 — O novo petróleo
A descoberta e o uso do petróleo desempenharam um papel descomunal na formação da geopolítica no último século. Nos próximos 50 anos, porém, é mais provável que a interação global e a riqueza sejam influenciadas pelos semicondutores, uma vez que os locais onde estão as cadeias de suprimentos de tecnologia e onde os semicondutores são construídos são mais importantes. Olhando para frente, precisamos dessas cadeias de suprimentos resilientes e geograficamente equilibradas.
Respondendo ao movimento, a Intel anunciou que investiria US$ 20 bilhões para construir duas novas instalações de fabricação de chips nos Estados Unidos, bem como até US$ 90 bilhões em novas fábricas europeias, com o objetivo de reafirmar sua posição como líder da indústria de semicondutores.
O investimento da empresa em novas instalações de fabricação nos Estados Unidos, Europa e outros lugares é importante não apenas para o futuro da empresa, mas para a globalização do recurso mais crítico para o futuro do mundo. Outras empresas caminham na mesma direção.
Os anúncios também surgiram em meio a preocupações com a concentração da fabricação de chips na Ásia, principalmente Taiwan, durante a pandemia de Covid-19 e com o aumento das tensões geopolíticas. Problemas na cadeia de fornecimento de chips nos últimos anos causaram escassez e atrasos no envio de tudo, desde computadores de mesa e iPhones até carros. Assim, se aprendemos uma coisa com a crise da Covid é que precisamos de resistências em nossas cadeias de suprimentos de semicondutores.