O IMPOSTOCÓPTERO: VOANDO ALTO PARA ARRECADAR MAIS
Bom dia, pessoal.
Lá fora, a maioria dos mercados de ações asiáticos subiu nesta quinta-feira, acompanhando os ganhos em Wall Street em meio ao otimismo de que o teto da dívida dos EUA será elevado — o governo Biden disse que um acordo para aumentar o teto poderia ser alcançado ainda nesta semana.
Isso ajudou a diminuir os temores de um possível calote da dívida dos EUA, já que o prazo de 1º de junho se aproxima. Os ganhos nos mercados asiáticos só foram contidos pela cautela com a desaceleração do crescimento econômico, principalmente na China.
Os mercados europeus estão em alta nesta manhã, assim como os futuros americanos.
Além da temporada de resultados continuar acontecendo lá fora, contamos também com várias falas de autoridades monetárias, como é o caso de Christine Lagarde, presidente do BCE (Zona do Euro), e de Andrew Bailey, presidente do BoE (Reino Unido).
Eventuais novidades sobre a condução da política monetária podem impactar os mercados internacionais. Por aqui, discutimos a tramitação do arcabouço fiscal, bem como o fim da temporada de resultados do primeiro trimestre.
A ver…
00:53 — O ponto de inflexão
No Brasil, depois do ajuste de terça-feira, voltamos a subir para cima dos 109 mil pontos. O otimismo em Nova York impulsionou o rali do Ibovespa, apesar da realização da Petrobras (as ações da companhia ainda sobem mais de 10% no ano).
Em paralelo, a aprovação da urgência para o arcabouço fiscal deverá contribuir para a continuidade da queda dos juros, reforçando o desempenho positivo da bolsa. Sobre o tema, vale o estudo de Aline Cardoso, do Santander. Resumindo, em períodos de queda de juros, a bolsa geralmente apresenta um desempenho positivo e forte.
Segundo o material, vemos que, em média, o Ibovespa registra ganhos significativos nos meses que antecedem os ciclos de flexibilização dos juros, especialmente em setores cíclicos locais e domésticos.
Na sequência do primeiro corte, temos uma pequena queda no desempenho do índice, mas à medida que os cortes nas taxas começam a impactar positivamente os resultados das empresas, o desempenho da bolsa se torna positivo, especialmente após 6 e 12 meses do início do ciclo de flexibilização. Estamos justamente neste ponto de inflexão.
01:47 — Imposto Man: O Super-Herói da Arrecadação Fiscal
Ainda em solo brasileiro, tivemos ontem a urgência do arcabouço fiscal aprovada com 367 votos contra 102. O plano agora é levar o texto para votação em plenário na próxima terça-feira (23) ou quarta-feira (24). Contudo, algumas aspectos do texto chamam a atenção.
A primeiro deles é uma maior liberdade de gastos para o governo, de cerca de R$ 80 bilhões, nos próximos dois anos. A notícia é ruim. O segundo é a nítida necessidade de R$ 120 bilhões em receitas para viabilizar a nova regra fiscal — conhecemos bem os efeitos de fechar as contas no negativo.
Aliás, o arcabouço fiscal ainda recebe críticas recorrentes em virtude de sua forte dependência. O Governo dispõe de quatro maneiras de gerar recursos e financiar suas atividades:
i) através da cobrança de impostos da população;
ii) por meio da emissão de dívida;
iii) através da venda de ativos por meio de privatizações; e iv) através da emissão de moeda.
O terceiro depende da disponibilidade de ativos governamentais, enquanto o primeiro e o segundo são os preferidos. Levando em conta o custo da dívida hoje, será necessário implementar novos impostos.
02:43 — Um alívio aparente
Nos EUA, as ações mostraram ontem que ainda possuem lenha para queimar, com amplos ganhos em todos os setores.
Os catalisadores para o rali foram algumas vibrações positivas em relação ao teto da dívida e alívio para os bancos regionais sitiados — o Western Alliance, com sede no Arizona, disse que viu um grande influxo de depósitos desde o final do primeiro trimestre, revertendo as saídas anteriores.
Ainda assim, o mercado de títulos continua a enviar um sinal mais pessimista.
Os mercados de crédito não estão enviando um sinal tranquilizador para ativos de risco, pois os custos de financiamento continuam aumentando, os padrões de empréstimo estão se tornando mais rígidos, a demanda por crédito está caindo agressivamente e os pedidos de falência nos EUA no acumulado do ano são os mais altos desde 2010.
Em suma, as ações estão precificando um pouso suave para a economia ou uma recessão leve, enquanto os mercados de dívida estão mais próximos de precificar uma recessão prolongada ou uma possível crise de crédito.
Talvez os investidores em títulos sejam, por natureza, um grupo mais pessimista do que os investidores em ações. Mas parece que muitas variáveis precisam dar certo para que a visão otimista vença.
03:40 — Afinal, o que o futuro reserva para a economia dos EUA?
É a pergunta de um milhão de dólares, não é mesmo? Recentemente o BNY Mellon Investment Management delineou três cenários possíveis, cada um considerando o impacto da crise bancária, a resiliência inflacionária e a trajetória de aumentos de juros.
Hoje, uma recessão, mais cedo ou mais tarde, continua sendo mais provável do que não, sendo que a perspectiva de longo prazo, depois do choque, permanece relativamente positiva para as ações, mas com volatilidade em um primeiro momento.
Os três cenários possíveis e as probabilidades de que eles aconteçam são:
i) A crise de crédito, com 50% de probabilidade, em caso de mais aumento de juros por parte do Fed, o que catapultaria os Estados Unidos para a recessão durante o segundo semestre de 2023 (a Europa e o Reino Unido sentirão isso ainda mais cedo);
ii) O pouso atrasado, com 30% de probabilidade, que viria apenas no segundo semestre de 2024 por conta de uma reaceleração do aperto monetário, que seria parada em um primeiro momento, devido à inflação resistente; e
iii) Por fim, temos o cenário mais benigno de todos, de "soft landing" (pouso suave), mas com apenas 20% de probabilidade (eu acredito que seja até menos), em que o aperto monetário vigente gera uma perda mínima de empregos.
Em outras palavras, apertem o cinto, muito provavelmente vem turbulência por aí.
04:35 — E se dolarizarmos a Argentina?
Não é segredo para ninguém que nossos hermanos do Sul estão passando por dificuldades. Recentemente, a Argentina divulgou novas medidas de emergência para combater sua taxa de inflação de 109% e apoiar o peso em meio à queda rápida das reservas em moeda estrangeira e aos crescentes temores de uma desvalorização.
O problema é que, quanto mais o governo tentar sustentar o peso com controles cambiais e domar os preços em alta com aumentos maciços das taxas de juros, mais sangra a própria economia. Desvalorizar o peso não é uma opção, uma vez que acabaria com o valor da poupança das pessoas, hoje já bem empobrecidas.
Com isso, voltaram a ventilar a ideia de substituir a moeda nacional pelo dólar americano. Quem levanta essa bandeira é Javier Milei, um populista de direita que lidera as pesquisas para as eleições de outubro. Não preciso dizer que a ideia é terrível, dado que a economia não dispõe de dólares o suficiente para tal.
Infelizmente, há pouco espaço para a salvação econômica de nossos vizinhos.