ÁRVORES NÃO CRESCEM ATÉ O CÉU E ESTÁ TUDO BEM
Lá fora, a maioria das ações asiáticas se movimentou em uma faixa estável de baixa nesta quarta-feira, com os mercados estressados com a desaceleração do crescimento na China e o teto da dívida dos EUA, enquanto o índice Nikkei do Japão se recuperou devido ao crescimento econômico mais forte do que o esperado no primeiro trimestre.
O mais preocupante, porém, é o sentimento em relação à China, abalado por uma série de leituras econômicas fracas para abril, que sugeriam que uma recuperação econômica pós-Covid no país estava perdendo força.
Paralelamente, os mercados europeus não conseguem sustentar um único movimento nesta manhã, alternado entre altas e baixas (a inflação da Zona do Euro em linha não empolgou).
Pelo menos os futuros americanos sobem timidamente, com os investidores esperançosos de que um acordo seja alcançado sobre o teto da dívida dos EUA — o presidente Joe Biden se reunirá hoje mais uma vez com os principais líderes do Congresso.
O assunto é urgente: a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse que uma recessão seria provável se os EUA deixassem de pagar sua dívida.
A ver…
00:55 — Caiu no fato
No Brasil, depois de oito dias positivos, os ativos locais finalmente ajustaram o ritmo.
A correção veio depois de uma enxurrada de resultados corporativos entre segunda e terça-feira, sem falar da apresentação do relatório sobre o arcabouço fiscal (todo mundo reconhece que a proposta avançou, ainda que restem críticas).
A justificativa encontrada foi a desaceleração da atividade econômica na China, que resultou em pressão sobre as commodities.
A realização de lucros só não foi maior porque a Petrobras segurou o índice depois que o mercado aprovou sua nova política de preços.
A petroleira mudou sua política de preços, o que acalmou a bancada do PT no Congresso — deverá facilitar na tramitação do arcabouço, que terá sua urgência aprovada hoje, provavelmente (a regra realmente foi endurecida, mas o mercado "subiu no boato e caiu no fato").
Em paralelo, a empresa reduziu os preços dos combustíveis nas refinarias, mas como a mudança ocorreu em um momento favorável, com os preços do petróleo em baixa e o câmbio mais favorável, a leitura do mercado foi positiva, até mesmo porque não haverá abandono completo do preço externo.
01:49 — Os consumidores dos EUA fizeram o que fazem de melhor: comprar
Em solo americano, os dados de ontem mostraram um aumento nas vendas no varejo dos EUA em abril, o primeiro ganho mensal desde janeiro — excluindo as vendas de automóveis e gás, as vendas subiram 0,6%, contra a expectativa média de 0,2%.
Em outras palavras, nenhum dos números sugere que uma recessão liderada pelo consumidor esteja em andamento; afinal, os gastos com consumo representam quase 70% do produto interno bruto dos EUA.
Ao mesmo tempo, esse dado é negativo na luta do Fed contra a inflação e pode significar taxas mais altas por mais tempo.
Enquanto isso, a crise dos bancos regionais parece ser novamente esquecida depois que o Western Alliance divulgou crescimento dos depósitos, fato que impulsionou as ações do banco no after-hours de ontem em Wall Street.
A preocupação com um default do governo ainda existe, contudo, ainda que esse cenário seja o menos provável.
Nos próximos dias deveremos ter algum desfecho sobre a elevação do teto da dívida nos EUA. O debate tem aumentado a pressão de alta sobre os títulos de curto prazo do governo. Por fim, mais resultados corporativos são esperados para hoje.
02:45 — Uma situação delicada
O ano passado foi ruim para o crédito em todos os aspectos, já que as políticas de zero-Covid na China, a guerra da Rússia na Ucrânia (e a crise energética associada) e a alta inflação levaram os investidores a mercados turbulentos, em um ambiente de as taxas de empréstimos mais elevadas e desaceleração da economia global.
Esperava-se que este ano trouxesse notícias melhores, mas, em vez disso, 2023 trouxe o colapso de três bancos regionais dos EUA e um subsequente aperto de empréstimos — falências bancárias podem dificultar a obtenção de empréstimos, o que pode reduzir os gastos e pesar na atividade econômica.
Nos EUA, a Pesquisa de Opinião de Agentes de Empréstimos (Senior Loans) trimestral do Federal Reserve, divulgada recentemente, confirmou que os credores estão endurecendo seus padrões após o colapso bancário.
O mercado atribuiu as mudanças nos padrões de empréstimo à incerteza econômica, redução do apetite por risco, deterioração nos valores das garantias e preocupações mais amplas sobre os custos de financiamento dos bancos e posições de liquidez.
Com isso, os credores informaram que esperam endurecer os padrões em todas as categorias de empréstimos até o final deste ano, citando as preocupações acima, bem como as retiradas de clientes.
03:44 — O crescimento japonês
O índice Nikkei 225 subiu 0,9% para quase sua máxima em 20 meses, estendendo os ganhos recentes, já que os dados mostraram que a economia do Japão cresceu mais do que o esperado no primeiro trimestre, auxiliado principalmente por fortes gastos do consumidor e turismo receptivo — a leitura preliminar do PIB mostra alta de 0,4% na comparação trimestral, impulsionada pelo setor de turismo e pela melhor demanda por bens de consumo duráveis.
Tendo sido a última grande economia a reabrir da pandemia, os padrões de consumo pós-pandemia estão atrasados no Japão.
Sim, as perspectivas para a economia ainda permanecem sombrias, em meio a desaceleração sustentada nos maiores mercados de exportação do Japão no Ocidente.
Ainda assim, uma forte temporada de resultados corporativos, juntamente com sinais dovish do Banco do Japão, fez o Nikkei superar amplamente seus pares asiáticos nas últimas semanas.
04:28 — De “blockchain” e “metaverso” para “inteligência artificial”
Em 2017, o termo da moda era “blockchain”. Em 2021, era “metaverso”. Em 2023, “inteligência artificial” (IA) é o termo que mais instigou as empresas em um mundo no qual os investidores estão salivando sobre o valor potencial de centenas de bilhões que poderia ser desbloqueado pela nova tecnologia.
Houve mais de 1.000 menções de IA nos resultados das empresas do S&P 500 até agora este ano.
Enfatizar suas capacidades de IA faz sentido financeiro. Estima-se que as empresas que adotam a IA estão ganhando 0,4% a mais por dia para os acionistas do que aquelas com menos exposição à tecnologia nos meses após o lançamento do ChatGPT.
O melhor exemplo até agora é a Microsoft: desde que se conectou à Open AI, fabricante do ChatGPT, com um investimento de US$ 10 bilhões em janeiro, o preço de suas ações disparou 28%.
Ao mesmo tempo, IA não é a primeira tecnologia agitada a agir como um ímã de capital financeiro. Aconteceu com inovações verdadeiramente revolucionárias, bem como tecnologias que ainda não corresponderam ao hype. Ainda é um caso em aberto, apesar de bem promissor.