UMA SEMANA INFLACIONADA
Bom dia, pessoal.
Lá fora, os mercados asiáticos iniciaram a semana em alta, impulsionados pelo rali de sexta-feira em Wall Street, que foi alimentado por uma forte recuperação nos bancos regionais americanos e dados de empregos otimistas.
Naturalmente, os investidores permanecem cautelosos diante da possibilidade de uma nova agitação no sistema financeiro dos EUA após a turbulência da semana passada.
Os mercados europeus e os futuros americanos amanhecem igualmente em alta.
A semana será dominada por dados de inflação no Brasil e nos EUA, além de outras notícias importantes do mercado financeiro global, como a decisão de política monetária do Banco da Inglaterra (BoE), que deverá manter sua postura dura, em linha com os seus pares internacionais.
Além disso, vários membros do Fed (EUA) e do BCE (Zona do Euro) têm falas previstas para os próximos dias, o que pode influenciar as expectativas para as taxas de juros dessas instituições.
A ver…
00:44 — Formando expectativas para o arcabouço e para o IPCA de abril
No Brasil, os investidores devem se debruçar amanhã sobre a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que trará mais detalhes sobre a postura da autoridade monetária.
Fora isso, contamos com a continuidade da temporada de resultados, com nomes pesados para o Ibovespa, como Itaú (hoje) e Petrobras (quinta-feira). Outro fator interessante é a escolha dos novos diretores do BC, que devem representar um meio do caminho entre o Banco Central e o Poder Executivo.
Enquanto esperamos pela votação do arcabouço fiscal, que só deve acontecer semana que vem na Câmara — quando Fernando Haddad e Lula voltarem da reunião do G7, no Japão —, podemos digerir com calma a inflação oficial de abril.
O IPCA deve desacelerar de 0,71% em março para 0,55% em abril, na comparação mensal, em linha com a prévia (IPCA-15). O indicador deve continuar desacelerando até junho para voltar a acelerar no segundo semestre.
01:30 — Depois dos dados de emprego da semana passada
Nos EUA, os dados de payroll (relatório mensal de emprego) mostraram revisão nos números de fevereiro e março, com o resultado de abril vindo em linha com as expectativas.
O relatório mostrou a abertura de 253 mil vagas em abril, acima das projeções (185 mil), enquanto a taxa de desemprego caiu de 3,5% para 3,4% — a taxa caiu com a manutenção da taxa de participação e com a contratação de pessoas.
O que mais chamou a atenção foi o crescimento de 0,48% do salário médio por hora, também acima das expectativas, o que é inflacionário.
Como o Fed agora é totalmente “data dependence” (dependente de dados), o número não é muito bom por favorecer uma inflação elevada. Ao mesmo tempo, dá vigor para a perspectiva de uma economia forte e ainda um pouco distante de uma recessão.
Por isso, o barulho dos formuladores de política monetária nesta semana deve interessar os participantes do mercado. Paralelamente, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, está alertando para a possibilidade de uma crise por causa da questão envolvendo o teto da dívida.
Tanto as falas como qualquer resolução envolvendo a queda do teto pode trazer volatilidade para a curva de juros lá fora.
02:29 — E a inflação americana
Ainda nos EUA, também contamos com o relatório de inflação de abril, previsto para 10 de maio.
Do ponto de vista internacional, pode ser o principal evento da semana, com projeções apontando para um aumento de 0,4% na comparação mensal e 5,5% na anual. Se vier mais fraco ou até mesmo em linha, podemos ter mais um vetor que favorece a tese do fim do ciclo de aperto monetário do Fed.
Complementarmente, na quinta-feira (11), teremos o índice de preços ao produtor para o mês de abril, que deverá continuar desacelerando para 2,5% na comparação anual de 2,7% do mês anterior.
Não podemos nos enganar, contudo, com os movimentos ao produtor. Ainda que eles indiquem para mais desacelerações do índice ao consumidor em um segundo momento, o nível dos preços ainda é preocupante.
03:19 — Questões europeias
O Banco da Inglaterra (BoE) anunciará na quinta-feira a sua decisão sobre a política monetária. Espera-se que ele aumente a taxa de juros em 25 pontos-base, para 4,5% ano, ano, em linha com o que o BCE fez.
O Reino Unido tem enfrentado uma inflação de dois dígitos há meses, com o índice superando 10% em março em relação ao ano anterior, o que o torna o único país da Europa Ocidental com uma taxa de inflação de dois dígitos. A inflação alta e o mercado de trabalho devem manter apertada a política.
Enquanto isso, a União Europeia está considerando sanções contra sete empresas da China, algo que os Estados Unidos já fizeram, mas a UE ainda não. Isso pode prejudicar adicionalmente as relações entre a UE e a China, que já enfrentam discordâncias em questões comerciais e de direitos humanos — as empresas são acusadas de violações dos direitos humanos, incluindo trabalhos forçados em Xinjiang (um tema já debatido há algum tempo).
04:01 — Se preparando para a próxima pandemia
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da emergência global de saúde Covid-19 na sexta-feira. Com isso, os EUA anunciaram que vão parar de contar casos.
Embora a decisão de baixar o nível de alerta seja amplamente simbólica, uma vez que a maior parte do mundo já reabriu e se ajustou para conviver com o vírus, que matou mais de 20 milhões de pessoas desde que foi descoberto em Wuhan, na China, em 2019, é um passo importante para os livros de história.
Enquanto isso, especialistas de todo o mundo estão se preparando para lidar com a próxima pandemia. Para tal, estão praticando em tempo real com o H5N1, a cepa mais virulenta da gripe aviária.
A rápida contenção da gripe aviária na pequena vila cambojana de Rolaing destacou a importância da rapidez com que as autoridades de saúde pública podem identificar e responder a novas ameaças — a equipe conseguiu montar rapidamente um centro de testes e rastreamento de contatos.
A eficácia da resposta global na contenção da próxima pandemia dependerá da capacidade das autoridades de identificar e responder rapidamente a novas ameaças.
Contanto que não haja algum grau de omissão logo no início, como aconteceu no caso da Covid-19, o mundo deverá estar mais preparado para lidar com problemas de ordem global como o que aconteceu entre 2020 e 2022.
Com isso, choques sobre os ativos de risco devem ser cada vez menos prováveis quando advindos de situações assim.