UMA DIREÇÃO PROBLEMÁTICA
Na semana passada, as autoridades monetárias ao redor do mundo enviaram uma mensagem clara: os juros permanecerão elevados por um período prolongado devido à rigidez inflacionária.
Isso desencadeou um ajuste no mercado, que continua ocorrendo nesta manhã, refletido na queda dos mercados asiáticos e nos declínios dos futuros americanos e ativos europeus no início desta semana.
Nos próximos dias, as tendências inflacionárias serão novamente o centro das atenções para os investidores, com destaque para a leitura da inflação PCE nos EUA, a métrica de inflação preferida pelo Fed, e os relatórios de preços ao consumidor na Europa.
Além disso, discursos de autoridades monetárias, incluindo nomes como Christine Lagarde, a presidente do BCE, estão agendados e serão monitorados atentamente.
A ver…
00:35 — Medindo a temperatura
No contexto brasileiro, embora tenhamos iniciado a redução das taxas de juros, a tendência seguiu a dinâmica global.
O Comitê de Política Monetária (Copom) continuará com cortes de 50 pontos-base, reduzindo a probabilidade de uma eventual aceleração (embora não seja impossível, tornou-se bastante desafiadora).
Nossa perspectiva central mantém os cortes adicionais de 50 pontos-base, enquanto monitoramos atentamente dados complementares de inflação e desenvolvimentos no cenário fiscal brasileiro.
Portanto, é relevante ficar atento nos próximos dias aos indicadores preliminares do IPC-S e IPC-Fipe, agendados para terça-feira, assim como ao IGP-M de setembro, que será divulgado na quinta-feira.
Uma sequência de dados abaixo das expectativas em relação à inflação pode impulsionar o mercado, especialmente se acompanhada por notícias positivas de Brasília.
Além disso, todos acompanharão os números das contas do Governo Central referentes a agosto na quinta-feira e o resultado consolidado das contas públicas na sexta-feira.
01:19 — Olhando para frente
Nos Estados Unidos, as ações experimentaram uma queda contínua durante quatro dias consecutivos na sexta-feira, já que os investidores estavam encontrando dificuldades para superar os efeitos da recente reunião do Federal Reserve.
Hoje de manhã, os futuros indicam um possível novo dia no vermelho. Os últimos dias têm sido tumultuados, especialmente após a decisão do Fed de manter as taxas de juros, o que gerou incertezas quanto aos próximos passos.
A greve no setor automobilístico dos EUA e a possível paralisação do governo estão aumentando a pressão sobre a curva de juros.
Nos próximos dias, o destaque será o índice de preços de despesas de consumo pessoal de agosto, uma medida de inflação crucial para o Fed, que será divulgada na sexta-feira.
Além disso, outros dados a serem observados incluem o índice de confiança do consumidor para setembro na terça-feira, o relatório de bens duráveis na quarta-feira e a terceira e última estimativa do crescimento do produto interno bruto para o segundo trimestre, que será publicada na quinta-feira.
02:09 — O desemprego precisa aumentar para dar conforto ao Fed
Nos Estados Unidos, a queda da inflação está ocorrendo de forma mais gradual em comparação com o final do ano passado.
Não há certeza de que ela atingirá a meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve sem um aumento significativo no desemprego, o que continua sendo uma possibilidade improvável.
O objetivo não declarado do Fed sempre foi combater a inflação sem causar um grande impacto no emprego e a notável resiliência da economia dos EUA, apesar dos 11 aumentos nas taxas de juros, alimentou a esperança de que uma "aterrissagem suave" seja possível.
Contudo, existem várias incertezas no horizonte, incluindo o endurecimento dos critérios de crédito pelos bancos e a retomada dos pagamentos dos empréstimos estudantis em apenas algumas semanas.
Até mesmo Powell expressou algum ceticismo em relação à probabilidade de uma "aterrissagem suave" durante seus comentários na quarta-feira passada, após os membros da Fed votarem para manter as taxas de juros no nível mais alto dos últimos 22 anos.
Embora seja um resultado possível, é difícil de alcançar. Sem uma recessão, mesmo que seja leve, a inflação pode se manter em níveis elevados.
03:05 — O governo americano corre o risco de parar
Apesar da economia apresentar aspectos otimistas, a preocupação prevalece em Washington, onde os rumores de outro shutdown do governo estão mais uma vez nas manchetes.
A menos que haja um acordo surpresa, os EUA estão à beira de entrar em um novo "shutdown" em 1º de outubro (os funcionários federais terão salários atrasados, mas o pagamento da dívida continuará sendo feito).
Desde 1976, tivemos 20 paralisações do governo federal americano, com uma média de duração de oito dias.
Em termos de desempenho de mercado, a resposta costuma ser neutra. O retorno médio do S&P 500 é exatamente 0,0% durante todos os períodos de paralisação desde 1976. Contudo, o impacto nas taxas de juros pode ser diferente desta vez, gerando mais aversão ao risco no mercado.
04:01 — Ainda sem acordo
O presidente Vladimir Putin afirmou que a Rússia não retornará ao acordo que permitia o transporte global de grãos ucranianos até que o Ocidente atenda suas exigências de facilitar as exportações agrícolas russas.
Nem o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, conseguiu reativar o acordo de cereais do Mar Negro.
O acordo mediado pela ONU, que garantia a passagem segura dos embarques de cereais ucranianos para os mercados de África, Médio Oriente e Ásia, está suspenso desde julho.
Apesar de parecer distante, a guerra contribuiu para um ambiente extremamente volátil nos preços globais dos cereais em 2022, com crises e escassez emergindo em regiões da Ásia, África, Médio Oriente e América Latina.
Para desviar as críticas de que a Rússia está privando os países em desenvolvimento de alimentos, a Rússia fornecerá até um milhão de toneladas de cereais à Turquia a preços reduzidos para processamento em fábricas turcas e posterior envio para os países mais necessitados (Burkina Faso, Zimbabué, Mali, Somália, Eritreia e República Centro-Africana). Podemos voltar a testemunhar volatilidade neste mercado no último trimestre.