Por Matheus Spiess
A BLACK FRIDAY DIANTE DA DESACELERAÇÃO ECONÔMICA
No cenário internacional, após um dia de relativa inércia devido à escassez de liquidez global, os investidores retomam as atividades nos Estados Unidos, embora com horários reduzidos.
É provável que o volume de negociações permaneça baixo, com Wall Street encerrando suas operações às 15 horas de Brasília e os Treasuries às 16 horas.
Antes desse fechamento, o mercado pode assimilar alguns dados relacionados à atividade econômica nos Estados Unidos.
Na Europa, que encerra suas atividades simultaneamente com os americanos hoje, observamos o PIB alemão, que continua indicando uma situação recessiva, e o índice Ifo de sentimento das empresas, abaixo das expectativas.
Após a ausência de sinais expressivos de Wall Street e a falta de indicadores positivos nos mercados europeus durante o pregão anterior, os mercados de ações asiáticos apresentaram um desempenho misto nas negociações de sexta-feira, com os investidores demonstrando relutância em realizar movimentos significativos.
A reação dos mercados foi principalmente influenciada pelos dados econômicos internos do Japão, que revelaram uma inflação ainda em níveis elevados. Enquanto isso, os ativos europeus iniciam a sexta-feira em ascensão, assim como os futuros americanos.
No cenário internacional, mantemos a atenção no conflito em curso no Oriente Médio e nas expectativas para a próxima reunião da Opep+.
A ver…
00:47 — Mais uma vitória do Haddad
No Brasil, que alcançou a máxima em dois anos no fechamento de ontem, os investidores enfrentarão hoje a absorção do novo Plano Estratégico da Petrobras, uma peça fundamental do ponto de vista sistêmico devido ao peso da empresa no índice, juntamente com algumas questões fiscais pertinentes.
Enquanto as reações das ADR no exterior são modestamente positivas (apesar da redução da previsão de pagamento de dividendo), toda a atenção está voltada para a declaração de Haddad, prevista para a manhã de hoje.
O pronunciamento do ministro ocorre logo após Lula ter vetado integralmente o projeto que estende a desoneração da folha. Sem dúvida, foi uma grande vitória para Haddad, mas o custo político dessa decisão permanece incerto.
O apoio à equipe econômica nesta fase final do ano é evidente (o projeto teria um custo anual de R$ 9 bilhões até 2027).
A incerteza persiste sobre se esses esforços serão suficientes para equilibrar as contas públicas, ancorar as expectativas e, por conseguinte, aliviar a pressão sobre a curva de juros.
A preocupação surge do fato de que a expectativa era apenas um veto parcial ao projeto, especialmente em relação ao aumento da desoneração das empresas de ônibus e aos benefícios aos municípios.
Um veto total à desoneração de 17 setores pode gerar controvérsias no Congresso, em um ambiente em que o governo já enfrenta a ameaça de derrubada dos vetos ao Carf e ao arcabouço.
A sessão foi adiada ontem, mas pode ser retomada a qualquer momento como represália ao governo.
01:38 — Otimistas
A desaceleração tanto da economia quanto da inflação, juntamente com um cenário externo menos tenso, cria um ambiente no qual o Banco Central pode considerar acelerar o corte da Selic em 2024, dependendo dos dados do início do próximo ano.
Até lá, é esperado que o BC mantenha o atual ritmo de flexibilização. Entretanto, se o crescimento for mais baixo do que o esperado no segundo semestre, o BC pode sentir-se mais inclinado a intensificar o ritmo de corte posteriormente.
Desta forma, é possível que caminhemos para uma taxa de um dígito até o final do próximo ano.
Apesar do recente rali na bolsa, impulsionado pela trégua nas taxas de juros de mercado nos EUA, o Ibovespa já ultrapassou o CDI no acumulado do ano, e as perspectivas permanecem favoráveis para o avanço em 2024.
Com o ciclo de corte de juros consolidando-se como um vento favorável, os investidores estrangeiros voltaram sua atenção para o Brasil, beneficiando o lado técnico do mercado.
A alocação em bolsa ainda permanece relativamente baixa, variando entre 7% e 8%, atingindo um dos menores níveis históricos.
A rara combinação de preços atrativos, qualidade, baixo nível de endividamento e o início do ciclo de corte de juros contribuem para um cenário alinhado.
De acordo com o JPMorgan, o Brasil destaca-se como uma estrela nos investimentos globais entre os países emergentes.
Enquanto a China desacelera, a Turquia enfrenta problemas graves, e a Argentina lida com uma inflação superior a 140%, o Brasil, mesmo com seus próprios desafios, surge como uma opção atrativa.
02:42 — Olhando para o ano de 2024…
O mercado americano retoma hoje suas atividades em um pregão mais curto. Nos bastidores, enquanto se antecipa uma Black Friday possivelmente mais contida, reflexo da desaceleração prevista para este quarto trimestre, alguns investidores já começam a moldar suas expectativas para as eleições de 2024.
Em menos de um ano, os EUA escolherão um novo presidente, sendo altamente provável que seja alguém que já tenha cumprido um mandato.
Nas pesquisas recentes, Donald Trump lidera com folga sobre Joe Biden em cinco dos seis estados cruciais para determinar o vencedor de uma eleição nos EUA.
A verdade é que as eleições americanas tornaram-se uma competição baseada na rejeição.
A insatisfação profunda com a presidência de Biden é uma leitura desfavorável para os democratas. Contudo, esta eleição provavelmente não se concentrará na economia, dado que tanto Biden quanto Trump tomaram decisões semelhantes nesse aspecto.
A expansão fiscal, exemplificada pelo corte de impostos corporativos de Trump e pela Lei de Redução da Inflação de Biden, não parece ter um fim à vista, e não há atualmente um plano crível para a redução do déficit americano.
O Congresso também deve ser um fator limitante, uma vez que nenhum partido provavelmente conseguirá estabelecer uma maioria sólida nas duas casas. Nesse sentido, o próximo governo também pode enfrentar fragilidades.
Apesar disso, os anos de eleições presidenciais em que um titular busca a reeleição tendem a ser positivos para o mercado de ações, pois buscam estimular a economia.
Desde 1932, o S&P 500 teve um retorno médio de 7% nos 12 meses anteriores às eleições, em comparação com uma média de retorno de 9% fora dos anos eleitorais.
No entanto, quando os titulares buscam a reeleição, o S&P 500 não apresentou quedas em anos de eleições presidenciais desde 1952.
No curso normal do ciclo presidencial, o terceiro ano, que agora se aproxima do fim, costuma ser o melhor (com o S&P subindo quase 20% até o momento).
Em outras palavras, de acordo com o histórico, o próximo ano deveria ser favorável, embora talvez não tanto quanto 2023.
03:51 — O problema fiscal europeu
O FMI passou a recomendar ajustes fiscais mais significativos para a Europa. Países como Espanha, Itália e França viram a sua relação entre dívida/PIB aumentar significativamente.
A resposta fiscal à Covid foi apropriadamente muito forte, mas levou ao aumento dos níveis de dívida e de déficit.
Agora eles realmente precisam apertar o cinto e fazer ajustes nas contas públicas. É um momento difícil para as autoridades orçamentárias.
Quando é necessário um corte no momento em que a pressão pública por mais apoio fiscal é forte, é difícil fazê-lo.
Mas é necessário, porque simplesmente não sabemos o que está à espreita em um mundo tão complexo como o atual.
Qual será o próximo choque? Não sabemos. O ideal seria separar reservas para caso o mundo seja atingido novamente.
04:39 — Uma trégua?
A breve trégua entre Israel e o Hamas começará na manhã desta sexta-feira, um dia depois do previsto.
O cessar-fogo se estenderá por quatro dias em Gaza, enquanto um primeiro grupo de mulheres e crianças reféns será libertado pelo Hamas a partir da tarde de hoje.
O Hamas deverá libertar 50 reféns no total, enquanto Israel deverá libertar 150 palestinos presos.
Todos os 200 serão mulheres e crianças. No entanto, assim que a trégua teve início, o Hamas retomou os bombardeios em Israel, surpreendendo poucos.
Quem diria que um grupo terrorista não iria honrar a trégua, não é mesmo? Apesar disso, o conflito parece com chances menores de escalada.
Enquanto isso, a região enfrenta agitação devido ao adiamento da reunião da Opep+ para 30 de novembro, devido às crescentes divergências entre os membros do grupo.
A expectativa é que Rússia e Arábia Saudita concordem em estender os cortes na produção até 2024, com revisões mensais.
Olhando para o futuro, a produção pode ser reduzida novamente, mas há impasse sobre quais países devem assumir o ônus.
Assim, as tensões geopolíticas em torno da principal commodity do mundo, mesmo volátil, mantêm o preço do barril elevado.