Bom dia, pessoal.
Os mercados globais estão buscando alguma recuperação na manhã desta terça-feira.
A agenda inclui divulgação de resultados significativos no exterior, com empresas como Microsoft e Alphabet (a controladora do Google e do YouTube), e a análise de dados importantes da Zona do Euro e de outras regiões, como o PMI, que mantém níveis baixos entre os países europeus, mas nada muito distante do esperado.
É reconfortante que a incursão terrestre em Gaza tenha sido adiada, embora ainda haja a possibilidade de ocorrer em breve, o que mantém uma tensão na região preocupante.
Entretanto, na Ásia e na Oceania, o dia não apresentou um quadro tão positivo, com diversas quedas em diferentes países devido a leituras fracas da atividade empresarial no Japão e na Austrália.
Embora os mercados chineses tenham se recuperado dos níveis mínimos anteriores à pandemia, graças a um fundo estatal que começou a adquirir algumas ações, essa recuperação não foi suficiente.
Além disso, surgem rumores de que o Banco do Japão (BoJ), a autoridade monetária japonesa, possa realizar mais ajustes em sua política de juros, o que gera apreensão entre os investidores, uma vez que os títulos japoneses competem com os títulos americanos.
A ver…
00:46 — Mexendo na petroleira
No Brasil, a notícia de que o conselho de administração da Petrobras aprovou uma proposta de revisão da política de indicação de membros da alta administração e conselho fiscal causou preocupação.
Essa alteração no estatuto social ressuscitou preocupações sobre possível interferência política, levando a uma perda de mais de R$ 30 bilhões no valor de mercado da empresa.
Infelizmente, o esclarecimento da empresa só veio após o fechamento do mercado, resultando em um caso de "too little too late".
Mais uma vez, o mercado local foi afetado pela comunicação confusa da companhia, que constantemente enfrenta suspeitas de desvio de finalidade.
Além disso, a queda do preço do petróleo no dia anterior também afetou a petroleira.
Além desses eventos e do início da temporada de resultados, o mercado está se preparando para a reunião de política monetária na próxima semana.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, discutiu em um evento, entre outros tópicos, a influência do ambiente externo, que está sob pressão devido às altas taxas de juros nos Estados Unidos e à guerra no Oriente Médio.
Complementando o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de agosto divulgado na última sexta-feira, teremos na quinta-feira o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que ainda não deve refletir a queda no preço da gasolina.
Além disso, o problema fiscal interno está gerando preocupações renovadas. Nesse contexto, é relevante observar a divulgação dos dados de arrecadação federal hoje.
Por fim, mas não menos importante, está prevista a votação do projeto de taxação dos fundos exclusivos e offshore na Câmara.
Este projeto faz parte de várias iniciativas do governo para aumentar a arrecadação, e sua aprovação é importante para moldar as expectativas do mercado, mesmo que exista outra possível derrota relacionada à prorrogação da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia.
Pelo menos a reforma tributária voltou a avançar, com o relatório sendo lido possivelmente amanhã na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
Quanto menor a incerteza fiscal, melhor para a curva de juros brasileira.
01:37 — Sinais de recuperação
Nos Estados Unidos, os rendimentos dos títulos caíram ontem, o que impulsionou as ações de empresas voltadas para o crescimento.
Uma das razões para essa queda foi o anúncio de Bill Ackman, da Pershing Square, de que sua empresa encerrou suas posições pessimistas contra títulos de longo prazo (mais detalhes no próximo tópico).
Isso trouxe alívio para as empresas mais sensíveis às taxas de juros, especialmente aquelas que esperam obter a maioria de seus lucros em um futuro distante.
Para ilustrar, Nvidia teve um aumento de 3,8%, Airbnb subiu 3,4% e Netflix andou 1,5%.
O foco dos investidores pode mudar do cenário macroeconômico para os resultados corporativos durante o restante desta semana, já que estamos adentrando o auge da temporada de resultados do terceiro trimestre.
Hoje, as atenções estão voltadas para empresas como Alphabet, Microsoft, General Motors e Verizon Communications.
Até o final da semana, teremos relatórios da Meta Platforms, Amazon, Boeing, Intel, Exxon-Mobil e muitas outras.
Até o momento, nesta temporada de resultados, o lucro por ação do S&P 500 está caminhando para um aumento de 1,1% em comparação com o ano anterior, com um crescimento de receita de 1,0%.
02:28 — 5%: um patamar importante
O investidor bilionário Bill Ackman anunciou que encerrou sua aposta contra os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, à medida que a queda nos preços dos títulos da dívida norte-americana levou brevemente a taxa de referência de 10 anos acima de 5% pela primeira vez desde 2007.
Em sua avaliação, há um nível significativo de risco no cenário global para manter posições vendidas em títulos nos atuais níveis de longo prazo.
Ele acrescentou que a economia está desacelerando mais rapidamente do que sugerem os dados recentes.
Essa perspectiva veio acompanhada da ação da Pacific Investment Management, de Bill Gross, que também está comprando títulos nesse ponto de preço (um pouco mais técnico).
Esses movimentos sugerem que talvez tenhamos atingido um patamar crucial nas taxas de juros nos EUA.
A divulgação do PIB dos EUA do terceiro trimestre na quinta-feira será importante para avaliar essa percepção.
A mediana das expectativas na Bloomberg gira em torno de 4%, e parte do potencial impacto de um forte crescimento do PIB já foi incorporada ao mercado.
No entanto, o Federal Reserve de Atlanta continua indicando a possibilidade de um número superior a 5%.
Portanto, no curto prazo, ainda podemos enfrentar alguma volatilidade nos preços dos títulos.
No entanto, se a atividade econômica desacelerar a partir de outubro e o Fed interromper, mesmo que parcialmente, o processo de redução do balanço, pode haver espaço para mais quedas nas taxas de juros.
03:14 — Os próximos passos da guerra
O Hamas disse que libertou mais dois reféns capturados durante os ataques terroristas a Israel há mais de duas semanas.
Entretanto, há apelos crescentes dentro de Israel para repensar o âmbito de uma invasão terrestre da Faixa de Gaza.
Pessoas familiarizadas com as discussões do gabinete de guerra do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dizem que a pressão vem de inúmeras preocupações: o medo de que o Hezbollah no Líbano entre pelo norte com seus mísseis, o destino de cerca de 200 reféns em Gaza e o risco de baixas militares israelenses (será um conflito muito difícil, por mais que Israel seja infinitamente superior militar e tecnologicamente).
Essa movimentação com reféns foi intermediada pelo Qatar.
O pequeno país rico em petróleo está numa posição única para estabelecer a ligação entre os EUA, aliados de Israel, e o Hamas.
O motivo? O Qatar acolhe uma base aérea americana estratégica dentro das suas fronteiras, o que lhe valeu a designação de "Grande Aliado não-OTAN", que os EUA normalmente reservam para países com uma relação estreita como a Austrália e o Japão.
Ao mesmo tempo, o Qatar também acolhe as lideranças do Hamas (Doha é sede internacional do grupo terrorista, por exemplo).
É uma linha tênue para andar, mas ser o mediador aumenta o perfil internacional do Qatar.
Tais tratativas tiraram a pressão de curto prazo de uma incursão terrestre em Gaza, aliviando o preço do barril de petróleo (hoje, o barril voltou a subir para US$ 90).
04:09 — "Dolarizar la economía…"
O candidato que já foi o favorito nas eleições presidenciais na Argentina, Javier Milei, autodenominado "anarcocapitalista", defende a substituição do peso pelo dólar americano.
Enquanto isso, o atual candidato do partido peronista, Sergio Massa, que também atua como ministro da Economia, pretende manter a moeda nacional, mesmo com a inflação ultrapassando 100%.
Lamentavelmente, como discutimos anteriormente, o plano que parecia mais sensato, apresentado por Patricia Bullrich, que sugeria a coexistência do peso e do dólar como duas moedas de curso legal, foi eliminado quando ela ficou em terceiro lugar.
Agora, porém, buscando apoio, é possível que um dos dois candidatos adote um discurso mais moderado e incorpore as ideias de Bullrich. Seria positivo.
Isso se deve, em parte, ao fato de que os próximos anos serão desafiadores para o presidente eleito em novembro, já que o Congresso estará bastante dividido.
Com a inflação ultrapassando os 130%, muitos eleitores veem em Milei uma solução desejada.
No entanto, os argentinos, ansiosos por mudanças, talvez não compreendam completamente as implicações de abandonar sua independência monetária.
Vale lembrar que a Argentina tentou dolarizar sua economia na década de 1990, o que não deu certo.
Estamos diante do antigo "Trilema de Mundell", onde o país deve escolher apenas dois entre política monetária independente, taxa de câmbio fixa e livre mobilidade de capitais.
Internacionalmente, o modelo mais comum abre mão do controle do câmbio, permitindo que o mercado determine o valor da moeda.
Isso iguala os diferenciais de juros e possibilita que o Banco Central conduza sua política monetária de forma autônoma, como ocorre no Brasil, por exemplo, e em outros países da OCDE.
A proposta de Milei, que envolve deixar de controlar a taxa de juros pelo BC, semelhante ao que acontece no Equador atualmente, provavelmente encontrará obstáculos e poderá cair por terra.
As próximas semanas prometem ser interessantes na Argentina.