A última sexta-feira antes do Natal é marcada pela divulgação do Índice de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) dos EUA referente a novembro, sendo este o indicador de eleição pelo Fed para avaliar o ritmo de crescimento dos preços na economia norte-americana, proporcionando maior clareza ao mercado sobre o momento do ajuste das taxas de juros.
Seguindo os sinais amplamente positivos de Wall Street durante o pregão de ontem, os mercados de ações asiáticos encerraram em alta nesta sexta-feira, após dados dos EUA indicarem desaceleração do crescimento econômico e um aumento nos pedidos de seguro-desemprego.
Os mercados europeus e os futuros americanos iniciam o dia em queda, aguardando com expectativa os dados programados para hoje.
O sentimento poderá ser alterado logo após a divulgação do PCE, dependendo do resultado (um número abaixo do esperado deverá ser absorvido de maneira positiva, por exemplo, e vice-versa).
As commodities registram alta nesta manhã, o que pode impulsionar o índice brasileiro, que, além de refletir a dinâmica global e ser sensível à curva de juros nos EUA, também acompanha de perto a agenda de Brasília neste último dia de atividade do Congresso — o avanço observado nos últimos dias foi notável.
A ver…
00:57 — Os trabalhos em Brasília não param
O cenário atual, no qual se antecipa a continuidade do ciclo de flexibilização da política monetária no Brasil e o início dos cortes de juros nos EUA, é benéfico para o mundo como um todo, incluindo o Brasil.
O país tem se beneficiado desse otimismo em relação à redução das taxas de juros, aliado à aprovação consecutiva da agenda econômica no Congresso.
Isso se refletiu no fechamento em máxima histórica, atingindo os 132 mil pontos ontem.
Hoje, a expectativa é influenciada pela divulgação do PCE americano e pelo desempenho das commodities, sendo que a alta nos preços do minério de ferro na China ontem impulsionou significativamente nossa performance.
A trajetória continua condicionada ao desfecho do balanço da equipe econômica no Congresso em 2023.
O último dia de atividade do Congresso chama a atenção, marcado por avanços significativos nos últimos dias.
Ontem, foi aprovado o projeto de lei que visa estabelecer o mercado regulado de carbono no país, parte da "agenda verde" apoiada por Arthur Lira.
O texto, agora encaminhado para o Senado, tem como objetivo reduzir as emissões de gases poluentes para que o Brasil cumpra compromissos multilaterais relacionados ao meio ambiente.
Além disso, foi aprovada ontem a taxação das apostas esportivas, contribuindo para o aumento da arrecadação no próximo ano (R$ 10 bilhões em 2024).
Para encerrar o ano, o plenário do Congresso deve votar hoje o orçamento da União para 2024.
01:42 — O dado mais importante da semana
Nos Estados Unidos, as ações se recuperaram ontem da queda registrada na quarta-feira, evidenciando outra recuperação abrangente, com 459 ações do S&P 500 encerrando em alta.
Dessa forma, é possível afirmar que o Rali de Natal mantém seu curso.
Os dados divulgados ontem incluíram a terceira e última estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA para o terceiro trimestre.
A economia expandiu-se a uma taxa anual de 4,9% no trimestre, um pouco abaixo da taxa de crescimento anualizada de 5,2% na segunda estimativa.
Mesmo assim, representa um crescimento notável para a economia dos EUA. Vale lembrar do cenário há um ano, quando havia preocupações generalizadas sobre uma possível recessão em 2023, que hoje parece distante.
No entanto, já se observa uma normalização.
O quarto trimestre, por exemplo, indica uma desaceleração em relação ao terceiro.
O modelo GDPNow do Federal Reserve Bank de Atlanta, que utiliza dados econômicos recentes para prever o PIB do trimestre em curso, sugere uma taxa de crescimento de 2,7% para o quarto trimestre.
Embora não alcance os 4,9%, ainda é uma performance sólida.
Essa normalização é bem-vinda para permitir que o Fed ajuste as taxas de juros de forma saudável.
Para o dia de hoje, aguardamos o índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE) de novembro.
O núcleo do indicador, excluindo alimentos e energia, deve registrar um aumento de 3,3%, em comparação com 3,5% em outubro. Números abaixo das expectativas seriam bem recebidos.
02:36 — O ritmo de queda dos juros na terra do Tio Sam
Muitos investidores internacionais começam a ponderar sobre a possível limitação temporal e impacto menos expressivo dos prováveis cortes nas taxas de juros pelo Fed, em comparação com episódios anteriores.
Essa consideração é crucial para avaliar as perspectivas de ganhos nas ações no próximo ano.
Ao analisarmos o intervalo entre o primeiro e o último corte historicamente, nos três pivôs anteriores, o período de 2000 a 2003 foi o mais extenso, levando os custos dos empréstimos a mínimas históricas, mas resultando em ganhos relativamente modestos para o índice de referência dos EUA.
Contudo, o pivô de 2007 a 2008 apresentou quase a mesma quantidade de cortes nas taxas em metade do tempo, resultando em uma recuperação ainda mais substancial.
Esse episódio, evidentemente, foi marcado pelo início da era histórica de taxas de juros próximas de zero, que perdurou boa parte da década seguinte.
Posteriormente, houve o pivô de 2019 a 2020, que proporcionou menos da metade dos cortes nas taxas em comparação com 2007-2008, mas resultou em ganhos dobrados para o S&P 500.
Isso se deveu, em grande parte, ao estímulo fiscal governamental para mitigar os impactos da pandemia de Covid na economia.
Desta vez, o pivô do Fed se destaca pela sua insignificância em diversas dimensões.
Os 75 pontos-base de reduções projetados pelos responsáveis do Fed para 2024 representam apenas uma fração da flexibilização observada nos pivôs anteriores.
Mesmo que o banco central confirme as expectativas do mercado para cortes superiores a 175 pontos-base, ainda estará longe da magnitude dos pivôs passados.
Colocando tudo isso no contexto dos valuations atualmente elevados do S&P 500, há uma percepção de que um pivô do Fed desta vez pode não ser a solução milagrosa que se imaginava…
03:29 — O protecionismo está de volta
O movimento em direção a políticas comerciais protecionistas persiste nos EUA, embora sob diferentes rótulos.
As expressões "America First" e "Make America Great Again" de Donald Trump foram substituídas pelos termos "redução de riscos", "diversificação" e "nivelamento do campo de jogo" de Joe Biden.
Apesar das mudanças na retórica, os resultados muitas vezes se assemelham, baseando-se em estratégias que visam abordar preocupações de segurança nacional, perda de empregos na indústria e riscos associados à cadeia de abastecimento.
Essa nova dinâmica traz consigo riscos adicionais, como o potencial aumento das pressões inflacionárias decorrentes de medidas protecionistas.
Nos últimos anos, os Estados Unidos promulgaram leis de grande vulto, como a Lei de Redução da Inflação, que direcionou bilhões de dólares para fortalecer a produção doméstica de energia em resposta ao fechamento de torneiras por Vladimir Putin na União Europeia.
A Lei CHIPS também concedeu generosos incentivos fiscais e subsídios para sustentar a indústria nacional de semicondutores, enquanto controles de exportação foram implementados para conter o avanço chinês.
Assim, o mundo adentra uma nova era de práticas comerciais, afastando-se das políticas liberalizadas e de mercado livre que anteriormente promoviam a globalização e a democracia.
04:18 — Sai Angola e entra Brasil
A Angola acaba de se retirar da OPEP após uma disputa sobre as quotas de produção de petróleo, encerrando uma filiação que durou 16 anos.
Esse movimento segue outras saídas recentes, como as do Qatar, Indonésia e Equador.
As notícias fizeram com que os futuros do petróleo Brent caíssem até 2,4%, mas recuperaram terreno ao longo do dia, encerrando com uma queda de apenas 0,4%.
Importante notar que essa saída não indica uma ruptura iminente na OPEP+ nem ameaça os cortes na oferta.
A redução do cartel para 12 países ocorre em um momento em que a Angola enfrenta desafios para sustentar os preços do petróleo, que diminuíram nos últimos meses.
No entanto, essa retirada não necessariamente aponta para um grande problema imediato para a organização ou para o grupo mais amplo da OPEP+, que inclui a Rússia e, em breve, deverá contar com o Brasil como membro associado.
Isso destaca, de forma simbólica, que o Brasil está se unindo a um grupo cada vez mais fragmentado, apesar de sua importância contínua no cenário atual.