O QUE VEM NA ATA?
O cenário doméstico hoje estará focado no debate sobre política fiscal e monetária, dois importantes vetores para o Brasil em 2023.
Enquanto isso, investidores globais absorvem a decisão do Banco do Japão de manter a taxa básica de juros inalterada.
Embora largamente esperada, essa decisão está gerando volatilidade no mercado cambial, potencialmente influenciando a força do dólar ao longo das negociações desta terça-feira.
Na agenda do dia, destacam-se discursos de autoridades monetárias nos EUA e a divulgação do índice de inflação da Zona do Euro.
Os mercados de ações asiáticos apresentaram um fechamento misto hoje, com um tom levemente otimista predominante.
Essa inclinação positiva segue os sinais encorajadores de Wall Street durante as negociações de ontem, impulsionados pelo otimismo em relação às perspectivas das taxas de juros.
Essa otimização ganhou força após as últimas projeções do Federal Reserve dos EUA indicarem possíveis cortes nas taxas no próximo ano, apesar de alguns representantes do Fed terem subsequentemente refutado as esperanças dos investidores sobre a iminência desses cortes.
A ver…
00:49 — Um cautela sensata
No Brasil, a preocupação dos investidores concentra-se na ata do Copom, programada para ser divulgada nas primeiras horas da manhã. Este documento tem o propósito de elucidar o tom conservador observado na semana anterior.
Permaneço com a perspectiva de que esse conservadorismo é simplesmente uma discrepância entre a realidade e as expectativas de investidores mais ansiosos, influenciados por manchetes vazias.
Encaro de forma positiva a possibilidade de mais cortes de 50 pontos-base no próximo ano, sem a necessidade de uma aceleração prematura.
Essa visão otimista é respaldada pela prudência que considero sensata, levando em consideração a ancoragem das expectativas e o cenário fiscal.
A estratégia desempenha exatamente o papel de alinhar essas expectativas. Quanto a esse tema, é relevante acompanhar a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 no Congresso hoje.
Além da promulgação da reforma tributária até sexta-feira, cuja importância é inegável, mas tem menos relevância para o debate imediato sobre arrecadação que estamos monitorando, também aguardamos a votação do texto referente às subvenções no Senado.
01:37 — Colocando os pés dos investidores no chão
Nos Estados Unidos, a relação de membros do Federal Reserve que rejeitaram a defesa de cortes nas taxas cresceu ao longo do fim de semana e ontem.
Pelo menos mais três membros do Fed expressaram, essencialmente, a opinião de que ainda não é apropriado implementar cortes.
No fechamento do pregão de segunda-feira, um membro do Fed adotou uma postura mais conciliatória e se mostrou publicamente aberto à possibilidade de cortes.
No entanto, ficou claro que a autoridade monetária está buscando ancorar as expectativas dos investidores mais ansiosos.
É evidente que os cortes nas taxas também poderiam sustentar uma visão cética no próximo ano. Se o Fed se ver compelido a realizar seis cortes, é provável que a economia tenha enfraquecido significativamente.
Atualmente, as taxas mais baixas são interpretadas como um sinal de resiliência econômica.
No entanto, daqui a um ano, essa narrativa pode se transformar.
Poderíamos passar a enxergar os cortes não tanto como impulsionadores do mercado, mas sim como um remédio necessário.
02:24 — Um banco central confuso e uma transação importante
Do outro lado do globo, o Banco do Japão, reconhecido por sua notável inatividade em questões de política monetária, manteve sua tradição ao manter a taxa de juros inalterada em 0,1% negativo.
A única alteração reside na possibilidade de a autoridade monetária ajustar sua política de controle da curva de rendimentos, que visa um rendimento-alvo de 0% para as obrigações japonesas a 10 anos, com um limite máximo de 1%.
Após a decisão, o iene sofreu uma queda acentuada, mesmo que o posicionamento não tenha se alterado e fosse amplamente esperado.
A falta de surpresas no cenário monetário não se replicou no cenário corporativo.
A US Steel, uma siderúrgica centenária americana com 122 anos de história, está passando por uma transformação japonesa em um acordo de US$ 14,1 bilhões.
A empresa, outrora a maior do mundo e um símbolo do poder industrial dos EUA, com J.P. Morgan e Andrew Carnegie entre seus fundadores, concordou em ser adquirida pela japonesa Nippon Steel.
Se a compra for aprovada pelos reguladores americanos e pelos acionistas da US Steel, a Nippon se tornará a segunda maior empresa siderúrgica global e conquistará uma posição significativa no mercado dos EUA, onde o aço é amplamente utilizado, especialmente na fabricação de automóveis.
03:18 — Os problemas geopolíticos
Em 2020, a Covid dominou, 2021 foi marcado pela vacinação e impacto nas cadeias de suprimentos, 2022 enfrentou desafios inflacionários, e 2023 foi focado na dinâmica das taxas de juros.
Agora, em 2024, o principal risco para os investimentos parece residir na geopolítica.
Tradicionais relações e alianças estão desmoronando, e um mundo mais polarizado dá lugar ao risco estrutural do mercado. Um desses riscos já se evidencia com os rebeldes Houthi, apoiados pelo Irã, realizando repetidos ataques de drones e mísseis contra navios comerciais no Mar Vermelho.
Os Houthis inicialmente anunciaram a intenção de atacar navios vinculados a Israel em solidariedade ao Hamas.
Contudo, essa ameaça se estendeu a todas as embarcações com destino a Israel, persistindo os ataques independentemente do destino.
Navios americanos têm neutralizado ameaças no Mar Vermelho desde o início do conflito entre Hamas e Israel, mas agora se vislumbra a necessidade de uma resposta mais robusta.
A possibilidade de uma escalada no conflito permanece uma preocupação iminente.
04:06 — Já está afetando a cadeia de suprimentos
O Estreito de Bab el-Mandeb, situado entre o Mar Vermelho e o Golfo de Adem, representa uma passagem marítima vital, facilitando o comércio mundial e desempenhando um papel crucial no transporte global de mercadorias, especialmente petróleo bruto.
Os ataques dos Houthis resultaram no aumento dos prêmios de seguro, levando até mesmo as maiores empresas de transporte marítimo de contêineres a evitar o Canal de Suez, optando pela rota mais longa contornando a África (sim, aquela rota bem ‘curta’ feita por Vasco da Gama no século 15).
A British Petroleum tornou-se recentemente a mais recente empresa a suspender o transporte marítimo pelo Mar Vermelho, citando as ameaças violentas na região.
Pelo menos outras nove transportadoras, incluindo a gigante dinamarquesa Maersk, anunciaram sua decisão de se afastar temporariamente dessas águas perigosas.
Essa situação cria um problema global significativo, considerando que o Mar Vermelho deságua no Canal de Suez, a rota marítima mais eficiente entre a Europa e a Ásia, por onde transita cerca de 12% do comércio mundial.