REFLEXOS DE INQUIETUDE: CONTEMPLANDO A INFLAÇÃO NAS TERRAS DO TIO SAM
Bom dia, pessoal.
A principal discussão gira em torno da divulgação da inflação ao consumidor nos Estados Unidos. Hoje, os futuros das ações dos EUA começaram em queda, após uma sessão anterior mista nos principais índices, enquanto os mercados europeus também abriram em território negativo.
A expectativa é que a inflação americana aumente de 3,2% no mês passado para 3,6%, o que coloca em destaque as expectativas para as próximas ações do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA.
Para piorar a situação, o PIB do Reino Unido teve uma queda em julho, oferecendo pouco espaço para otimismo.
Na Ásia, o cenário não foi dos mais favoráveis. A inflação dos preços no produtor japonês ficou ligeiramente abaixo das previsões, logo após o mercado reagir de forma surpreendentemente contracionista às declarações do presidente do Banco do Japão (BoJ), Kazuo Ueda.
Agora, há expectativas de que o banco central japonês abandone em breve sua política de juros negativos. Essa mudança poderia ser positiva para os bancos japoneses, mas também sinaliza uma postura mais cautelosa em relação ao setor imobiliário.
A ver…
00:42 — Um bom IPCA
No Brasil, os investidores continuam reagindo positivamente ao recente dado de inflação ao consumidor divulgado ontem. O IPCA de agosto registrou um aumento de 0,23% em relação ao mês anterior, ficando abaixo das expectativas do mercado.
Apesar da aceleração, que já era prevista para o segundo semestre, o dado trouxe ânimo ao mercado, que agora considera novamente a possibilidade de um corte de 75 pontos-base na taxa de juros ainda em 2023, talvez em novembro ou dezembro (caso ocorra, provavelmente seria em dezembro), mudando a Selic terminal para o ano.
Vale a pena acompanhar hoje o relatório mensal de petróleo da Agência Internacional de Energia, pois isso pode afetar os preços do petróleo, assim como o dado de inflação dos Estados Unidos, que tem impacto internacional sobre o dólar, ambos sendo fatores relevantes para a inflação.
Embora nosso cenário base ainda aponte para cortes de juros da mesma magnitude (50 pontos-base) até o final do ano, uma aceleração desse processo seria bem recebida, pois contribuiria para a revisão para cima das avaliações dos ativos locais e poderia impulsionar os lucros corporativos, reduzindo os gastos com serviço da dívida.
Quanto à agenda política, hoje teremos duas votações importantes na Câmara dos Deputados. A primeira diz respeito ao projeto de compensação das perdas de Estados e municípios relacionadas ao imposto até 2026. A segunda votação envolve a regulamentação da tributação das apostas online, com uma alíquota de 18%.
Em relação a esse último ponto, o governo espera arrecadar R$ 700 milhões com a regulamentação, com a possibilidade de esse valor chegar a R$ 12 bilhões nos próximos anos. Para um governo que precisa de receitas adicionais, esses recursos seriam muito bem-vindos.
01:46 — No aguardo desses preços
Nos Estados Unidos, a economia ainda está navegando em águas incertas e a trajetória dos preços, a ser revelada hoje, permanece uma incógnita, 18 meses após o Federal Reserve começar sua luta contra a inflação. O temor da inflação pode ter sido atenuado, mas não desapareceu por completo.
O mercado está antecipando um relatório de inflação relativamente tranquilo hoje, com os preços de agosto apresentando um aumento de 3,6% em relação ao ano anterior.
Na comparação mensal, espera-se que o núcleo da inflação (que exclui alimentos e energia) suba 0,2%, seguindo a mesma tendência do mês anterior. Se não houver surpresas, é provável que o Federal Reserve mantenha as taxas de juros estáveis em sua próxima reunião de política monetária em setembro.
Apesar das preocupações inflacionárias, continuam surgindo relatórios positivos sobre a economia e o comportamento do consumidor.
Um exemplo disso é o Walmart, que emitiu uma nota otimista recentemente, indicando que as coisas estão indo melhor do que o que a empresa havia previsto. No entanto, é importante observar a situação da renda das famílias americanas.
O relatório anual sobre os rendimentos medianos dos EUA revelou uma queda nos rendimentos reais no ano passado.
Em outras palavras, o crédito e a poupança impulsionaram o consumo. Esse movimento parece ser mais estrutural do que se pensava, uma vez que a maioria das principais economias também experimentou uma redução nos salários reais.
02:28 — Medindo as incertezas
Os mercados têm aversão à incerteza e, com a chegada de setembro, parece que a certeza está ficando cada vez mais difícil de ser encontrada.
Nos Estados Unidos, por exemplo, existe a possibilidade de uma greve no sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística, o governo federal está à beira de outra possível paralisação (shutdown), as tensões geopolíticas com a China permanecem aquecidas novamente e os preços do petróleo podem se manter elevados até dezembro.
Além disso, paira a dúvida sobre se o Federal Reserve irá ou não aumentar as taxas de juros novamente.
Toda essa incerteza tem deixado os mercados hesitantes, oscilando à medida que narrativas contraditórias circulam em relação à inflação e às futuras elevações das taxas de juros pelo Fed.
No que diz respeito à inflação, se os investidores receberem notícias favoráveis, podemos ver a confiança retornar aos ativos de risco, com a crença de que o Fed já atingiu o pico das taxas de juros e não irá mais aumentá-las.
No entanto, se os dados não forem bem recebidos, isso poderá pressionar novamente os preços das ações, com a possibilidade de novos aumentos nas taxas de juros.
03:12 — Um novo iPhone
A Apple realizou ontem um esperado aumento de preço em seu iPhone de forma bastante discreta.
Na terça-feira, a empresa elevou o preço de apenas um modelo de iPhone, o Pro Max, que agora custa US$ 1.199, enquanto manteve os preços das outras três novas versões inalterados.
Além disso, o novo telefone, embora mais caro, oferece o dobro de capacidade de armazenamento, permitindo que a Apple argumente que não houve, de fato, um aumento de preço substancial.
Como resultado, a empresa viu seu valor de mercado cair consideravelmente na terça-feira, fechando no nível mais baixo desde 21 de agosto.
Historicamente, as ações da Apple costumam cair em média 0,2% no dia do anúncio de seus produtos. Esse padrão continuou ontem. Dado o peso significativo da Apple no mercado de ações e seu impacto global no campo da inovação, esse evento é essencialmente de natureza macroeconômica em escala global.
A Apple é, afinal, a empresa mais valiosa do mundo. A cada ano que passa, entretanto, o novo iPhone parece trazer inovações um pouco menos revolucionárias, embora a empolgação em torno do lançamento ainda seja notável.
O desafio de inovar nesse mercado tem se tornado cada vez mais difícil, e é por isso que a Apple está tão atenta à concorrência chinesa.
04:04 — Escalada sem fim
O petróleo atingiu seu patamar mais elevado em 10 meses, impulsionado pelas previsões da OPEP e dos Estados Unidos, que sugerem que os cortes na produção vão agravar a escassez no mercado nos próximos meses.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) está antecipando um déficit de 3,3 milhões de barris por dia no quarto trimestre, à medida que a Arábia Saudita prolonga seus cortes na produção. Este déficit pode ser o mais significativo em mais de uma década.
A restrição na oferta da Arábia Saudita, combinada com uma demanda recorde, elevou os preços do petróleo, com o Brent já ultrapassando a marca de US$ 92 por barril.
Além disso, perturbações no fornecimento de petróleo na Líbia, devido a uma tempestade devastadora, indicaram uma tensão de curto prazo nos mercados.
Ao mesmo tempo, o Cazaquistão anunciou uma redução em sua produção diária de petróleo para fins de manutenção.
O volume de 3,3 milhões de barris por dia previsto para o quarto trimestre é 1 milhão de barris por dia a mais do que algumas projeções de investidores do mercado de energia.
O mercado de petróleo pode ficar ainda mais apertado se a economia na Europa ou na China melhorar. Isso levanta a possibilidade de que o preço do petróleo Brent possa facilmente se encaminhar em direção à marca de US$ 100 por barril.