O SOL NASCE SOBRE OS ESCOMBROS: A FALTA DE PAZ É PREOCUPANTE
Em um dia que deveria ser menos agitado nos EUA devido ao feriado de Columbus Day, que fecha o mercado de Treasuries neste pregão, os investidores internacionais estão tentando assimilar os eventos do final de semana.
Os ataques terroristas do Hamas contra Israel agravam a instabilidade na região e prejudicam a percepção de risco dos investidores, provavelmente levando a uma resposta enérgica do governo israelense. Uma tragédia humanitária já ocorreu, resultando na morte de inúmeros inocentes.
Lidar com as consequências após esse impacto será extremamente desafiador. A aversão ao risco já se manifestou no pregão asiático, à medida que as atividades chinesas voltam após a Golden Week.
Os mercados europeus e os futuros americanos iniciam o dia em queda. Na sexta-feira, já tivemos uma reação volátil diante do relatório de empregos dos EUA.
Os empregadores criaram 336 mil empregos em setembro, a maior expansão desde janeiro. Os preços das ações e dos títulos inicialmente caíram acentuadamente com a notícia, mas ambos os mercados se recuperaram posteriormente (o mercado encontrou algum otimismo nos dados do payroll).
O cenário torna-se mais complexo hoje, especialmente devido à considerável incerteza geopolítica envolvendo atores relevantes do Oriente Médio.
Além disso, os investidores estão apreensivos em relação aos dados de inflação que serão divulgados nesta semana.
A ver…
00:52— Pouco espaço para escapar
No Brasil, iniciamos a semana com a divulgação de alguns dados sobre a inflação, como o IPC-S hoje e o IPC-Fipe amanhã. Esses serão seguidos pelo IPCA de setembro na quarta-feira, véspera do feriado de 12 de outubro.
Outro aspecto a ser observado está relacionado à agenda da Fazenda em Brasília, que teve avanços limitados nos últimos dias e não tem perspectivas significativas nos próximos dias, indicando possíveis atrasos até o final do mês ou novembro, como no caso da votação da tributação de fundos exclusivos e offshores na Câmara.
No entanto, é a dinâmica internacional que se destaca. Pouco importam as notícias positivas vindas da China sobre o aumento das receitas do turismo durante o feriado da "Semana Dourada".
Da mesma forma que os ativos do outro lado do mundo reagiram negativamente às notícias relacionadas ao terrorismo contra Israel, é esperado que os ativos brasileiros também sigam essa tendência.
O sentimento de aversão ao risco pode impulsionar o valor do dólar, exercer pressão sobre a curva de juros e impactar negativamente as ações.
01:47 — Há espaço para um aumento estrutural de crescimento brasileiro
Em linha com o posicionamento do sócio-fundador e presidente do Conselho do BTG Pactual, André Esteves, é notório o significativo avanço do Brasil nos últimos anos, sendo que as reformas implementadas recentemente têm contribuído para o crescimento econômico a longo prazo.
Destacam-se, nesse contexto, a Reforma Trabalhista e o fim da TJLP em 2017, a Lei da Liberdade Econômica e a Reforma da Previdência em 2019, o Marco do Saneamento em 2020, a Autonomia do BC em 2021 e a Privatização da Eletrobras em 2022.
Caso tudo transcorra conforme o planejado, é possível vislumbrar a concretização da Reforma Tributária ainda em 2023.
Essas reformas possuem um prêmio que se acumula. Embora haja a impressão de que a aprovação de uma reforma estrutural resulte em um crescimento imediato para o Brasil, a realidade é que essas mudanças se acumulam e geram crescimento, contribuindo para um PIB potencial mais elevado.
Esse fenômeno pode explicar os indicadores de expansão econômica que superaram as projeções dos economistas nos últimos anos.
Adicionalmente, embora o arcabouço fiscal possa não ser o ideal, ele se mostra suficiente para mitigar os riscos mais significativos para o Brasil.
O verdadeiro desafio reside na efetiva execução desse arcabouço e na habilidade de conciliar a conjuntura brasileira com os desafios internacionais, especialmente em um período marcado por uma crescente tensão geopolítica.
02:36 — A dualidade do mercado de trabalho americano
Nos Estados Unidos, na sexta-feira, os mercados foram inicialmente surpreendidos quando o Departamento do Trabalho anunciou a criação de 336 mil empregos em setembro, mais que o dobro do que o mercado previa.
Considerando que os investidores estavam prontos para vender diante de qualquer sinal de um aumento adicional nas taxas de juros, os indícios subjacentes de uma desaceleração inicial passaram despercebidos.
Apesar da considerável robustez, os dados de setembro indicaram um arrefecimento notável em uma área que tem sido foco da Reserva Federal: os salários.
O rendimento médio por hora teve um aumento de 0,2% em setembro, ficando 0,1 ponto percentual abaixo das expectativas e mantendo o mesmo ritmo de agosto.
Esse foi o menor aumento mensal dos rendimentos em quase um ano e meio, desde fevereiro de 2022, resultando na desaceleração mais acentuada dos salários para uma taxa de crescimento anual em mais de dois anos, desde junho de 2021.
Embora as chances de um aumento nas taxas de juros na reunião de novembro do Federal Reserve tenham inicialmente crescido, o desfecho do dia foi substancialmente diferente do que poderíamos ter imaginado no início da sessão.
Tudo isso lança uma nova luz sobre a interpretação crucial da inflação na quinta-feira, quando o governo divulgará o índice de preços ao consumidor de setembro.
A perspectiva predominante é a de que o banco central possa manter as taxas inalteradas, argumentando que os números de setembro refletem um mercado de trabalho equilibrado capaz de absorver ganhos de emprego significativos sem gerar uma inflação salarial mais elevada.
03:29 — Chance de crescimento mais fraco no quarto trimestre
A remoção de Kevin McCarthy da presidência da Câmara dos Estados Unidos, resultado da intensificação das disputas internas dentro da maioria republicana, renovou as preocupações de que uma paralisação do governo federal possa ocorrer no próximo mês.
Isso marca um precedente histórico, sendo a primeira vez que a Câmara destituiu seu líder, destacando os crescentes desafios de governança que estão ameaçando a classificação soberana dos EUA.
As preocupações de curto prazo se concentram na possibilidade da paralisia na Câmara complicar ainda mais o já complexo cenário em torno da próxima batalha de financiamento.
A longo prazo, a destituição do presidente da Câmara está alinhada com preocupações estruturais mais amplas relacionadas à disfunção política.
Não apenas isso representa problemas para o orçamento americano, podendo resultar em uma possível desaceleração econômica se houver um shutdown, mas também afeta outras regiões do mundo.
Há falta de espaço orçamentário para oferecer mais apoio à Ucrânia e agora a Israel, que pretende responder aos ataques terroristas do Hamas.
Além disso, milhões de americanos começarão a pagar novamente seus empréstimos federais para estudantes, após uma pausa de mais de três anos desde o início da pandemia.
Isso retira dinheiro da economia e pode ser um vetor de desaceleração econômica. Nos próximos semanas, estaremos atentos aos dados de atividade.
04:17 — O 11 de setembro israelense
O fim de semana trouxe notícias trágicas, depois que Israel foi alvo de um grave ataque terrorista do Hamas, o que levou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a declarar guerra em resposta.
A extensão desse conflito ainda está por ser determinada, dado o fluxo contínuo de informações em tempo real e a complexidade da situação.
No entanto, é evidente que a atmosfera na comunidade internacional é extremamente preocupante, considerando que esse foi o pior ataque a Israel desde a Guerra do Yom Kippur, em 1973.
Embora alguns digam que esse incidente seja um 11 de setembro de Israel, as táticas empregadas pelo Hamas mais se assemelham às utilizadas pela Rússia durante a invasão da Crimeia em 2014, em vez da Al-Qaeda em 2001.
O ataque provavelmente envolve inteligência iraniana e apoio logístico, agravando as relações entre o Ocidente e o Oriente Médio.
O objetivo parece ser a interrupção das negociações de paz entre israelenses e sauditas, aproveitando um momento em que Israel enfrentava desafios políticos internos e o Ocidente demonstrava menos prontidão para reagir (além dos conflitos na Ucrânia, outras guerras ameaçam eclodir na Europa, como na Sérvia e no Azerbaijão, enquanto os EUA lidam com problemas orçamentários).
A reunião de emergência convocada pelo Conselho de Segurança da ONU para discutir o conflito entre o Hamas e Israel terminou sem consenso e sem a divulgação de um comunicado conjunto.
Tudo indica que o conflito se prolongará sem uma solução iminente, especialmente agora que Israel está se preparando para lançar uma forte ofensiva contra o Hamas em resposta aos ataques terroristas. Essa nova dinâmica geopolítica resultará em novos arranjos e implicações.
Além da interrupção nas conversações entre Israel e Arábia Saudita, outras frentes de combate podem se intensificar, como o Líbano, que pode se envolver por meio do Hezbollah, e a possível pausa no acordo nuclear entre os EUA e o Irã.
Apesar de manter uma distância física do conflito, o Brasil tem a responsabilidade de abordar essa crise, pois atualmente ocupa temporariamente a presidência do Conselho de Segurança da ONU e faz parte dos BRICS, grupo que recentemente convidou o Irã para se juntar a partir de 2024.
MINUTO EXTRA: 05:01 — E como se proteger neste momento?
O preço do petróleo disparou no mercado internacional, chegando a quase US$ 88 por barril após os eventos do fim de semana, enquanto o dólar se valorizou e os ativos de risco, como ações, caíram globalmente.
A declaração de guerra pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em resposta ao ataque terrorista do Hamas, pode ter impactos significativos nos mercados, especialmente por estar em uma região próxima de grandes produtores de petróleo, como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Catar.
Isso implica que os investidores devem considerar o risco da guerra ao precificar a commodity. É conhecido que, com a alta do petróleo, também cresce a expectativa de inflação, o que complica os esforços do Fed para controlá-la.
Os recentes eventos em Israel não representam uma ameaça imediata aos fluxos de petróleo, mas existe o risco do conflito se transformar em uma guerra por procuração mais devastadora, envolvendo os EUA e o Irã.
Qualquer retaliação contra Teerã, diante dos relatos sugerindo seu envolvimento nos ataques, poderia colocar em risco a passagem de navios pelo Estreito de Ormuz, um canal vital que o Irã ameaçou fechar.
Em um cenário de curto prazo, o petróleo pode facilmente superar os US$ 95 por barril. Alguns já estão prevendo até um patamar acima de US$ 100.
Este trágico contexto nos lembra da importância de possuir proteções em nossas carteiras para momentos delicados como o atual, que podem se agravar facilmente.
Falamos sobre o ouro na semana passada, que pode sofrer estresse no curto prazo (alta dos juros nos EUA), mas ainda é a principal reserva de valor na história.
No Brasil, podemos nos permitir manter uma reserva de caixa que ainda rende dois dígitos e ancorar os rendimentos de nossa carteira em títulos indexados à inflação, o que já ajuda.
Posições em moedas fortes, como o dólar, também são fundamentais, especialmente porque o caixa em dólar já está rendendo mais de 5%. No curto prazo, o momento é de precaução, com os investidores buscando se proteger.