AS MIL E UMA NOITES DE BRASÍLIA
Eu fico pensando sobre a possibilidade de estarmos adentrando um momento no qual notícias negativas efetivamente impactam negativamente os mercados financeiros.
Até então, notícias desfavoráveis eram interpretadas como vetores positivos para ativos de risco, como uma economia mais fraca indicando menor pressão inflacionária, o que, por sua vez, permitiria taxas de juros mais baixas.
Talvez estejamos nos aproximando desse cenário. No entanto, atualmente, percebo espaço para que notícias de um mercado de trabalho mais fraco nos EUA continuem impulsionando o rali observado em novembro. As expectativas estão elevadas para o relatório de payroll de sexta-feira.
Refletindo os sinais predominantemente negativos de Wall Street durante a última sessão, os mercados de ações na Ásia encerraram em queda.
Isso ocorreu à medida que as ações do setor energético declinaram em meio a uma forte queda nos preços do petróleo bruto, e os operadores reagiram a dados econômicos divulgados na região, incluindo dados da Austrália e da China.
Os dados comerciais chineses de novembro revelaram exportações mais robustas e importações mais fracas, contribuindo para que o governo atingisse a meta oficial de crescimento para este ano.
Os mercados europeus iniciam o dia em baixa, seguindo a tendência, e os futuros americanos também apontam para uma abertura em território negativo.
A ver…
00:49 — A agenda do Congresso domina o coração dos investidores
No Brasil, mantemos a expectativa de que dezembro traga eventos ao menos alinhados com o que ocorreu em novembro, quando o Ibovespa registrou uma valorização superior a 12%, em grande medida devido à entrada significativa de recursos estrangeiros (quase 80% do capital estrangeiro acumulado na B3 neste ano ingressou no mês passado).
Apesar das correções recentes, que são consideradas saudáveis e naturais, continuo antecipando um desfecho positivo para as ações brasileiras neste final de ano.
Além disso, vislumbro um cenário igualmente otimista para o próximo ano, especialmente considerando o panorama projetado de taxas de juros em declínio nos Estados Unidos e na Europa.
Contudo, nossos desafios residem no âmbito do Congresso, onde os parlamentares enfrentam uma agenda densa nas próximas semanas, antes do recesso legislativo.
A pauta da equipe econômica está em alta no debate público, destacando-se a apresentação do texto da Medida Provisória da subvenção, que possivelmente abordará aspectos relacionados ao JCP (Juros sobre Capital Próprio), e o parecer sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Ambos os temas encontram-se em impasse, e os legisladores utilizam os vetos presidenciais como moeda de troca, os quais também serão em breve avaliados pelo Congresso.
A preocupação com o estresse fiscal ressurge como uma consideração premente.
01:38 — Um mercado verdadeiramente mais moderado
Nos Estados Unidos, os índices encerraram em queda ontem pela terceira sessão consecutiva, com as ações continuando a se ajustar após a robusta recuperação de novembro.
Atualmente, estamos em um cenário de escassez de notícias impactantes: a próxima reunião do Federal Reserve está agendada para a semana seguinte, e os dados econômicos de destaque desta semana só serão divulgados na sexta-feira, com o relatório de emprego (payroll).
Diante da ausência de um catalisador definido e após a expressiva recuperação de novembro, as ações simplesmente registraram declínio. Até o momento, os indícios apontam para um mercado de trabalho genuinamente mais fraco.
Ao olhar para o futuro, o mercado demonstra confiança na estabilidade das taxas de juros. Simultaneamente, a convicção de que as taxas cessaram sua trajetória ascendente se traduz em uma maior confiança na habilidade do mercado em avaliar os preços das ações.
Os rendimentos mais elevados dos títulos de renda fixa representam uma concorrência para o mercado de ações; portanto, se os investidores em ações acreditarem que os rendimentos não continuarão a subir, isso sugere que podem continuar a adquirir ações.
Na agenda, destacam-se os pedidos de auxílio-desemprego, servindo como um prelúdio para os dados de emprego que serão divulgados amanhã. Dados mais fracos ainda podem desempenhar um papel de suporte positivo.
02:30 — Mudança de paradigma
O Federal Reserve geralmente evita adotar medidas que possam parecer motivadas por considerações políticas. Em um cenário (perfeitamente crível) em que a economia sofra uma deterioração significativa no próximo ano, a reação natural seria a implementação de cortes acentuados nas taxas de juros.
No entanto, isso se tornará desafiador se parecer que essas medidas visam proporcionar um socorro político a Biden.
No passado, presidentes de ambos os partidos tentaram exercer pressão sobre o Fed durante seus anos de reeleição.
O prognóstico relativamente pessimista deles em relação à economia sugere que o banco central deveria considerar cortes nas taxas mais cedo do que inicialmente previsto.
Quanto à política fiscal, a capacidade da administração Biden de implementar medidas com impacto significativo antes das eleições é bastante restrita.
No entanto, o ano de 2024 poderá oferecer um vislumbre interessante de uma nova realidade política na qual ambas as partes reconhecem a necessidade de controlar o déficit.
Afinal, a fatura está se tornando elevada.
O peso total dos custos com o serviço da dívida dos EUA agora se aproxima do nível de 1992, o que levou a ações coordenadas para reduzir o déficit durante o mandato do presidente Bill Clinton.
Atualmente, esses custos representam mais de 14% das receitas fiscais, historicamente considerado o ponto de virada para a transição de políticas fiscais acomodatícias para medidas de austeridade fiscal.
03:21 — Uma COP apagadinha, mas ainda assim importante…
A COP28, a cúpula internacional anual sobre o clima convocada pelas Nações Unidas em Dubai, está em pleno andamento, e as grandes empresas de energia estão assegurando que suas vozes sejam ouvidas à medida que cresce a pressão para a redução progressiva, ou mesmo a eliminação, dos combustíveis fósseis.
Mais de 2.400 pessoas ligadas à indústria dos combustíveis fósseis se registraram para participar do evento, quase quatro vezes o número do ano passado na reunião sobre o clima.
O contingente de funcionários e representantes dos combustíveis fósseis superará a delegação de quase todos os países, exceto dos Emirados Árabes Unidos, o anfitrião da COP28, e do Brasil.
O resultado efetivo da COP28 é que os principais produtores de petróleo bruto e gás natural buscam controlar a captura de carbono, a produção de hidrogênio verde e a geração de energia alternativa.
Em essência, os grandes produtores de energia determinarão o ritmo da transição verde.
Como resultado, a energia verde permanece dispendiosa, e a indústria dos combustíveis fósseis se comprometerá apenas o suficiente com a produção de energia verde para satisfazer as regulamentações governamentais, enquanto os combustíveis fósseis continuarão a existir pelo restante de nossas vidas.
04:17 — A desestabilização do petróleo
O petróleo atingiu o patamar mais baixo desde junho, refletindo a apreensão dos investidores em relação ao excesso de oferta.
Ontem, o índice de referência dos EUA, West Texas Intermediate, registrou uma queda de 4,1%, ficando abaixo de US$ 70 por barril, enquanto o índice de referência global, Brent, recuou 3,8%, caindo abaixo de US$ 75, desafiando os esforços da OPEP+ para estabelecer um limite mínimo para os preços.
As questões relacionadas ao abastecimento estão, sem dúvida, desempenhando um papel significativo.
A diminuição da participação da produção pelo cartel significa que seus cortes não têm impacto substancial na produção global.
Isso ocorre porque as exportações dos EUA têm aumentado com o crescimento da produção, e os traders estão se tornando mais céticos em relação ao cumprimento dos compromissos de redução pelos membros da OPEP+.
Os preços do petróleo também sofrem pressão devido ao desaceleramento da demanda, indicando crescentes apostas de que os principais bancos centrais começarão a reduzir as taxas de juros já no primeiro trimestre do próximo ano.
Enquanto essa situação persistir, é razoável concluir que pelo menos parte da queda nos preços do petróleo está sinalizando dificuldades sérias na economia global.
Estruturalmente, ainda observo um déficit na oferta de combustíveis fósseis para atender à crescente demanda mundial.
No entanto, em termos conjunturais, no curto e médio prazo, as perspectivas mais pessimistas para o barril de petróleo devem influenciar o sentimento do mercado.