ECOS DE UMA UNIDADE FRAGILIZADA: O G20 2023 SE DESPEDE ENTRE VISÕES COMPARTILHADAS E DIVIDIDAS
Iniciamos mais uma semana após um sábado e domingo repletos de acontecimentos geopolíticos originários da Índia, onde ocorreu o G20 de 2023.
A conclusão do evento parece ter sido mais positiva do que muitos esperavam, embora ainda não tenha alcançado o ideal.
Os mercados europeus estão registrando ganhos nesta manhã, assim como os futuros dos Estados Unidos.
Nos próximos dias, estaremos atentos à divulgação dos principais relatórios econômicos dos EUA, abordando tanto a inflação do consumidor quanto a inflação do produtor, além de dados sobre vendas no varejo, produção industrial e o sentimento do consumidor.
Esses relatórios fornecerão indicações cruciais sobre as perspectivas das taxas de juros.
Entretanto, as crescentes tensões entre Estados Unidos e China e as declarações potencialmente assertivas do governador do Banco do Japão durante o fim de semana estão exercendo pressão sobre os mercados.
O Governador do Banco do Japão, Ueda, mencionou que poderia avaliar a sustentabilidade do crescimento salarial (nominal) até o final do ano.
Na Ásia, as negociações foram mornas, apesar dos sinais positivos vindos dos mercados globais na sexta-feira.
Dados econômicos recentes ainda suscitam preocupações de que o Federal Reserve dos EUA possa manter as taxas de juros elevadas por um período mais prolongado do que o anteriormente previsto.
A ferramenta FedWatch do CME Group, por exemplo, indica atualmente uma probabilidade de 93,0% de que o Federal Reserve deixará as taxas de juros inalteradas no final deste mês, mas há uma probabilidade de 43,6% de que haja outro aumento das taxas em novembro.
A ver…
00:49 — Inflação brasileira segue chamando a atenção
No Brasil, estamos aguardando os dados de inflação ao consumidor referentes ao mês de agosto.
Esses números serão divulgados amanhã, terça-feira, e têm o potencial de diminuir ainda mais a probabilidade de um aumento mais significativo na redução das taxas de juros, que poderia chegar a 75 pontos-base até o final do ano, dependendo dos resultados.
A mediana das projeções sugere um aumento de 0,28% em agosto, após os 0,12% registrados em julho (ao longo de 12 meses, a taxa deve alcançar 4,66%). Caso os dados se revelem mais fortes do que o esperado, é provável que o mercado reaja de forma negativa.
A percepção de que a taxa de juros não será reduzida em um ritmo mais acelerado é influenciada não apenas pela inflação atual, mas também pelo PIB mais robusto do que o previsto, que contém elementos de maior pressão inflacionária, e por questões fiscais, relacionadas ao receio de que o orçamento de 2024 não seja cumprido sem a implementação de um plano crível.
Neste contexto, esta semana também veremos a votação de um projeto de lei que visa regulamentar a tributação das apostas esportivas, uma das estratégias da Fazenda para aumentar a arrecadação.
01:36 — Os americanos também estão de olho na inflação
Nos Estados Unidos, o relatório de agosto referente ao Índice de Preços ao Consumidor (IPC) está destinado a atrair a atenção dos investidores e pode se revelar um fator decisivo para as próximas ações do Federal Reserve.
Embora se acredite que o Fed esteja, em grande parte, se aproximando do final de seu ciclo de elevação das taxas de juros, ainda existe debate sobre qual será a taxa final.
O consenso do mercado aponta para um aumento de 3,6% no índice principal do IPC e um aumento de 4,4% no núcleo.
O calendário econômico da semana também incluirá atualizações sobre vendas no varejo, preços ao produtor e solicitações de seguro-desemprego.
Os membros do Federal Reserve estão atualmente em um período de restrição de comunicação antes da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) agendada para 19 e 20 de setembro, o que pode dar um peso adicional aos relatórios econômicos.
Acredita-se que o Fed possa adotar uma postura monetária mais flexível à medida que o ano avança.
No entanto, é possível que a situação econômica precise se deteriorar antes que o Fed emita sinais mais claros de uma mudança em sua política monetária.
02:27 — A contraproposta
O Mercosul e a União Europeia (UE) estão programando uma reunião presencial em Brasília para o dia 15, marcando o primeiro encontro em pessoa desde que os europeus apresentaram suas demandas adicionais no início deste ano, visando a conclusão do acordo comercial.
O Brasil, atualmente na presidência do Mercosul, deverá transmitir aos europeus a contraproposta elaborada pelo bloco do Cone Sul.
Recentemente, Brasília recebeu os comentários finais do Paraguai, os quais estavam pendentes. Agora, o objetivo é consolidar o documento com celeridade.
Caso ocorram grandes divergências entre os membros do Mercosul sobre o que apresentar nas negociações com os europeus, o bloco realizará uma reunião adicional para tentar chegar a uma posição conjunta.
Outro encontro com a delegação de negociadores europeus está agendado para o dia 21 de setembro.
03:18 — Tentando estimular
A China tomou medidas para estimular sua economia neste último fim de semana, flexibilizando regulamentações para as seguradoras e reduzindo a taxa de compulsório bancário em moeda estrangeira de 6% para 4%.
No entanto, essas medidas são consideradas modestas em relação ao que o mercado esperava e ao que é necessário.
Além disso, os dados da inflação ao consumidor, divulgados na última sexta-feira, ficaram abaixo das expectativas, o que reforça a necessidade de mais ações por parte do governo para atingir a meta de crescimento de 5%.
Embora os preços ao consumidor sejam uma preocupação interna na China, com impacto global limitado, o interesse internacional surge quando preços mais fracos refletem uma demanda enfraquecida e aumentam as expectativas de uma resposta política.
Os preços ao produtor continuam deflacionados, mas essa é uma questão principalmente doméstica.
Por muito tempo, a Ásia tem sido uma das principais fontes de desinflação global, com o Japão desempenhando um papel significativo.
Agora, com sinais de pressões de preços sustentadas no país, a China está se tornando uma nova influência na contenção da inflação.
Isso pode explicar por que as economias emergentes da Ásia têm sido mais cautelosas em relação ao aumento das taxas de juros neste ciclo de aperto global e provavelmente serão mais relutantes em adotar políticas monetárias mais flexíveis.
04:03 — A bola está conosco
O presidente Lula está retornando da cúpula do G20 realizada em Nova Délhi, Índia.
Este evento, amplamente antecipado, foi notável por ser uma das reuniões mais divididas e com a ausência dos presidentes da China e da Rússia. Surpreendentemente, a cúpula superou as expectativas.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, conseguiu liderar a elaboração de um comunicado conjunto abordando diversas questões, incluindo a situação na Ucrânia.
Para o próximo ano, o Brasil assume a presidência do G20 e sediará a cúpula sob o tema "Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável".
O presidente Lula pretende promover a transição energética e posicionar o Brasil como um exemplo a ser seguido nesse contexto.
Além disso, o Brasil também será anfitrião da Conferência Climática da ONU em 2025 (COP 30). Essas iniciativas estão alinhadas e complementam-se de maneira significativa.