FRUSTRANDO EXPECTATIVAS
Lá fora, as ações da Ásia e do Pacífico encerraram o pregão sem uma única direção nesta segunda-feira, à medida que os investidores digerem a meta de crescimento mais conservadora da China, enquanto esperam pelos próximos dias da semana, cheios de dados econômicos.
Adicionalmente, ainda há incerteza sobre os próximos passos do Federal Reserve e do BCE para a política monetária, principalmente depois de comentários recentes de membros do Fed.
Os mercados europeus abrem o dia predominantemente em alta, enquanto os futuros americanos caem nesta manhã. A semana é cheia de emoções, com Livro Bege de perspectivas econômicas do Fed na quarta-feira e dados de emprego americano na sexta-feira.
O Brasil sofre com esse nervosismo global, em especial o relacionado com um crescimento chinês mais fraco do que se pressupunha, que prejudica as commodities internacionalmente hoje.
A ver…
00:41 — Quando será apresentado o novo arcabouço fiscal?
Por aqui, entre os indicadores econômicos brasileiros, contamos com o índice oficial de inflação, o IPCA, na sexta-feira. A atenção, porém, fica por conta das discussões envolvendo o novo arcabouço fiscal, que deverá ser apresentado antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária, entre os dias 21 e 22 de março.
Hoje, Lula e Haddad discutem exatamente a regra que promete suceder o teto de gastos públicos — devemos caminhar para um crescimento de gastos na proporção de receitas.
A ideia do Ministério da Fazenda parece ser a de apresentar todas as iniciativas promovidas envolvendo a responsabilidade fiscal (recomposição de receitas e nova âncora) para que o BC tenha espaço para reduzir os juros.
O problema é que nem nas melhores das hipóteses havíamos pensado em queda dos juros já em março, o que coloca Roberto Campos Neto em uma situação delicada, podendo tomar uma decisão política de redução, ainda que marginal, como sinal de boa fé. Pode refletir mal.
Sobre o novo arcabouço, a expectativa é que afaste temores sobre trajetória explosiva da dívida pública. Ao que tudo indica, a regra já teria sido concluída na semana passada, restando o bater de martelo de Lula (os próximos dias devem ser de discussão conjunta entre Fazenda, Palácio do Planalto e demais ministérios de assuntos econômicos, como Planejamento e Desenvolvimento). Muito do jogo para os ativos brasileiros será definido com a nova regra, não restando espaço para erros.
01:52 — A semana para os americanos
Nos EUA, os investidores estão se preparando para uma semana bastante agitada do ponto de vista econômico, com uma onda de dados a serem avaliados. Um dos números de atenção é o do mercado de trabalho, que segue apertado e é hoje, portanto, a maior fonte de preocupação do Fed — vários membros da autoridade monetária já disseram em diversas ocasiões que acreditam que a taxa de inflação permanecerá elevada até que os números de emprego alterem o trajeto para baixo.
Em apenas um ano, o Federal Reserve elevou as taxas de juros de quase zero para um intervalo de 4,5% a 4,75% visando esfriar a economia.
Enquanto isso, os números de trabalho continuam superando as expectativas nos últimos 10 meses, com a economia tendo adicionado 517 mil empregos em janeiro e derrubando o desemprego ao seu nível mais baixo desde 1969 (mesmo com várias demissões em massa acontecendo). Para fevereiro, devemos ter mais 200 mil empregos criados.
02:39 — E os europeus?
O mercado digere nesta manhã as vendas de varejo da Zona do Euro, que frustraram bastante as expectativas com uma queda de 2,3% na comparação anual (a expectativa era de 1,8% de queda), apesar da tímida alta contra o mês anterior. Sabemos que a região enfrenta problemas por conta da queda em termos reais dos salários nos últimos meses, podendo começar a afetar de maneira crescente a economia.
Enquanto isso, temos a fala do economista-chefe do BCE, Philip Lane, podendo reforçar a abordagem conservadora da autoridade monetária europeia, indicando mais juros pela frente — a própria Christine Lagarde, presidente da instituição, reforçou que a inflação precisa ser combatida a qualquer custo. O problema é que isso gera desaceleração econômica, de maneira similar ao que acontece no Brasil.
03:17 — Modesto
As metas de crescimento da China anunciadas no fim de semana não foram uma surpresa, mas podem parecer decepcionantes para alguns investidores. Afinal, na semana passada, alguns players ventilavam a chance de uma projeção de crescimento da ordem de 6%. Portanto, mesmo que 5% possam parecer bastante para o Ocidente, é menor que a meta do ano passado (5,5%) e bem distante dos usuais 10% de antes.
Entendo que Pequim poderia estar definindo essa meta modesta para afastar as preocupações de não entregar o crescimento prometido por mais um ano, como aconteceu em 2022 — o governo estaria preocupado com os danos causados pelo sentimento dos agentes. Ao mesmo tempo, chama a atenção que haverá aumento dos gastos com defesa em 7,2%. Vivemos uma nova dinâmica de gastos militares.
04:01 — E quem está na frente?
Quando se trata da corrida tecnológica que estamos vivendo, a China parece estar agora à frente dos EUA em 37 dos 44 tipos de tecnologia avançada, de acordo com um novo relatório do Australian Strategic Policy Institute. Isso inclui inteligência artificial, computação quântica e robótica — os chineses estão finalmente colhendo os frutos de décadas e vastas somas de dinheiro investidas em pesquisa científica.
Ao mesmo tempo, o estudo aponta que não é fácil transformar marcos de pesquisa de ponta em proezas de fabricação. Em outras palavras, os chineses podem ter alcançado a tecnologia para fabricar os computadores quânticos mais avançados do mundo, mas o país ainda não tem capacidade para produzi-los em massa com os mesmos padrões de qualidade dos modelos americanos.
Isso se aplica também, por exemplo, aos semicondutores. Por enquanto, pelo menos, os EUA parecem estar ganhando a corrida da execução, uma vez que eles conseguem colocar em prática as pesquisas, escalando a produção em diferentes frentes. Como sabemos, os imbróglios geopolíticos devem ser a principal fonte de preocupação internacional na próxima década, remodelando as cadeias de suprimentos globais.