Por que a bolsa só cai em agosto mesmo com a queda da Selic? Confira 4 motivos para a queda do Ibovespa no mês — e o que esperar agora
Apesar do corte da taxa Selic — que levou os juros para 13,25% ao ano — no início do mês, o índice não conseguiu emplacar alta nenhuma vez em agosto
Após um começo de ano conturbado para a bolsa brasileira, o Ibovespa finalmente conseguiu engrenar em abril. Mas depois de quatro meses de valorização, o principal índice de ações da B3 parece ter perdido o gás para proporcionar à bolsa o seu quinto mês no azul.
Apesar do tão desejado corte da taxa Selic — que veio maior que o esperado, levando a taxa básica de juros para o patamar de 13,25% ao ano — no início do mês, o índice não conseguiu emplacar alta nenhuma vez em agosto.
O Ibovespa fechou em queda pelo sétimo dia consecutivo, com uma perda acumulada de quase 3% em menos de 10 dias em agosto.
Ainda que a bolsa não tenha se distanciado drasticamente do nível de 120 mil pontos, o movimento parece contra intuitivo aos olhos do mercado. Então o que aconteceu com o mercado acionário nos últimos pregões?
A seguir nós contamos para você as quatro principais razões para a queda do Ibovespa em agosto — e a perspectiva para a bolsa daqui para frente.
1 - China emperra retomada
Uma das grandes promessas do mercado neste ano, a retomada da economia chinesa após a pandemia da covid-19 virou fator de preocupação. Afinal, o gigante asiático é um dos grandes compradores de produtos brasileiros.
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Enquanto permanece na expectativa do anúncio de novos estímulos econômicos pelo governo chinês, o mercado opera com o que está sendo apresentado: os dados — que pouco contribuem para um cenário otimista.
“Lá fora, os mercados operam com uma aversão ao risco maior, muito por conta dos dados da China, que deram gatilho para um novo ruído com relação à desaceleração global”, afirma Rafael Passos, analista e sócio da Ajax Asset Management.
Na última terça-feira (8), a segunda maior economia do mundo frustrou as expectativas dos analistas com a divulgação da balança comercial de julho abaixo do esperado.
Como se não bastasse o saldo comercial abaixo da expectativa, o gigante asiático também divulgou ontem (9) dados de inflação, com a primeira redução nos preços ao consumidor em mais de dois anos.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) chinês subiu 0,2% em relação a junho, mas recuou 0,3% na comparação com julho de 2022. Já o índice de preços ao produtor (PPI) recuou 4,4% em julho na comparação anual.
Vale lembrar que o desempenho da China, além de ser relevante para a economia global, também pesa sobre os ativos brasileiros, principalmente em relação às commodities. As ações da mineradora Vale (VALE3), por exemplo, possuem o maior peso no Ibovespa.
2 - EUA em transe
Além do gigante asiático, a cautela dos EUA também puxa o Ibovespa para o tom negativo.
O rebaixamento da nota de crédito do país pela Fitch e a revisão para baixo da avaliação de cerca de dez bancos regionais de pequeno e médio portes pela Moody’s reacenderam um “alerta amarelo” sobre a maior economia do mundo — e que drenou o ânimo dos investidores pelos ativos de risco, incluindo a bolsa.
Os EUA operam hoje com a maior taxa de juros em 22 anos, na faixa entre 5,25% a 5,50% — e que ainda pode ser elevada pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, a depender de novos dados econômicos, como emprego e inflação.
O Ibovespa, portanto, não consegue se descolar do mau desempenho dos mercados norte-americanos. Os índices de Nova York fecharam no negativo nesta quarta-feira (9), à espera do CPI (dado de inflação ao consumidor) de julho.
"Continuando o movimento de pressão dos títulos públicos norte-americanos e saque de capital estrangeiro é possível que esse movimento de queda se concretize", disse Stefany Oliveira, head de Analise Trading na Toro Investimentos.
3 - Frustração com os balanços
Embora o desempenho do exterior impacte diretamente o apetite (ou não) ao risco dos ativos brasileiros, a agenda local nas últimas semanas vem balizando o Ibovespa.
“O mercado já precificou a queda nos juros [ou seja, o corte na Selic] e estamos vendo, em parte, uma realização de lucros”, disse Heitor De Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero.
Segundo De Nicola, a temporada de balanços — principalmente de empresas que possuem maior participação no principal índice da B3 — é responsável pela instabilidade nos últimos dias.
Apesar do ânimo com o início do corte de juros, os resultados das companhias no segundo trimestre refletem o duro cenário de Selic a 13,75% ao ano, que pesou nos números.
Os dados mais recentes da economia também mostram um quadro de desaceleração. Ontem (9), por exemplo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que as vendas do varejo em junho ficaram estáveis em relação a maio.
O volume vendido pelo comércio varejista ampliado — que inclui as atividades de veículos, material de construção e atacado alimentício —, porém, cresceu 1,2% em junho ante maio
Contudo, ainda segundo o órgão, o volume vendido pelo varejo caiu 0,2% no segundo trimestre de 2023 ante o primeiro trimestre do ano.
Outros indicadores devem ser divulgados nos próximos dias — que também devem trazer certa volatilidade ao mercado. Na sexta-feira (11), o foco volta-se para o cenário doméstico, onde serão conhecidos dois indicadores importantes: a “prévia” do PIB, conhecida como IBC-BR, e a inflação de julho medida pelo IPCA.
4 - A agenda do Congresso
Por fim, a queda sequencial do Ibovespa também tem um fator político. Os investidores seguem monitorando as movimentações em Brasília — mais especificamente no Congresso Nacional.
Pairam sobre o Ibovespa ainda as incertezas sobre o andamento da reforma tributária, os impasses na tramitação do Projeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias para 2024 e a votação final do arcabouço fiscal, ainda pendente na Câmara dos Deputados.
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Otimismo adiante
Apesar da falta de ganhos do Ibovespa no mês de agosto, as projeções para o principal índice da bolsa brasileira seguem otimistas. Ou seja, a queda recente pode representar uma oportunidade de entrada para os investidores.
O JP Morgan, por exemplo, projeta o Ibovespa em 135 mil pontos em 2023, considerando o ciclo de afrouxamento monetário. Vale destacar que, antes do anúncio oficial do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre a Selic, o banco havia cravado o corte da taxa para 13,25%.
Segundo o banco norte-americano, para que o principal índice da bolsa brasileira vá além desse nível, será preciso ver o crescimento dos lucros e/ou a compressão do risco.
Em linha com o JPM, o analista Matheus Spiess, da Empiricus, ressalta que o Ibovespa está sendo negociado abaixo de suas médias, o que abre espaço para novos ganhos.
O índice está sendo negociado a um Preço sobre Lucro (P/L) de 8x, enquanto a média histórica é de 10,9x.
Considerando apenas o retorno à média, isso significaria um potencial de valorização de 36%, o que levaria o Ibovespa a superar os 150 mil pontos em 12 meses.
O CIO da Empiricus, Felipe Miranda, destaca um cenário ainda mais positivo, já que o consenso de mercado sugere um crescimento dos lucros do Ibovespa de 10% para 2024.
“Então, para o mesmo Preço sobre Lucro, as cotações precisariam subir mais 10%. Em sendo o caso, chegaríamos a 181 mil pontos ao final do ano que vem, só para convergirmos à média histórica”, escreveu, em uma edição recente do relatório Palavra do Estrategista.
Para o executivo, com as recentes revisões para cima nos lucros corporativos, há a possibilidade de o consenso de mercado passar a convergir para um crescimento dos lucros entre 15% e 20% no próximo ano, o que “levaria a 189 mil e 198 mil pontos para o Ibovespa ao final de 2024”.
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