Chama o bombeiro! Fed tenta apagar incêndio da inflação com terceira alta de juro de 0,75 pp — veja detalhes
A taxa básica está na faixa entre 3,00% a 3,25% ao ano, depois do quinto aperto monetário de 2022. Essa também é a sexta vez em quase 40 anos que o BC dos EUA sobe o juro nesse calibre.
Se existisse uma linha direta para a política monetária do Federal Reserve (Fed), certamente ela atenderia no 911 — o número dos bombeiros dos EUA. Em mais uma tentativa de apagar o incêndio da inflação, o banco central norte-americano elevou pela terceira vez seguida o juro em 0,75 ponto percentual (pp).
Agora, a taxa básica por lá está na faixa entre 3,00% a 3,25% ao ano — o maior nível desde 2008, ano da crise financeira global, e o sexto desse calibre em quase 40 anos.
O quinto aperto monetário do ano teve endereço certo: conter as chamas do índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI, na sigla em inglês), que subiu 8,3% em agosto em relação a um ano atrás.
Embora esse número ainda esteja abaixo dos 8,5% em julho e dos 9,1% em junho, excluindo os preços voláteis de alimentos e energia, a taxa permaneceu elevada. O chamado núcleo do CPI subiu 0,6% em agosto, o dobro dos 0,3% de junho e também o dobro do que os economistas previam.
Por conta disso, alguns investidores apostavam em um aumento ainda maior do juro na reunião de hoje, de 1 pp. Dados compilados pelo CME Group mostravam que a probabilidade de uma alta de 0,75 pp agora era de 80%, contra 20% de chance de uma elevação de 1 ponto.
Embora a maioria já esperasse um aperto desse calibre, a reação inicial do mercado foi negativa. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq reverteram a alta, passando a operar em queda.
Leia Também
911: a chamada do Fed
No comunicado do Fed que trouxe a decisão, que foi unânime, o comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) reafirmou o forte compromisso em devolver a inflação para a meta de 2%.
Segundo o Fomc, a inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de alimentos e energia e pressões mais amplas sobre os preços.
O documento atribuiu à guerra entre Rússia e Ucrânia uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e de queda sobre a atividade econômica global.
O incêndio vai se alastrar?
Os membros do comitê de política monetária do Fed indicaram um caminho muito mais forte de aumento da taxa de juros à frente para tentar segurar a inflação.
De acordo com o dot plot — o gráfico de pontos que traz as expectativas individuais dos membros do comitê —, a taxa de juros terminará o ano acima dos 4%, em 4,4%, uma revisão para cima de 1 ponto percentual em relação à estimativa de junho.
O comitê então vê a taxa subindo para 4,6% em 2023, 0,8 ponto percentual mais alto do que o projetado em junho. Confira abaixo o gráfico de pontos do Fed de setembro:
A partir de 2024, a tendência é de que o juro nos EUA diminua. Segundo o gráfico de pontos, em 2024 a taxa básica deve encerrar o ano em 3,9% e depois em 2,9% em 2025. No longo prazo, deve haver uma normalização ainda maior, com o juro em 2,5%.
Os sinais de fumaça do Fed
Além do grau do aperto em si, a reunião de política monetária de hoje estava sendo aguardada por conta das projeções econômicas do Fed para este ano e os próximos — e, ao que tudo indica, a chama seguirá ardendo.
Para se ter uma ideia, o banco central norte-americano passou a prever um crescimento de 0,2% este ano ante 1,7% estimados em junho.
Além disso, a inflação deve alcançar 5,4% ao final de 2022 ante 5,2% projetados anteriormente, e a taxa de desemprego deve ir a 3,8%, ante 3,7% previstos em junho.
Confira abaixo a mediana de outras previsões feitas pelo Federal Reserve:
PIB dos EUA
- 2023: 1,2%, de 1,7% previstos em junho
- 2024: 1,7%, de 1,9% previstos em junho
- 2025: 1,8%
- Longo prazo: 1,8%
Inflação medida pelo PCE
- 2023: 2,8%, de 2,6% previstos em junho
- 2024: 2,3%, de 2,2% previstos em junho
- 2025: 2,0%
- Longo prazo: 2,0%
Taxa de desemprego
- 2023: 4,4%, de 3,9% previstos em junho
- 2024: 4,4%, de 4,1% previstos em junho
- 2025: 4,0%
- Longo prazo: 4,3%
Powell apaga incêndio em Nova York
Se as bolsas em Nova York reagiram mal ao comunicado com a decisão de elevar o juro em 0,75 ponto percentual, foi só o presidente do Fed, Jerome Powell, começar a falar na coletiva de imprensa, que as coisas em Wall Street se acalmaram — embora por pouco tempo.
Na prática, ele não disse nada muito diferente do que já vinha falando nos últimos meses — talvez o fato de ter seguido o script e não ter contratado uma alta de 1 ponto percentual para o próximo encontro tenha trazido alívio momentâneo ao mercado.
Na coletiva de hoje, Powell reafirmou que o Fed continuará com uma política monetária mais agressiva para trazer a inflação para a meta de 2% ao ano, ainda que isso custe a desaceleração da economia dos EUA.
"Não é possível ter uma economia que beneficie a todos sem a estabilidade de preços ou ter um crescimento sustentando sem a estabilidade de preços. Por isso, não vamos medir esforços para trazer a inflação para a meta e temos as ferramentas necessárias para isso", disse.
Questionado sobre a possibilidade de recessão nos EUA, Powell se limitou a afirmar que uma política monetária restritiva como a que o Fed está conduzindo tem efeitos sobre o desempenho na economia, mas que é difícil prever se haverá recessão e, se houver, qual será a magnitude dessa recessão.
O chefe do banco central norte-americano também não quis se comprometer com outro aumento de juro de 0,75 pp ou de 1 pp, dizendo que as decisões serão tomadas encontro por encontro e de acordo com os indicadores econômicos.
"Não falamos sobre uma alta de 1 ponto percentual na reunião de hoje", disse Powell, reforçando o compromisso do Fed com a inflação em 2%.
O que dizem os especialistas
Para Rafael Marques, economista e CEO da Philos Invest, o comunicado do Fed que trouxe o aumento de 0,75 pp não trouxe grandes novidades, mas teve um tom mais duro.
"A decisão veio dentro do esperado, e o comunicado trouxe poucas alterações, mas sinalizando um pouco mais de pressão, com a declaração de 'taxa de juro mais alta por mais tempo' mais evidenciada", afirmou Marques.
Já João Beck, economista e sócio da BRA, não descarta um aumento mais agudo da taxa de juro nos EUA por conta da inflação.
"De uma forma ou de outra, o mercado projeta uma taxa terminal de 4,5% em março de 2023. Por isso, o Fed ainda tem a opção de manter a porta aberta para um grau de aperto monetário ainda maior", disse.
Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad, acredita que o Fed vai continuar subindo o juro até que a taxa atinja um pico entre 4% e 5%.
"De forma geral, nossa expectativa é de que o cenário de juro mais elevado nos EUA deverá ser mantido até pelo menos o final do ano que vem, considerando as informações atuais e a incerteza sobre a gravidade de uma recessão nos EUA", afirmou.
Já Nicole Kretzmann, economista-chefe da Upon Global Capital, disse que Powell foi coerente com seus últimos discursos, mantendo o tom hawkish — isto é, favorável ao aperto monetário.
"Powell manteve o tom hawkish e evitou dar margem para qualquer interpretação mais branda como já ocorreu em outras ocasiões", disse. "Acreditamos que o Fed terá de ser mais agressivo para fazer a inflação convergir para a meta", acrescentou.
A arte de negociar: Ação desta microcap pode subir na B3 após balanço forte no 3T24 — e a maior parte dos investidores não tem ela na mira
Há uma empresa fora do radar do mercado com potencial de proporcionar uma boa valorização para as ações
Está com pressa por quê? O recado do chefão do BC dos EUA sobre os juros que desanimou o mercado
As bolsas em Nova York aceleraram as perdas e, por aqui, o Ibovespa chegou a inverter o sinal e operar no vermelho depois das declarações de Jerome Powell; veja o que ele disse
A escalada sem fim da Selic: Campos Neto deixa pulga atrás da orelha sobre patamar dos juros; saiba tudo o que pensa o presidente do BC sobre esse e outros temas
As primeiras declarações públicas de RCN depois da divulgação da ata do Copom, na última terça-feira (12), dialogam com o teor do comunicado e do próprio resumo da reunião
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
Você precisa fazer alguma coisa? Ibovespa acumula queda de 1,5% em novembro enquanto mercado aguarda números da inflação nos EUA
Enquanto Ibovespa tenta sair do vermelho, Banco Central programa leilão de linha para segurar a alta do dólar
Voltado para a aposentadoria, Tesouro RendA+ chega a cair 30% em 2024; investidor deve fazer algo a respeito?
Quem comprou esses títulos públicos no Tesouro Direto pode até estar pensando no longo prazo, mas deve estar incomodado com o desempenho vermelho da carteira
A Argentina dos sonhos está (ainda) mais perto? Dólar dá uma trégua e inflação de outubro é a menor em três anos
Por lá, a taxa seguiu em desaceleração em outubro, chegando a 2,7% em base mensal — essa não é apenas a variação mais baixa até agora em 2024, mas também é o menor patamar desde novembro de 2021
Pacote fiscal do governo vira novela mexicana e ameaça provocar um efeito colateral indesejado
Uma alta ainda maior dos juros seria um efeito colateral da demora para a divulgação dos detalhes do pacote fiscal pelo governo
Stuhlberger compra bitcoin (BTC) na véspera da eleição de Trump enquanto o lendário fundo Verde segue zerado na bolsa brasileira
O Verde se antecipou ao retorno do republicano à Casa Branca e construiu uma “pequena posição comprada” na maior criptomoeda do mundo antes das eleições norte-americanas
Em ritmo de festa: Ibovespa começa semana à espera da prévia do PIB; Wall Street amanhece em alta
Bolsas internacionais operam em alta e dão o tom dos mercados nesta segunda-feira; investidores nacionais calibram expectativas sobre um possível rali do Ibovespa
Agenda econômica: Prévia do PIB é destaque em semana com feriado no Brasil e inflação nos EUA
A agenda econômica da semana ainda conta com divulgação da ata da última reunião do Copom e do relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP)
Renda fixa apimentada: “Têm nomes que nem pagando CDI + 15% a gente quer”; gestora da Ibiuna comenta sobre risco de bolha em debêntures
No episódio da semana do podcast Touros e Ursos, Vivian Lee comenta sobre o mercado de crédito e onde estão os principais riscos e oportunidades
7% ao ano acima da inflação: 2 títulos públicos e 10 papéis isentos de IR para aproveitar o retorno gordo da renda fixa
Com a alta dos juros, taxas da renda fixa indexada à inflação estão em níveis historicamente elevados, e em títulos privados isentos de IR já chegam a ultrapassar os 7% ao ano + IPCA
Selic sobe para 11,25% ao ano e analista aponta 8 ações para buscar lucros de até 87,5% ‘sem bancar o herói’
Analista aponta ações de qualidade, com resultados robustos e baixo nível de endividamento que ainda podem surpreender investidores com valorizações de até 87,5% mais dividendos
Carne com tomate no forno elétrico: o que levou o IPCA estourar a meta de inflação às vésperas da saída de Campos Neto
Inflação acelera tanto na leitura mensal quanto no acumulado em 12 meses até outubro e mantém pressão sobre o BC por mais juros
Você quer 0 a 0 ou 1 a 1? Ibovespa repercute balanço da Petrobras enquanto investidores aguardam anúncio sobre cortes
Depois de cair 0,51% ontem, o Ibovespa voltou ao zero a zero em novembro; índice segue patinando em torno dos 130 mil pontos
O que comprar no Tesouro Direto agora? Inter indica títulos públicos para investir e destaca ‘a grande oportunidade’ nesse mercado hoje
Para o banco, taxas como as que estamos vendo atualmente só ocorrem em cenários de estresse, que não ocorrem a todo momento
Ibovespa segue com a roda presa no fiscal e cai 0,51%, dólar fecha estável a R$ 5,6753; Wall Street comemora pelo 2° dia
Por lá, o presidente do BC dos EUA alimenta incertezas sobre a continuidade do ciclo de corte de juros em dezembro. Por aqui, as notícias de um pacote de corte de gastos mais modesto desanima os investidores.
Com Trump pedindo passagem, Fed reduz calibre do corte de juros para 0,25 pp — e Powell responde o que fará sob novo governo
A decisão acontece logo depois que o republicano, crítico ferrenho do banco central norte-americano, conseguiu uma vitória acachapante nas eleições norte-americanas — e na esteira de dados distorcidos do mercado de trabalho por furacões e greves
Jogando nas onze: Depois da vitória de Trump, Ibovespa reage a Copom, Fed e balanços, com destaque para a Petrobras
Investidores estão de olho não apenas no resultado trimestral da Petrobras, mas também em informações sobre os dividendos da empresa