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Renan Sousa
Renan Sousa
É repórter do Seu Dinheiro. Formado em jornalismo na Universidade de São Paulo (ECA-USP) e já passou pela Editora Globo e SpaceMoney.
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Onde investir no 2º semestre: Bitcoin (BTC) e criptomoedas já passaram pelo pior, mas cenário não deve melhorar tão cedo

As novidades para os próximos meses incluem atualizações de projetos que podem disparar após o bear market

Renan Sousa
Renan Sousa
7 de julho de 2022
6:30 - atualizado às 15:41
Capa matéria com touro, bola de futebol e estádio da copa 2022. Criptomoedas, bitcoin (BTC)
Criptomoedas e bitcoin (BTC) sofreram e já passaram pelo pior. - Imagem: Shutterstock / Montagem Brenda Silva

Se o mercado de renda variável sofreu no começo de ano, podemos dizer que as criptomoedas tiveram um verdadeiro martírio no início de 2022. O bitcoin (BTC) registrou o segundo pior desempenho no período de sua história de pouco mais de 13 anos.

O cenário macroeconômico ruim já era esperado desde o começo do ano — a alta de juros do Federal Reserve e a pandemia de covid-19, somados ao período entre halvings não anunciavam bons ventos. Mas os problemas nativos do universo das criptomoedas foram a verdadeira pá de cal no sentimento do mercado. 

Em linhas gerais, ocorreu um efeito em cadeia: 

  • A extinção do protocolo Terra (LUNA) e da stablecoin TerraUSD (UST) retirou bilhões de dólares do mercado;
  • A saída desses recursos gerou um pânico no mercado, e as cotações das moedas digitais foram penalizadas. Os investidores passaram a se desfazer de suas criptomoedas e isso afetou diversas plataformas que davam liquidez ao mercado;
  • O caso mais emblemático foi o da plataforma de lending e staking Celsius, que congelou os tokens (criptomoedas) dos investidores; 
  • Na sequência, o fundo hedge relacionado ao universo das criptomoedas mais bem-sucedido até então, o Three Arrows Capital (3AC), deu um calote na corretora Voyager Digital.

E aqui nos encontramos agora. 

Sendo sincero, as fontes consultadas para esta matéria foram quase unânimes após receberem a primeira pergunta, “o que podemos esperar do próximo semestre?”. As respostas vieram em forma de um olhar para o lado, feições de preocupação e geralmente, a frase que mata qualquer perspectiva: “difícil dizer”. 

Esta matéria faz parte de uma série especial do Seu Dinheiro sobre onde investir no segundo semestre de 2022. Eis a lista completa:

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Investidores em criptomoedas: o pior já passou

A frase acima pode chegar aos seus ouvidos de duas maneiras. A primeira delas é como um sinal positivo, tendo em vista que as criptomoedas passaram pelas etapas mais difíceis do ano. 

Mas também é possível ouvi-la como uma ingenuidade de quem fala, tendo em vista que o mercado global de criptomoedas perdeu mais de US$ 1 trilhão só nos primeiros seis meses de 2022, e o bitcoin está 58,03% abaixo das máximas do ano, ao redor de US$ 47.400, e 71% distante das máximas históricas. 

“Isso não quer dizer que não podem acontecer novas quedas. A retomada, também, talvez não seja tão vertiginosa, mas certamente o pior que poderia acontecer, já aconteceu”, pondera José Artur Ribeiro, CEO da exchange Coinext. 

O pior possível? Talvez

Para o segundo semestre, o presidente da corretora ainda não enxerga uma retomada do mercado. Mas, na visão dele, o cenário macroeconômico também não consegue trazer novidades ruins.

O panorama internacional continua desfavorável e não deve melhorar ao menos até o fim do aperto monetário nos Estados Unidos

De acordo com o próprio Federal Reserve e o departamento de comércio dos EUA, a inflação por lá segue disseminada entre os diversos setores. Mesmo com o aperto monetário, os preços não devem começar a cair tão cedo.

Uma luz: criadores de criptomoedas com dinheiro

Dito isto tudo, vamos agora para o que deve trazer alívio ao mercado.

Os analistas gostam sempre de enfatizar que os fundamentos das criptomoedas não se alteraram. Com isso em mente, a visão é de que grandes projetos em criptomoedas estão altamente descontados e que, quando o mercado virar, podem trazer rendimentos extraordinários. 

É o que conta Orlando Telles, sócio fundador da Mercurius Crypto e diretor de research na mesma casa de análise. Eles destaca alguns motivos para otimismo:

  • O mercado de criptomoedas ganhou um número considerável de desenvolvedores durante o bull market, o que ampliou a base de criadores e empresas no setor. Em outras palavras, a dinâmica de criação e atualização dos projetos está cada vez mais sólida;
  • A entrada de investidores institucionais também ajudou o mercado, com os investimentos de venture capital bombando em 2021. Em maio daquele ano, foram cerca de US$ 2,233 bilhões em investimentos do tipo. 

E por que isso é um bom sinal

A métrica de preço das criptomoedas em relação aos investimentos foi criada pela Andreessen Horowitz, empresa de software e apoiadora do mercado cripto conhecida como a16z. 

Munidos dessa lógica, os especialistas esperam que os projetos mais sólidos sobrevivam e tragam novidades para o mercado, o que deve atrair novamente investidores e quebrar o ciclo de baixas.

As bases — olha os fundamentos aí de novo — dessa teoria continuam sólidas o bastante para gerar certo otimismo.

O que pode fazer as criptomoedas e o bitcoin saírem do atoleiro?

O mercado pode seguir por dois eixos para conseguir buscar patamares de preços mais elevados.

O primeiro deles seria uma mudança da política monetária nos EUA, com a inversão de tendência de alta nos juros — e também é o cenário mais improvável de acontecer. 

Já o segundo eixo — este, sim, uma esperança do mercado — é que o mercado de criptomoedas passe a ser encarado como um setor de tecnologia diferente dos mercados tradicionais.

Caminhando com as próprias pernas

Em outras palavras, os investimentos em moedas digitais precisam encontrar sua própria dinâmica em um cenário desfavorável.

Vale destacar que os Estados Unidos não passavam por um aperto monetário tão intenso há décadas: uma alta de juros de 0,75 ponto, como a vista na última reunião do Fed, não acontecia desde 1994.

Por sua vez, o bitcoin tem pouco mais de 13 anos de existência, e o mercado de criptomoedas é muito mais recente do que isso. Portanto, os analistas ainda não sabem exatamente como as moedas digitais podem se comportar em um cenário que nunca enfrentaram antes. 

Atualizações das criptomoedas no segundo semestre

Ainda na esteira do que pode influenciar os preços no segundo semestre, não apenas os fundamentos continuam os mesmos, mas as atualizações previstas para este ano devem injetar um novo ânimo no mercado.

As novidades podem influenciar positivamente as cotações, mas servirão mais para agregar valor às criptomoedas do que necessariamente elevar os preços.

Confira algumas atualizações esperadas para o segundo semestre:

  • Ethereum (ETH) — The Merge: a atualização mais esperada do ano é sem dúvidas a “fusão” da rede ethereum, que deve aumentar a eficiência energética da segunda maior criptomoeda do mundo. 
  • Polygon (MATIC) — foco em web 3.0: outra criptomoeda que promete trazer novidades em relação a nova geração da internet, a polygon tem um grupo de desenvolvedores consideravelmente alto e uma capacidade de criação on-chain que chama a atenção dos analistas — leia mais sobre ela aqui
  • Chainlink (LINK) — dividendos em criptomoedas: a atualização da LINK promete melhorar o protocolo de staking e trazer ainda mais investidores para dentro da sua blockchain. O primeiro passo foi dado em junho deste ano e fez as cotações da criptomoeda dispararem à época. 

A cereja do bolo: onde investir no segundo semestre

Assim, vamos ao principal: confira a seguir os projetos mais indicados para o segundo semestre. 

Sempre lembrando que os analistas indicam que o seu portfólio não deve ultrapassar os 5% investidos em criptomoedas. O mercado é altamente volátil e pode fazer suas aplicações subirem vertiginosamente ou virarem pó da noite para o dia. 

Por isso, alocar uma pequena parcela do seu dinheiro é uma forma de se proteger de possíveis perdas maiores. Confira os projetos a seguir:

  • Bitcoin (BTC): A maior e primeira criptomoeda do mundo é considerada o ativo mais seguro dentro do universo das moedas digitais — reconhecida, inclusive, como “ouro digital”. A maior parcela dos seus investimentos deve permanecer nesse projeto em momentos de incerteza;
  • Ethereum (ETH): A segunda maior criptomoeda do mundo também é uma das recomendações “seguras” para os próximos meses. Ainda que a volatilidade atinja esta moeda com mais intensidade do que o bitcoin, é um dos projetos mais sólidos e com desenvolvedores engajados dentro das altcoins — moedas alternativas ao bitcoin.

As recomendações mais seguras dentro do universo cripto param por aí. Os analistas consultados entendem que os próximos meses não são os mais adequados para investir em “projetos promissores”. 

Antes de se arriscar: o que olhar antes de investir em outras criptomoedas

Mas se você é um investidor mais arrojado e quer se arriscar um pouco mais, Orlando Telles avisa que é preciso estar atento a dois fatores importantes antes de colocar dinheiro em um projeto. 

Em primeiro lugar, o investimento precisa resolver um problema do mundo digital. Existe uma série de projetos que resolvem problemas relacionados ao metaverso e web 3.0, mas que ainda não são aplicáveis no dia a dia, por exemplo — portanto, podem demorar mais para subir. 

Já José Artur Ribeiro, da Coinext, também entende que o segundo ponto é o mais importante para investir em uma criptomoeda: a receita do projeto. Uma boa gestão de recursos pode ser a diferença entre uma moeda promissora — e uma nova Terra (LUNA).

Confira a seguir as criptomoedas que juntam esses dois pontos, na visão dos analistas:

  • Polygon (MATIC): A plataforma da polygon pretende se tornar uma grande conexão entre blockchains (redes), formando um ecossistema de comunicação multi-chain. Além disso, conta com um corpo de desenvolvedores de aplicativos descentralizados (DApps) bastante sólido;
  • Chainlink (LINK): O “oráculo” das criptomoedas auxilia no desenvolvimento de protocolos de finanças descentralizadas, fazendo a validação de vários dados ao mesmo tempo de maneira mais segura — além de permitir o staking a partir do próximo semestre;
  • Uniswap (UNI): É o principal protocolo para negociação de finanças descentralizadas. Ainda que o mercado de DeFis tenha sofrido este ano, o projeto é considerado o mais sólido do segmento. 

DeFis e NFTs: onde estão?

Se você, leitora ou leitor do Seu Dinheiro, chegou até aqui, deve ter sentido falta de projetos relacionados a finanças descentralizadas (DeFis), certificados digitais (NFTs) e ao metaverso.

A verdade é que o cenário está tão conturbado que os analistas deixaram de lado as “criptogemas” — como são chamados projetos ainda em fase inicial —, especialmente relacionados a esses universos. 

Criptomoedas relacionadas a DeFis, NFTs e metaverso aproveitaram os anos de dinheiro fácil e muitos projetos foram criados. Agora que a torneira fechou, o mercado vê uma “limpeza” de iniciativas ruins ou que ainda não encontraram uma tokenomic (“economia de token”, em tradução livre) própria. 

Aqui vão alguns números: 

  • Após o pico em agosto do ano passado, o volume negociado semanalmente em NFTs caiu de US$ 1,07 bilhão para US$ 26,04 milhões — queda de 97,56%, de acordo com o The Block Research;
  • Os protocolos de DeFi perderam mais de US$ 168 bilhões em valor armazenado em contratos inteligentes (smart contracts) desde as máximas históricas em dezembro de 2021. O chamado TVL (total value locked) caiu cerca de 70,56%, segundo o DeFi Llhama;
  • É difícil estimar o valor absoluto do metaverso, tendo em vista que é um conceito que engloba diversos aspectos da vida digital. Mas a queda do mercado global de criptomoedas de US$ 2 trilhões para pouco mais de US$ 859 milhões exemplifica o impacto geral que o mercado sofre.

Assim, os analistas preferiram se abster de indicações de projetos mais inovadores e preferem indicar criptomoedas mais antigas e projetos mais consolidados, abrindo mão de “criptogemas” para este semestre. 

*Colaboraram com esta matéria José Artur Ribeiro, CEO da exchange Coinext, Orlando Telles, sócio fundador da Mercurius Crypto e diretor de research na mesma casa de análise, e Rodrigo Zobaran, analista de pesquisas quantitativas da Kinea, focado em criptoativos, modelagem macroeconômica e dinâmicas de mercado.

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