Onde investir no 2º semestre: Hora de comprar dólar e ouro? Saiba por que a proteção ficou mais cara, mas continua essencial
Com a alta da Selic, o custo de oportunidade de investir em dólar cresceu. Mas ainda é a melhor alternativa para proteger seu patrimônio
No apito final do especial Onde Investir no 2º semestre, o dólar e o ouro entram em campo com a função de zagueiros, defendendo seus investimentos dos ataques especulativos.
E isso vale mesmo no cenário atual, com o dólar bastante volátil em relação ao real. Aqui no Seu Dinheiro, um dos nossos mantras é “sempre tenha dólar na carteira”, e isso vale para qualquer que seja a cotação. Já no caso do ouro, talvez seja o caso de colocar o ativo no banco de reservas.
Mas com a renda fixa pagando dois dígitos aqui no Brasil, como você pode conferir na matéria da Julia Wiltgen, você deve se perguntar por que deveria investir em dólar.
Para explicar, é mais fácil voltarmos um pouco no tempo.
Pandemia trouxe pânico aos mercados
Em 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o mundo vivia uma pandemia da até então desconhecida Covid-19, os mercados entraram em pânico.
Esse é um estado que leva os investidores a procurarem por ativos seguros. E a moeda norte-americana é um deles, ao lado do ouro e dos títulos públicos dos Estados Unidos, os Treasuries.
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Não à toa, acompanhamos aqui no Brasil uma valorização do dólar sempre que temos momentos de estresse.
Mas o começo da pandemia foi mais do que um mero momento de estresse. Foi um choque extremo na economia mundial que provocou reprecificação de todos os ativos.
E para onde correram os investidores? Você já sabe.
Portanto, mais do que obter ganhos polpudos investindo em dólar, o intuito de ter parte dos seus investimentos atrelados à moeda americana é de protegê-los de eventuais choques internos ou externos.
É assim que trabalham os grandes gestores dos fundos multimercados.
Esta matéria faz parte de uma série especial do Seu Dinheiro sobre onde investir no segundo semestre de 2022. Eis a lista completa:
- Cenário macro
- Bolsa
- Renda fixa
- Bitcoin e criptomoedas
- FIIs e imóveis
- BDRs e ações estrangeiras
- Dólar e ouro (você está aqui)
Dólar x juros: a proteção ficou mais cara
No começo da pandemia, os bancos centrais de todo o mundo tomaram medidas para prover liquidez e reduzir os impactos na economia.
Aqui no Brasil, os juros chegaram à mínima histórica de 2% ao ano, e proteger o patrimônio por meio do câmbio tinha um custo muito baixo.
“Você estava deixando de ganhar no máximo 2% ao ano para ficar com proteção em moeda forte. Esse era um hedge barato”, disse Fabiano Godoi, sócio e CIO da Kairós Capital.
Conforme a vacinação contra a Covid-19 foi avançando e tornando possível a reabertura da economia, o excesso de demanda colidiu com o choque de oferta e provocou efeitos inflacionários no mundo todo.
Agora, os bancos centrais estão na mão inversa do começo da pandemia, subindo os juros para desaquecer a economia.
Dessa forma, os investimentos em títulos de dívida do governo acabam se tornando mais vantajosos.
E volta a entrar em campo o conceitual custo de oportunidade: quanto você está deixando de ganhar na renda fixa para investir em dólar?
Hoje é possível encontrar títulos do Tesouro com remuneração de 6% ao ano acima da inflação, sendo que o único esforço do investidor é carregar o ativo até o vencimento.
Então por que investir em dólar? Uma palavra: diversificação.
“O investidor que vai diversificar seu portfólio tem que comprar ativos dolarizados. Vai ganhar menos juros mesmo, mas o propósito é se proteger de um evento negativo no Brasil”, disse Marcos Mollica, gestor do Opportunity Total, fundo macro do Opportunity.
Dolarizar portfólio deve seguir estratégia
Existem diversas maneiras de investir em dólar, mas em todas elas é preciso seguir uma linha estratégica.
De acordo com Godoi, da Kairós, é interessante medir quanto da sua cesta de consumo está atrelada ao dólar e aportar de acordo.
“Se 15% a 20% da sua cesta de consumo está atrelada ao dólar de alguma maneira, seja por viagens ao exterior, seja por bens importados, é razoável ter uma parte dos seus investimentos alocados em moedas fortes”, afirmou o gestor.
Considerando que o segundo semestre guarda uma fonte de volatilidade para o Brasil - as eleições presidenciais -, Carlos Calabresi, CIO da Garde Asset Management, recomenda ir atrás de ativos para se proteger do chamado risco Brasil.
“Se achar lá fora um papel com vencimento de três a cinco anos de uma empresa que tem grau de investimento, que pague 5% ou algo assim, começa a ficar interessante”, indicou.
Outra maneira de investir em dólar é por meio de fundos cambiais. Nesse caso, o ideal é aplicar nos produtos com a menor taxa de administração possível. Veja a seguir as indicações da equipe da Empiricus:
- BTG Dólar
- Vitreo Dólar
- Vitreo Moedas Life
Dólar deve continuar alto
Uma das questões mais frequentes que ouvimos em meio à alta do dólar é quando e se a moeda vai cair.
Ao longo de 2022, o câmbio tem vivido uma verdadeira montanha russa, como você pode observar no gráfico abaixo:
No último relatório Focus, que o Banco Central voltou a publicar nesta semana, a perspectiva dos economistas é de que o dólar chegue ao final de 2022 cotado a R$ 5,13. Mas vale notar que essa projeção tem sido revisada para cima.
Para Mollica, do Opportunity, o movimento de alta se deve fundamentalmente a fatores internacionais: a queda dos preços das commodities, que piora os termos de troca do Brasil, e uma tendência de dólar forte devido à alta dos juros nos EUA.
“Isso coloca uma tendência de valorização do dólar contra todas as moedas”, disse.
Não é o momento do ouro
Além do dólar, o ouro também é considerado um ativo seguro. No começo da pandemia, muitos fundos de ouro ficaram famosos por ganhos polpudos, mas esse é um investimento que nenhum dos gestores entrevistados para esta matéria gostam.
“Costumam dizer que o ouro é um hedge para a inflação. Mas eu acho que é um hedge para Bancos Centrais lenientes com a inflação”, disse Mollica.
Segundo o gestor, o ouro viveu um rali quando o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) parecia estar menosprezando a inflação.
“Mas, no caso do Fed, ele está subindo os juros agressivamente, como tem que subir. Nesse contexto, o ouro despenca”, explicou Mollica.
Godoi, da Kairós, ressalta que no ouro sequer existe uma remuneração na forma de juros. Ou seja, o rendimento depende apenas da valorização do metal.
“O ouro historicamente tem correlação muito grande com o juro real. Com o juro subindo, o ouro perde muito da atratividade”, afirmou Calabresi, da Garde.
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