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Flavia Alemi
Flavia Alemi
Jornalista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pela FIA. Trabalhou na Agência Estado/Broadcast e na S&P Global Platts.
Ana Carolina Neira
Ana Carolina Neira
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero com especialização em Macroeconomia e Finanças (FGV) e pós-graduação em Mercado Financeiro e de Capitais (PUC-Minas). Com passagens pelo portal R7, revista IstoÉ e os jornais DCI, Agora SP (Grupo Folha), Estadão e Valor Econômico, também trabalhou na comunicação estratégica de gestoras do mercado financeiro.
REPORTAGEM ESPECIAL

Nova safra de IPOs vai ficar só para 2023 — e terá uma cara bem diferente da última janela

Após um período difícil para IPOs, setores mais preparados para abertura de capital em breve são de energia, infraestrutura e saneamento

Flavia AlemiAna Carolina Neira
28 de setembro de 2022
7:00 - atualizado às 15:47
B3-Foto-Divulgação
Sede da B3 -

O Brasil está há mais de um ano sem ver uma empresa abrir o capital na bolsa de valores — os famosos IPOs. E, ao que tudo indica, ainda deve demorar algum tempo até que a turma da B3 ganhe um um novo membro.

E, de certa forma, dá para dizer que esse vácuo de novas ofertas era mais ou menos esperado. Isto porque a incerteza intrínseca aos anos de eleições presidenciais costuma desestimular a busca pelo mercado de capitais, principalmente durante o segundo semestre.

Mas a interrupção dos IPOs no Brasil aconteceu bem antes de a corrida eleitoral pegar fogo: o sino da B3 tocou pela última vez em agosto de 2021, com a oferta da Oncoclínicas (ONCO3). Nas últimas semanas inclusive houve uma pequena e inesperada janela para follow ons, as emissões de ações de empresas já listadas.

Portanto, não foi o “risco eleições” que congelou a chegada de novas empresas na bolsa, mas sim todo um movimento global de aversão a risco, marcado pelo despertar do dragão da inflação.

E, se entre 2020 e 2021, vimos histórias de empresas ainda sem estrutura e maturidade para acessar o mercado de capitais, a próxima safra deve abarcar companhias com características bem diferentes dessas.

A fim de entender o que esperar da próxima temporada de IPOs, o Seu Dinheiro conversou com: Roderick Greenlees, global head do banco de investimento no Itaú BBA; Felipe Thut, diretor do Bradesco BBI; Teodora Barone, diretora-executiva do UBS BB; Guto Leite, gestor de renda variável da Western Asset; Marcelo Ornelas, gestor de ações da Kinitro Capital; Leonardo Rufino, gestor da Mantaro Capital e Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos.

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A última safra de IPOs

Mas antes de contar o que esperar, vale fazer uma retrospectiva de como foi a última safra de IPOs na bolsa brasileira — que foi bem farta, aliás.

Foram 45 IPOs só na B3 e 2.388 no mundo todo, volumes que representam um salto superior a 60% em relação a 2020, de acordo com um relatório da EY.

E olha que 2020 também foi um ano cheio de estreias nas bolsas, apesar da pandemia. No Brasil, foram 28 transações que levantaram, aproximadamente, R$ 117 bilhões em recursos.

Dessa safra, no entanto, poucas empresas tiveram desempenho positivo desde a chegada à bolsa. Entre as poucas sobreviventes estão Petrorecôncavo (RECV3,+65,8%), 3R Petroleum (RRRP3,+65,5%), Grupo Vamos (VAMO3,+103,1%) e Locaweb (LWSA3,+107,7%), lembrando que essas duas últimas fizeram desdobramentos de ações.

“A última janela foi ruim, com empresas longe de estarem maduras para fazer captação. A maioria delas não estava preparada, com modelos de negócios que não paravam em pé”, disse Marcelo Ornelas, gestor de ações da Kinitro Capital.

O hiato

Os ventos de IPO começaram a mudar a partir do momento em que o mercado percebeu sinais de que a inflação estava criando raízes na economia. A alta de preços cobrava reações contundentes do Banco Central, que já vinha elevando a taxa de juros desde março do ano passado.

Com a Selic a 5,25% em agosto de 2021 e o BC indicando novos aumentos, os investidores começaram a migrar para a renda fixa. 

Dados da Anbima mostraram que a sequência de captações dos fundos de ações foi interrompida justamente naquele mês. Em contrapartida, os fundos de renda fixa mais conservadores foram os mais procurados.

Na bolsa, o humor também começava a mudar e, naquele mês, o Ibovespa zerou os ganhos que acumulava desde o início do ano. O índice fechou 2021 com queda acumulada de 12%.

Nesse contexto, a janela para IPOs foi, pouco a pouco, se fechando. Até que, no primeiro trimestre de 2022, a invasão da Ucrânia pela Rússia deu o empurrão final que cerrou qualquer fresta. No total, 27 empresas desistiram de se listar na B3 desde janeiro deste ano.

O cenário para os IPOs em 2023

A esperança do mercado é de que o ano que vem seja mais próspero para os IPOs. Essa expectativa se deve a projeções de um cenário mais saudável para a economia local, com inflação sob controle e possibilidade do BC começar a cortar juros.

“Meu cenário base para 2023 leva em conta um respeito à questão fiscal em geral e uma ‘não piora’ do cenário externo”, afirmou Roderick Greenlees, do Itaú BBA. 

Ele ressalta, entretanto, que a inflação no ano que vem provavelmente continuará acima da meta do BC e a Selic ainda será de dois dígitos. “Mas isso já viabiliza IPOs”, reforçou o executivo. O Itaú BBA estima entre 25 e 35 transações — entre follow-ons e IPOs — em 2023.

Mas a realidade pode ser ainda melhor se vier uma ajudinha do investidor estrangeiro.

“A gente não tem visto uma participação mais perene do investidor estrangeiro. Mas o fato de o Brasil encerrar o ciclo de alta de juros nos coloca à frente de outros emergentes. Quando os estrangeiros vierem com apetite maior, isso vai contribuir bastante para novos IPOs”, afirmou Felipe Thut, diretor do Bradesco BBI.

A diretora-executiva do UBS BB Teodora Barone já está recomendando às companhias que se preparem para acessar o mercado de capitais logo no primeiro ou no segundo trimestre de 2023.

Na visão dela, os setores mais preparados para protocolarem IPOs já nas primeiras semanas do próximo ano são energia, infraestrutura e saneamento.

“No segundo trimestre, tenho expectativa de que empresas de consumo local e economia doméstica tenham chances. Estaríamos enxergando melhor o começo da inversão da taxa de juros, que deve começar a partir de junho, e sinais mais claros da inflação. Isso pode abrir a porteira para IPOs”, comenta.

Roderick Greenlees, global head do banco de investimento no Itaú BBA
Roderick Greenlees, global head do banco de investimento no Itaú BBA

Quem vem lá: a volta do “IPO raiz”

A impressão geral é de que a próxima safra de IPOs não vai dar muito espaço para as empresas de tecnologia, classificadas como empresas de “crescimento”, como foi na última temporada.

Quem deve roubar a cena são empresas de setores tradicionais, ligadas à chamada “economia real”, que também tendem a possuir mais histórico de desempenho.

O tamanho das ofertas também deve ser maior. Segundo Teodora, do UBS BB, uma estimativa conservadora para o ano que vem seria de um volume entre R$ 80 bilhões e R$ 90 bilhões, entre IPOs e follow-ons.

“As ofertas devem ser de R$ 1,5 bilhão ou R$ 2 bilhões. Deve ter poucas ofertas pequenas”, estima.

De acordo com Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, há muitas ofertas represadas.

“Os bancos de investimento devem começar pelas ofertas maiores, histórias mais vendáveis e com motivo real, atingindo investidores maiores e estrangeiros”, apontou.

Atualmente, a SBPAR Participações e a BRK Ambiental permanecem na fila de espera da B3, com pedidos de IPO em análise.

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