Privatização ou intervenção: o que o mercado espera da Petrobras (PETR4) com vitória de Lula ou Bolsonaro nas eleições
Nas mãos de quem a estatal deve ter uma melhor gestão e, por consequência, render mais para os acionistas na bolsa: Lula ou Bolsonaro?
Comprar ou não comprar ações da Petrobras (PETR4)? O constante risco de uso político costuma afastar muitos investidores dos papéis da estatal.
De maneira geral, é possível observar uma rejeição a ações de empresas controladas pelo governo nas carteiras de vários gestores, mesmo em momentos nos quais o preço dos papéis está atrativo e a empresa passa por bons momentos.
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E, em anos de eleição, até quem não tem restrições fundamentalistas com estatais costuma evitá-las. Afinal, intervenções de cunho eleitoreiro e pouco pragmático são figurinha repetida no álbum da história política do Brasil.
Aliás, no governo de Jair Bolsonaro (PL), que se elegeu com uma pauta liberal, a sombra de uma intervenção na Petrobras pairou durante todo o mandato. Primeiro, com as sucessivas trocas na presidência e, mais recentemente, com a pressão para a empresa não elevar os preços dos combustíveis antes do segundo turno das eleições — mesmo com a alta do petróleo no exterior.
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O adversário de Bolsonaro na corrida presidencial não deixa por menos. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já manifestou em diversas ocasiões que é contra a política de preços dos combustíveis adotada pela estatal nos últimos anos, que segue as cotações internacionais do petróleo.
Em outras palavras, o mercado financeiro tem poucas ilusões de que a Petrobras passará ilesa no próximo governo, seja quem for o vencedor das eleições no próximo dia 30. Mas nas mãos de quem a estatal deve ter uma melhor gestão e, por consequência, render mais para os acionistas na bolsa: Lula ou Bolsonaro?
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Nas últimas semanas eu conversei com experientes gestores e especialistas no setor de petróleo em busca da resposta. Antes, vale lembrar que o desempenho dos papéis da estatal nos próximos quatro anos dependerá não apenas dos planos do governo para a companhia como de variáveis de mercado como as cotações internacionais do petróleo.
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Partindo então da prerrogativa de que haverá algum tipo de intervenção na Petrobras — não importa qual seja o governo —, o olhar dos investidores se volta para o projeto de Lula e Bolsonaro para o futuro da petroleira.
Isto porque, ao longo dos últimos sete anos, a estatal passou de foco de um enorme escândalo de corrupção à maior pagadora de dividendos do mundo. Mas esse título pode estar com os dias contados dependendo de quem for o próximo presidente.
“No final do dia, a grande preocupação com a Petrobras se resume em uma frase: trocar dividendos por capex”, afirmou um experiente gestor. Ou seja, em vez de retornar parte do lucro aos acionistas como vem fazendo hoje, existe o risco de que a estatal se envolva em novos investimentos — que podem não valer a pena do ponto de vista financeiro.
Mas antes de entrar nesse detalhe, vamos lembrar como se deu a transformação da Petrobras nos últimos anos.
Petrobras: da mais endividada à maior pagadora de dividendos do mundo
A Operação Lava Jato, iniciada em 2014, revelou um esquema de lavagem de dinheiro dentro da Petrobras que assolava a estatal há vários anos. Vale ressaltar que o ex-presidente Lula, agora candidato, foi preso no âmbito da Lava Jato em 2018 — a condenação posteriormente foi anulada pelo STF.
Mas não foi apenas a corrupção que drenou os resultados da Petrobras. Durante o governo de Dilma Rousseff, a estatal praticou uma política de preços que manteve os combustíveis abaixo das cotações internacionais, o que diminuiu a geração de caixa da companhia.
Então, para fazer frente ao programa bilionário de investimentos, a Petrobras lançou mão de dívida no mercado, a ponto de ganhar o nada honroso título de empresa de petróleo mais endividada do mundo.
Os rumos da estatal começaram a ser corrigidos ainda na gestão Dilma, em 2015, quando a companhia lançou um novo programa de desinvestimentos com o objetivo de focar na exploração de petróleo em águas profundas. A área é a que traz maior rentabilidade para a companhia.
Mas foi sob o comando de Pedro Parente, indicado pelo então presidente Michel Temer, que a Petrobras acelerou esse programa e fez uma mudança importante na sua política de preços em 2016 que vigora até hoje.
A nova fórmula passou a considerar a cotação internacional do barril de petróleo Brent e a variação do câmbio sob a chamada Paridade do Preço de Importação (PPI).
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O novo cálculo beneficiou a saúde financeira da estatal e, em 2018, a empresa voltou a dar lucros bilionários. No ano seguinte, houve novo salto no lucro da Petrobras, resultado do ganho de capital sobre os desinvestimentos. Desde 2015 até agosto de 2022, a soma de ativos vendidos chegou a R$ 280,4 bilhões.
Assim, aliando a política de desinvestimentos e a paridade internacional de preços, a Petrobras reduziu drasticamente a dívida e se tornou a maior pagadora de dividendos do mundo no segundo trimestre deste ano. Foram distribuídos R$ 87,8 bilhões em proventos, ou R$ 6,732 por ação, pagos em duas parcelas.
Críticas
Mas as mudanças operacionais e os vultosos lucros e dividendos da Petrobras não blindaram a Petrobras de críticas.
Do lado operacional, a avaliação é que a estatal está deixando de lado o investimento em fontes renováveis. Com o mundo em um processo de transição energética, a aposta quase que exclusiva no petróleo poderia, portanto, comprometer o futuro da companhia.
Parte das críticas encontra eco em alguns membros do conselho de administração da estatal, como Francisco Petros, conselheiro independente que representa os acionistas minoritários.
Em entrevista ao Valor Econômico em agosto, Petros disse que os dividendos acima da média pagos pela estatal demonstram falta de investimentos na transição energética.
A incerteza sobre a aplicação da política de preços dos combustíveis é outro ponto de desconforto no mercado. Isso porque a estatal parece mais disposta a adotar a paridade internacional quando as cotações caem.
Foi o que aconteceu entre julho e o início deste mês, quando a Petrobras anunciou 12 reduções nos preços dos combustíveis que saem das refinarias — em linha com a queda do petróleo lá fora.
Esse alinhamento, contudo, não se faz presente agora que as cotações externas voltaram a subir. De acordo com cálculos da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a gasolina vendida aqui no Brasil estava 8% mais barata — ou R$ 0,31 por litro — em relação ao preço internacional.
O que Bolsonaro planeja para a Petrobras
Agora que falamos do passado e do presente da Petrobras, vamos abordar o que os dois postulantes à Presidência pretendem fazer da maior estatal brasileira.
Apesar de o plano de governo de Bolsonaro para um eventual segundo mandato não mencionar a Petrobras, o mercado espera que a política de venda de ativos adotada desde o governo Temer seja mantida.
Quanto à política de preços da estatal, Bolsonaro chegou a criticá-la por diversas vezes quando os combustíveis estavam em alta, seguindo o petróleo lá fora.
Mas, assim que a queda do preço da commodity possibilitou um recuo dos preços, o presidente mudou de ideia e disse em agosto que não haveria necessidade de mudança nesta política.
A expectativa de uma parte do mercado é que uma eventual reeleição de Bolsonaro mantenha na pauta a possibilidade de privatização da Petrobras. A ideia certamente agrada ao ministro Paulo Guedes, mas a efetiva implementação da venda do controle da petroleira é considerada de extrema dificuldade pelo mercado.
Lula quer Brasil autossuficiente
Se a privatização da Petrobras já seria algo difícil de acontecer em um segundo governo Bolsonaro, essa possibilidade simplesmente deixa de existir caso Lula volte à Presidência.
O plano de governo do candidato do PT ressalta a necessidade das estatais como um todo cumprirem seu papel “no processo de desenvolvimento econômico e progresso social, produtivo e ambiental do país”.
Lula também defende a manutenção do regime de partilha do pré-sal, instituído em 2010. Esse regime estabelece que o vencedor das rodadas de licitação seja a empresa que oferecer à União o maior excedente de petróleo das áreas de exploração. As regras também estabelecem que a Petrobras tem o direito de preferência de participar dos consórcios do pré-sal.
Para a operação da Petrobras, especificamente, o petista defende que a petroleira volte a ser uma empresa integrada de energia, promovendo o Brasil a ser autossuficiente em petróleo e seus derivados.
Isso passaria pela exploração, produção e refino de petróleo, além da distribuição. Ao mesmo tempo, os investimentos seriam ampliados para frentes da transição energética, como gás, fertilizantes, biocombustíveis e energias renováveis.
E é nesse ponto que moram as preocupações dos especialistas com um novo mandato petista.
“Por definição, se os investimentos tiverem retorno positivo, não deveria ser ruim para o acionista. Mas ninguém confia na capacidade do PT de escolher bons investimentos”, disse um gestor.
Fora do controle 1: preço internacional
Mais do que investimentos ou desinvestimentos, um fator externo que não está sob o controle da Petrobras, mas a afeta diretamente, é o preço do barril de petróleo.
Em 2018, quando a Petrobras voltou a dar lucro, o aumento do preço médio do petróleo Brent foi elencado pela empresa como um dos fatores que proporcionaram lucro de R$ 25,8 bilhões naquele ano.
Em contrapartida, no ano de 2020, quando começou a pandemia de Covid-19, o preço do barril de petróleo despencou. Para quem não se lembra, em abril daquele ano foi possível verificar empiricamente uma bizarrice do mercado futuro: o preço dos barris ficou abaixo de zero pela primeira vez na história.
A desvalorização afetou diretamente o resultado da Petrobras em 2020. O lucro caiu 82% em relação a 2019, para R$ 7,1 bilhões.
Fora do controle 2: dólar
Mas não é apenas o petróleo que entra como uma incógnita na fórmula da Petrobras: o câmbio também tem uma participação especial no balanço da estatal.
No segundo trimestre de 2022, o resultado financeiro da Petrobras ficou negativo em US$ 3,2 bilhões, reflexo de uma depreciação de 10,6% do real ante o dólar.
Comparado ao período anterior, o resultado tinha ficado positivo em US$ 600 milhões com a valorização de 15,1% da moeda brasileira em relação à americana.
Fatores que independem do controle da Petrobras estão presentes com o governo atual e também estarão nos próximos que vierem depois dele - e as intervenções políticas também. Cabe ao investidor decidir em qual projeto de Petrobras e de país seu dinheiro estará melhor investido.
Lula ou Bolsonaro: quem é melhor para a Petrobras?
Afinal, do ponto de vista do acionista da Petrobras, quem é melhor: Lula ou Bolsonaro? A disparada das ações da estatal na segunda-feira logo após o primeiro turno das eleições indica que o mercado financeiro tem uma clara preferência pela reeleição do presidente.
Mas quem tem medo de um eventual governo Lula deveria dar uma olhada no histórico.
Durante as duas gestões do ex-presidente, os papéis da Petrobras dispararam e não houve problemas sérios de intervenção na companhia.
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De modo geral, o mercado pode até ficar mais otimista com Bolsonaro, mas as perspectivas para a Petrobras parecem boas seja quem for o próximo presidente. Tanto que as ações da estatal (PETR4) possuem hoje seis recomendações de compra, quatro de manutenção e nenhuma de venda, de acordo com dados da plataforma Trademap.
Um dos que recomendam a compra do papel é o Goldman Sachs, que ressaltou num relatório publicado no final de setembro o fato de que, mesmo com os riscos políticos, as estatais subiam, em média, 30% no ano na bolsa. A ação da Petrobras, por sinal, é a que tem melhor desempenho entre as controladas pelo governo.
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