Na ClearSale (CLSA3), um plano para pôr ordem na casa e retomar a confiança do mercado — mas sem descuidar das fraudes
Bernardo Lustosa, CEO da ClearSale, falou com o Seu Dinheiro sobre o atual momento da companhia e a retomada dos principais indicadores financeiros após um período turbulento
Imagine a seguinte situação: é seu aniversário e, sem aviso prévio, um entregador bate à porta. Ele traz flores, chocolates, uma lembrança mandada por um amigo nesta data especial. É só pagar a taxa de entrega e gravar um vídeo agradecendo a surpresa — e que surpresa, como a ClearSale (CLSA3) bem sabe.
Você certamente já ouviu alguma história parecida com essa. É um presente de grego: o entregador é um golpista que, de alguma maneira, conhece os hábitos e o círculo social da vítima — e que se aproveita da ocasião para abordá-la. O aniversariante, inocentemente, passa os dados bancários e outras informações sensíveis ao fraudador.
"É um jogo de gato e rato", diz Bernardo Lustosa, CEO da ClearSale. A empresa atua como uma espécie de intermediário entre o consumidor e diversos setores, como e-commerce e telecomunicações.
A missão da companhia, em termos simplificados, é analisar transações e evitar fraudes. "A gente é o gato e consegue pegar o rato bem bem rápido".
Se você nunca ouviu falar em ClearSale, saiba que isso é, de certa maneira, um elogio à companhia. Nas palavras de Lustosa, em entrevista ao Seu Dinheiro, o objetivo é cumprir seu papel com o "mínimo de fricção". Ou, em outros termos: passar despercebida na maioria absoluta das compras on-line feitas no dia a dia, tamanha a sua eficiência.
Tem no Magalu e nos bancões
E olha que o volume de transações analisado pela empresa está longe de ser desprezível. A ClearSale atende os dez maiores players de e-commerce do Brasil — como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3), Americanas (AMER3) e outros —, além de sete das dez maiores instituições financeiras do país e quatro dos cinco mais relevantes bancos digitais.
Leia Também
Como um todo, são mais de cinco mil companhias usando algum dos serviços antifraude da ClearSale, um portfólio construído ao longo de mais de 20 anos de trajetória. O IPO, em julho de 2021, já pegou a empresa num estágio relativamente maduro.
Só que, após a estreia das ações, a companhia se viu num novo jogo de gato e rato: o do sobe e desce na bolsa. E, por uma série de fatores, essa disputa ficou particularmente difícil poucos meses após a abertura de capital.
Basta analisar alguns números para entender o tamanho do problema: os papéis CLSA3 estrearam a R$ 25,00. Hoje, quase um ano e meio depois do IPO, estão a R$ 5,74 — uma queda de 77% de lá para cá. Boa parte da desvalorização ocorreu ainda em 2021, com as ações recuando para abaixo de R$ 10,00 ao fim do ano.
O que aconteceu?
ClearSale (CLSA3) e a tempestade perfeita
Julho de 2021 era uma época propícia para um IPO. Afinal, o mercado de aberturas de capital estava bastante aquecido no Brasil, com inúmeras empresas encontrando condições ideais para chegarem à bolsa — leia-se investidores com a carteira aberta e dispostos a correr riscos.
E, mais que isso: para a ClearSale (CLSA3), o aquecimento do e-commerce em meio à pandemia criava um cenário ideal — quanto mais transações são analisadas, mais receita é gerada. E foi nesse ambiente que a companhia levantou pouco mais de R$ 1 bilhão numa oferta primária de ações. Desse total, R$ 600 milhões foram direto para o caixa.
Com juros perto das mínimas históricas, consumo estimulado pelo governo e dinheiro para expansão, tudo parecia convergir para um ciclo virtuoso na ClearSale. O céu de brigadeiro, no entanto, durou pouco.
Em questão de meses, esse cenário benéfico virou de cabeça para baixo. A Selic, que estava em 4,25% ao ano à época do IPO, disparou a 13,25% em julho de 2022. O comércio on-line, tão demandado durante a pandemia, se viu castigado pelo crédito mais caro e pela reabertura das lojas físicas.
É verdade que um ciclo de aperto monetário já era esperado e não surpreendeu ninguém. A magnitude e a rapidez desse processo, no entanto, em paralelo à queda na demanda do e-commerce, pegaram a indústria no contrapé — especialmente quando levamos em conta as bases bastante elevadas vistas um ano antes.
O consumo, antes farto, começou a minguar — e as tentativas de fraude voltaram a crescer, desta vez com uma sofisticação extra. Voltemos ao exemplo do começo do texto: por que o golpista tentaria gravar um vídeo da vítima? É só mais um truque para dar ares de normalidade à situação?
Bem, na verdade, não: o fraudador quer capturar a biometria facial do seu alvo em potencial e, com isso, acessar dispositivos bancários ou aplicativos de compras que utilizem essa barreira de segurança. Esse é só um dos novos golpes que surgiram há pouco tempo, e que implicaram em perdas volumosas para a ClearSale no auge da crise.
"A gente tem que saber dançar aqui, a gente tem que ser mais equilibrado, sempre", disse Lustosa, referindo-se à virada súbita nas condições macroeconômicas do país — deterioração essa que acertou a ClearSale em cheio.
Veja o gráfico acima e note que, a partir do terceiro trimestre de 2021 — justamente o primeiro após o IPO —, há uma piora bastante nítida nas principais métricas da ClearSale, especialmente nas margens. Por mais que a receita líquida tenha se sustentado perto dos níveis históricos, as demais linhas do balanço sofreram.
As cotações dos papéis CLSA3 acompanharam a queda nos indicadores financeiros e chegaram a ficar abaixo dos R$ 4,00 nas mínimas históricas. Um quadro longe do ideal — e que fez a empresa colocar em prática uma espécie de projeto de urgência.
O plano de equilíbrio
Dada a erosão do cenário macroeconômico e das principais linhas do balanço, a ClearSale lançou um "plano de equilíbrio": revisar contratos; antecipar receitas; acelerar projetos que trouxessem ganho de produtividade, de modo a recuperar as margens; melhorar a taxa de sucesso junto aos clientes — em suma, tudo o que trouxesse mais eficiência.
As iniciativas foram colocadas em prática no começo de 2022 e, já no segundo trimestre do ano, foi possível perceber uma recuperação bastante intensa nas margens, embora o Ebitda continuasse negativo e a empresa seguisse dando prejuízo. Em paralelo, a companhia também colocou em prática uma espécie de 'sala de guerra' para inibir as fraudes.
Aqui, vale um parêntese: o modelo de negócio da ClearSale tem como base o sucesso das transações on-line. Se uma operação legítima acontece sem que haja dores de cabeça para as partes envolvidas, a empresa tem direito a uma recompensa; se uma fraude nítida é detectada, a companhia também fica com os louros.
Isso é bastante óbvio. O que não é tão evidente assim são os cenários que ficam na zona cinzenta, as transações em que há uma suspeita de irregularidade. Se essa operação for legítima, mas mesmo assim for barrada, há uma perda para o operador de e-commerce ou para o banco, que deixa de faturar.
Ou, no pior dos cenários: se uma fraude recebe o sinal verde, o prejuízo fica com os operadores — e, por tabela, para a ClearSale. Assim, a parte crítica do trabalho está em separar o joio do trigo nessa zona cinzenta: ter mecanismos extra que diferenciem os 'falsos verdadeiros' dos golpes legítimos, maximizando as vendas.
E, é claro: estar um passo à frente dos fraudadores, seja por identificar novas modalidades de golpe, seja por ter mecanismos inovadores para confirmar a veracidade de uma transação.
Dito isso, essa 'sala de guerra' esteve a todo vapor a partir do primeiro trimestre, em paralelo ao plano de equilíbrio, de modo a evitar as perdas por fraude no e-commerce, que deram um salto a partir da segunda metade de 2021. Tudo isso surtiu efeito já no trimestre encerrado em junho — e continuou dando frutos no período seguinte.
A ClearSale daqui em diante
O gráfico mostrado anteriormente revela que as margens bruta e líquida da ClearSale (CLSA3) retornaram aos patamares do segundo trimestre de 2021, enquanto o Ebitda virou para o positivo — e mesmo a última linha do balanço mostrou um pequeno lucro.
E, de fato, o desempenho financeiro da ClearSale no terceiro trimestre foi elogiado pelo mercado. Em nota, o Itaú BBA afirmou que o balanço "superou as expectativas como um todo", e que, com os esforços da 'sala de guerra' surtindo efeito, os indicadores de fraude voltaram aos patamares normais — o que colocava a empresa numa boa posição para o quarto trimestre, que sazonalmente é mais forte para o e-commerce.
Ainda que a Black Friday tenha decepcionado em 2022 — segundo levantamento da Confi Neotrust com a própria ClearSale, a data registrou um faturamento total de aproximadamente R$ 6,1 bilhões, recuando 23% em relação a 2021 —, o fim de ano se caracteriza pelo alto volume de transações e compras on-line, sendo crucial para a companhia.
"A gente espera muito mais desse plano porque, na hora em que mudamos a mentalidade, de crescimento para margem, a gente acaba tirando a prioridade de projetos longínquos ou incertos", diz Lustosa, afirmando que pode capturar ainda mais ganhos — ele, no entanto, não passou qualquer tipo de previsão financeira.
Em paralelo ao resultado do terceiro trimestre, a companhia também divulgou algumas mudanças em sua estrutura administrativa. Lustosa segue como CEO, mas, daqui em diante, passará a se dedicar mais às questões estratégicas. Já Eduardo Mônaco, ex-diretor operacional, agora é diretor presidente e responde pelo dia a dia da empresa.
Ações CLSA3 ainda sofrem
Mas, embora o balanço da ClearSale já mostre sinais de melhoria, as ações CLSA3 seguem perto das mínimas históricas. O próprio Itaú BBA diz que o viés para os papéis está mais positivo, mas faz a ressalva que ainda é essencial conhecer melhor os planos da nova administração; entender o que aconteceu no passado e o que está sendo feito para prevenir que se repita também é importante.
Quanto a isso, Lustosa diz acreditar que a queda nas cotações foi um pouco exagerada. A ClearSale, por estar exposta às teses dos setores de tecnologia e de consumo, foi duplamente castigada pelo ambiente de juros em alta e contração na demanda do e-commerce. Mas, segundo ele, a companhia está fazendo o dever de casa.
E, por 'dever de casa', entende-se a continuidade do plano de equilíbrio, em conjunto com o desenvolvimento de novos mecanismos que aperfeiçoem a segurança das vendas e antecipem eventuais tentativas de fraude — um esforço que nunca acaba, já que, assim como o e-commerce, os golpes também estão em constante evolução.
Não existe bala de prata no combate à fraude
Bernardo Lustosa, CEO da ClearSale
Nvidia (NVDC34) vê lucro mais que dobrar no ano — então, por que as ações caem 5% hoje? Entenda o que investidores viram de ruim no balanço
Ainda que as receitas tenham chegado perto dos 100% de crescimento, este foi o primeiro trimestre com ganhos percentuais abaixo de três dígitos na comparação anual
Do pouso forçado às piruetas: Ibovespa volta do feriado com bolsas internacionais em modo de aversão ao risco e expectativa com pacote
Investidores locais aguardam mais detalhes do pacote fiscal agora que a contribuição do Ministério da Defesa para o ajuste é dada como certa
Que crise? Weg (WEGE3) quer investir US$ 62 milhões na China para aumentar capacidade de fábrica
O investimento será realizado nos próximos anos e envolve um plano que inclui a construção de um prédio de 30 mil m², com capacidade para fabricação de motores de alta tensão
Como a Embraer (EMBR3) passou de ameaçada pela Boeing a rival de peso — e o que esperar das ações daqui para frente
Mesmo com a disparada dos papéis em 2024, a perspectiva majoritária do mercado ainda é positiva para a Embraer, diante das avenidas potenciais de crescimento de margens e rentabilidade
É hora de colocar na carteira um novo papel: Irani (RANI3) pode saltar 45% na B3 — e aqui estão os 3 motivos para comprar a ação, segundo o Itaú BBA
O banco iniciou a cobertura das ações RANI3 com recomendação “outperform”, equivalente a compra, e com preço-alvo de R$ 10,00 para o fim de 2025
Em busca de dividendos? Curadoria seleciona os melhores FIIs e ações da bolsa para os ‘amantes’ de proventos (PETR4, BBAS3 e MXRF11 estão fora)
Money Times, portal parceiro do Seu Dinheiro, liberou acesso gratuito à carteira Double Income, que reúne os melhores FIIs, ações e títulos de renda fixa para quem busca “viver de renda”
R$ 4,1 bilhões em concessões renovadas: Copel (CPLE6) garante energia para o Paraná até 2054 — e esse banco explica por que você deve comprar as ações
Companhia paranaense fechou o contrato de 30 anos referente a concessão de geração das usinas hidrelétricas Foz do Areia, Segredo e Salto Caxias
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
Equatorial (EQTL3) tem retorno de inflação +20% ao ano desde 2010 – a gigante de energia pode gerar mais frutos após o 3T24?
Ações da Equatorial saltaram na bolsa após resultados fortes do 3º tri; analistas do BTG calculam se papel pode subir mais após disparada nos últimos anos
‘Mãe de todos os ralis’ vem aí para a bolsa brasileira? Veja 3 razões para acreditar na disparada das ações, segundo analista
Analista vê três fatores que podem “mudar o jogo” para o Ibovespa e a bolsa como um todo após um ano negativo até aqui; saiba mais
Acaba logo, pô! Ibovespa aguarda o fim da cúpula do G20 para conhecer detalhes do pacote fiscal do governo
Detalhes do pacote já estão definidos, mas divulgação foi postergada para não rivalizar com as atenções à cúpula do G20 no Rio
A B3 vai abrir no dia da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios na estreia do novo feriado nacional
É a primeira vez que o Dia da Consciência Negra consta no calendário dos feriados nacionais. Como de costume, as comemorações devem alterar o funcionamento dos principais serviços públicos
Grupo Mateus: Santander estabelece novo preço-alvo para GMAT3 e prevê valorização de 33% para as ações em 2025; saiba se é hora de comprar
O banco reduziu o preço-alvo para os papéis da varejista de alimentos em relação à 2024, mas mantém otimismo com crescimento e parceria estratégica
Localiza: após balanço mais forte que o esperado no 3T24, BTG Pactual eleva preço-alvo para RENT3 e agora vê potencial de alta de 52% para a ação
Além dos resultados trimestrais, o banco considerou as tendências recentes do mercado automotivo e novas projeções macroeconômicas; veja a nova estimativa
Ações da Oi (OIBR3) saltam mais de 100% e Americanas (AMER3) dispara 41% na bolsa; veja o que impulsiona os papéis das companhias em recuperação judicial
O desempenho robusto da Americanas vem na esteira de um balanço melhor que o esperado, enquanto a Oi recupera fortes perdas registradas na semana passada
Inscrições para o programa da XP e Copa Energia acabam hoje (18); confira essas e outras vagas para estágio e trainee com bolsa-auxílio de até R$ 7,6 mil
Os aprovados nos programas de estágio e trainee devem começar a atuar a partir do primeiro semestre de 2025; as inscrições ocorrem durante todo o ano
Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3) voltam a ficar no radar das privatizações e analistas dizem qual das duas tem mais chance de brilhar
Ambas as empresas já possuem capital aberto na bolsa, mas o governo mineiro é quem detém o controle das empresas como acionista majoritário
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Agenda econômica: balanço da Nvidia (NVDC34) e reunião do CMN são destaques em semana com feriado no Brasil
A agenda econômica também conta com divulgação da balança comercial na Zona do Euro e no Japão; confira o que mexe com os mercados nos próximos dias
Lucro dos bancos avança no 3T24, mas Selic alta traz desafios para os próximos resultados; veja quem brilhou e decepcionou na temporada de balanços
Itaú mais uma vez foi o destaque entre os resultados; Bradesco avança em reestruturação e Nubank ameaça desacelerar, segundo analistas