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Camille Lima
Camille Lima
Repórter no Seu Dinheiro. Estudante de Jornalismo na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Já passou pela redação do TradeMap.
UM INVERNO DIFÍCIL

Recessão na Europa já é realidade? Novo corte de gás de Putin piora a situação no continente

Moscou decidiu cortar o fornecimento de gás natural para a Europa a partir de hoje. Os fluxos para a Alemanha, que já estavam em 40% da capacidade, caíram para 20%

Camille Lima
Camille Lima
27 de julho de 2022
11:45
Europa e Alemanha em risco de recessão após Putin cortar o gás
Imagem: Pixabay/Wikimedia Commons/TASS

Se a expectativa de muitos turistas brasileiros ao viajar para um lugar novo é finalmente poder ver a neve cair — coisa que só vemos aqui em situações climáticas excepcionais e relativamente preocupantes —, a Europa parece um destino adequado para o fim do ano. Afinal, com os novos apertos no gás anunciados por Vladimir Putin, o continente pode estar prestes a enfrentar um longo e congelante inverno.

Olhando por cima, pode até parecer que o presidente russo é indeciso. Afinal, celebrando uma festa julina um tanto quanto caótica, a brincadeira favorita de Putin é a “vou cortar o gás… é mentira”.

Porém, analisando de perto, o aperto no fornecimento de gás na realidade pode ser uma forma muito bem pensada de iniciar uma guerra energética, numa retaliação da Rússia aos países que apoiam a Ucrânia e às sanções cada vez mais severas do Ocidente contra Moscou.

E, para a infelicidade da União Europeia, a última segunda-feira amargou os humores amigáveis do comandante russo — e ele decidiu cortar o fornecimento de gás natural para a Europa a partir de hoje.

O Kremlin afirma que a interrupção é o resultado de questões de manutenção e sanções ocidentais.

Putin vai fechar a torneira do gás

A produtora estatal russa de energia Gazprom disse que as exportações da commodity pelo gasoduto Nord Stream 1 — que leva gás da Rússia para a Alemanha — cairá para cerca de um quinto da capacidade total.

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Desse modo, os fluxos para a Alemanha, que já estavam no nível baixo de 40% da capacidade, caíram para 20%. Já a previsão é de entrega de apenas 33 milhões de metros cúbicos da capacidade de 160 milhões de metros cúbicos por dia.

Segundo a Gazprom, o motivo da redução do fornecimento do gás é a manutenção de uma turbina ao longo do oleoduto.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que o corte de Putin equivale a uma “guerra do gás” com a Europa.

Já para o ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, a justificativa de que a redução do fluxo seria por conta de uma manutenção "era uma farsa”.

Putin, é manutenção ou guerra energética?

Ainda não está claro se Putin realmente fechou as torneiras de vez para a Europa ou se existem chances de que a Rússia retome os fluxos após concluir a manutenção da turbina do gasoduto Nord Stream 1.

“É um pouco confuso se isso será uma pequena restrição de fornecimento enquanto a turbina consertada volta a funcionar ou se isso nunca será resolvido e viveremos com apenas 20% de suprimentos por um tempo considerável”, disseram analistas do Deutsche Bank em relatório.

O banco considera que Moscou provavelmente procura garantias mais claras sobre isenções de sanções no futuro.                  

“Isso provavelmente será difícil de alcançar e os russos sabem disso. Portanto, parece que a política russa estará no controle aqui por enquanto.”

O que o corte de gás da Rússia significa para a Europa

A situação deixou a Europa inteira em estado de alerta, uma vez que coloca o continente cada vez mais perto de uma recessão.

Para economistas do Citi, a possibilidade de uma recessão na região agora parece “clara”.

O bloco econômico, que já enfrenta um furioso dragão da inflação, uma guerra na Ucrânia e uma cadeia de suprimentos defasada após a pandemia, agora também se preocupa com uma batalha econômica.

O corte de gás natural é uma ameaça entre os dois lados. Por um lado, a Europa quer reduzir a dependência da commodity russa e já fechou um acordo na semana passada para reduzir o consumo de gás em 15%. A negociação ainda é uma forma de sancionar Putin.

Por outro, a Rússia consegue utilizar o gás como uma arma contra a Europa e aumentar a pressão contra os países europeus para voltar atrás com as duras sanções devido aos conflitos na Ucrânia.

A decisão de Putin em fechar a torneira para a União Europeia pode golpear diretamente o PIB do bloco econômico, que encolheria até 1,5% durante o inverno.

Além disso, uma menor oferta do gás natural implica em uma alta generalizada nos preços dos combustíveis.

É importante destacar que a população europeia já enfrenta há algum tempo uma disparada nos preços de energia, o que forçou os formadores de políticas a criarem medidas de emergência para lidar com a situação.

Europa e Alemanha em recessão

Apesar de a situação preocupar a Europa como um todo, a Alemanha tem um motivo a mais para estar aflita.

“Temos uma situação séria. É hora de todos entenderem isso”, afirmou o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, à emissora ARD.

Isso porque a medida de Putin impacta diretamente o reabastecimento dos estoques de gás para fornecer às famílias europeias combustível para manter as luzes acesas e as casas aquecidas durante o inverno.

“A Alemanha tem a maior população da Europa, é a maior economia, é o maior consumidor de gás, é o maior importador individual de gás russo e tem nove fronteiras terrestres. Então, o que quer que aconteça lá se espalha para o resto do continente”, disse Henning Gloystein, diretor de energia, clima e recursos do Eurasia Group, em entrevista à CNBC.

Racionamento de gás na Alemanha

Há alguns meses, quando surgiram os primeiros temores de que a Rússia fecharia a torneira para a Europa, a Alemanha estipulou um plano de emergência de gás de três etapas para preparar o país para um possível choque de oferta.

Antes de a Rússia reduzir o fluxo de gás, o país se encontrava na segunda fase do plano. Para estrategistas do Citi, com o nível anterior de 40% da capacidade, a Alemanha seria capaz de sobreviver ao inverno, apesar de poder precisar de um racionamento leve.

Porém, para analistas do Eurasia Group, o novo corte do combustível provavelmente deve forçar a Alemanha a passar para o nível três.

Na terceira e última fase, o governo e o regulador alemão Bundesnetzagentur devem iniciar o racionamento de gás — e decidir como será feita a distribuição do combustível em todo o país.

Desse modo, no terceiro nível, a Alemanha deverá priorizar o fornecimento de gás a residências alemãs e serviços como hospitais, o que ainda coloca em risco a produção de produtos como fertilizantes, produtos farmacêuticos e cosméticos.

Os economistas do Citi dizem que, com a capacidade de 20%, o país “provavelmente precisaria de um racionamento notável, a menos que cortassem as exportações de gás, o que seria uma coisa muito delicada de se fazer politicamente”.

De acordo com o ministro alemão Habeck, caso a última fase seja acionada, “certas cadeias de produção na Alemanha ou na Europa simplesmente não seriam mais fabricadas''.

Indústrias em perigo na Europa 

Com a nova medida de Putin, os governos da União Europeia concordaram ontem em iniciar o racionamento de gás natural no próximo inverno no continente.

Os ministros de energia do bloco aprovaram na terça-feira um projeto de lei para diminuir a demanda por gás em 15% até o outono e na próxima primavera.

“O racionamento, que afetará especialmente indústrias intensivas em energia, como fabricantes de automóveis, empresas químicas e mineração de criptomoedas, não pode ser descartado”, disse Simon Tucker, chefe de energia, serviços públicos e recursos da Infosys Consulting.

Para os economistas do Citi, a redução de 15% acordada entre os membros da UE pode ser difícil de aplicar na realidade.

“À medida que os planos de racionamento de energia para o inverno forem acordados, esperamos que as condições financeiras mais apertadas na Europa gerem uma reação muito pior na economia real. O inverno está batendo à porta da Europa”, disse a casa em relatório.

*Com informações de CNBC

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