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Guilherme Valle
BALANÇO CAMPEÃO?

Palmeiras tem receita e superávit recordes em ano de títulos; saiba se o clube tem dinheiro para trazer um centroavante

Descasamento entre ano esportivo e ano-calendário acabou bagunçando as finanças dos clubes. Mesmo assim, Palmeiras aproveita fase “papa-títulos” e reduz a dívida em quase R$ 100 milhões

Guilherme Valle
9 de abril de 2022
9:00 - atualizado às 1:13
Time do Palmeiras, campeão paulista de 2022 de futebol
Time do Palmeiras, campeão paulista de 2022 - Imagem: Cesar Greco / Palmeiras

O time do Palmeiras se preparava para jogar a primeira partida da final do Campeonato Paulista contra o São Paulo quando outra equipe, a contábil, entrava em campo para publicar os resultados do clube alviverde de 2021.

No ano em que quase foi coroado com o inédito título mundial, o balanço do Palmeiras foi premiado com recorde de receita e lucro (superávit) de R$ 123,4 milhões.

Em tese, esse dinheiro daria para reforçar o time com um centroavante de primeira linha — o grande desejo da torcida. O problema é que, no mundo da contabilidade, o placar final muitas vezes não traduz o que aconteceu dentro de campo. 

A pandemia não bagunçou só o futebol. As finanças dos clubes também viraram de cabeça para baixo com os jogos sendo disputados sem público, bases de sócios-torcedores encolhendo, mudanças nas regras dos direitos de transmissão e jogos que aconteceram em um "ano-calendário" diferente do “ano-esportivo”. 

Ou seja, uma parte da receita de R$ 910 milhões do Palmeiras no ano passado veio de premiações e direitos de transmissão referentes a campeonatos de 2020 que foram adiados pela pandemia.

Mas, afinal, como estão as finanças do atual campeão paulista? A seguir eu trago para você os principais números do clube e conto se a contratação de um reforço de peso para o ataque cabe nas quatro linhas do orçamento.

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Bilheteria e sócio torcedor

A pandemia da Covid-19 impediu que o público acessasse os estádios de abril de 2020 até novembro de 2021. Isso acabou respingando também no programa de sócio torcedor, cujo maior incentivo é justamente o acesso antecipado e com desconto aos ingressos.

O Palmeiras tentou mitigar esse problema transformando as mensalidades do sócio Avanti em créditos que poderiam ser trocados por ingressos quando da volta do público aos estádios. Além disso, parte do valor foi disponibilizada para que os sócios gastassem com produtos na loja do clube.

Mesmo assim, a receita com o programa Avanti caiu 15,3% em 2021 e ficou nos R$ 18,8 milhões. Em 2019, o programa havia rendido R$ 46 milhões aos cofres do clube.

A reabertura do Allianz Parque com o alívio na pandemia acabou ajudando a melhorar o resultado do Palmeiras. A receita com os ingressos aumentou 68% e ficou perto dos R$ 15 milhões.

Mas a cifra ainda está longe do observado em 2019, antes das medidas de restrição à circulação que cancelaram os eventos com aglomerações, como os jogos de futebol e shows. No ano anterior à pandemia, os jogos no Allianz Parque renderam quase R$ 120 milhões ao Palmeiras

Direitos de transmissão

Os direitos de transmissão foram um dos temas que mais mobilizaram dirigentes e torcedores, com mudanças nas regras de contratos desse tipo. Agora, o time mandante é o detentor dos direitos, o que abriu a possibilidade de negociação direta entre clubes e empresas de mídia.

A negociação da transmissão é a grande mina de ouro dos times de futebol, e com o Palmeiras não é diferente. Em 2021, as receitas com esses contratos foram de R$ 243 milhões, um aumento de 58% em relação ao ano anterior.

Mas vale destacar que essa comparação não é perfeita em razão do descasamento entre o "ano-calendário" e o "ano-esportivo" com a pandemia.

Se realizarmos um ajuste a partir do que o clube efetivamente receberia se os campeonatos terminassem nas datas previstas, a receita com direitos de transmissão do Palmeiras teria ficado praticamente estável.

Os títulos rendem para o Palmeiras

O sucesso do Palmeiras dentro de campo teve reflexo direto nas finanças do clube. As receitas com premiações deram um salto de 810% no ano passado.

A cifra pode parecer impressionante — e é, já que ganhar a Libertadores duas vezes consecutivas e ainda faturar uma Copa do Brasil no meio do caminho é um feito raro no futebol brasileiro.

Mas a variação escandalosa tem mais a ver com, novamente, o descasamento entre "ano-esportivo" e a volta que a terra dá em torno do sol. Ou seja, a receita do ano passado foi turbinada por títulos que o alviverde conquistou em 2020.

A boa fase do Palmeiras ajudou a engordar a conta dos jogadores e da comissão técnica. Foram R$ 127,78 milhões em prêmios distribuídos em 2021, contra “apenas” R$ 22,6 milhões distribuídos em 2020.

Esse valores se somam às despesas com a folha de pagamento do clube, que somaram  R$ 120,7 milhões, uma alta de 24%.

Negociação de atletas

A estratégia adotada pelo Palmeiras para a construção de um time competitivo passa pela manutenção de atletas com contrato vigente e renovação daqueles cuja avaliação é positiva.

Isso fica evidente quando olhamos para as receitas obtidas com negociações de atletas em 2021. A receita do clube com a venda de jogadores apresentou queda de 6% em relação a 2020 e somou R$ 139 milhões.

É importante lembrar que o empréstimo do Dudu ficou dividido. Do valor total, R$ 20,7 milhões foram contabilizados em 2020, ao passo que R$ 24,74 milhões ficaram em 2021, quando o atacante retornou ao clube.

Em um sinal de bom planejamento, o Palmeiras também diminuiu os gastos na contratação de atletas para compensar a menor arrecadação com a venda de jogadores. Em 2020 foram R$ 122,27 milhões, ao passo que em 2021 foram R$ 80,97 milhões, o que representa uma redução de 33,8%.

Dívida menor

Em 2021, Crefisa e Palmeiras realizaram um encontro de contas que resultou em uma amortização da ordem de R$ 47,5 milhões. Com isso, o clube passou a ter uma dívida de R$ 595 milhões, dos quais R$ 119,5 milhões são devidos à Crefisa e estão diretamente relacionados aos atletas contratados pela patrocinadora.

O pagamento dessa dívida é feito no momento da venda do atleta. Caso haja prejuízo na transação, ou seja, caso o valor de venda seja inferior ao valor pago para contratação do atleta, o clube terá até dois anos para pagar o saldo remanescente. A mesma coisa ocorre para casos em que o contrato se encerra e não há interesse do clube para renovação.

Se o Palmeiras não for capaz de pagar, as receitas de bilheteria e patrocínios devem ir para a Crefisa até que tudo tenha sido quitado. 

Além do acerto com a Crefisa, o clube celebrou acordos com outros credores, na tentativa de tornar as finanças do clube mais previsíveis. Com isso, a dívida apresentou uma queda relevante de 16% em 2021, para R$ 525 milhões.

Tem dinheiro para um centroavante?

Depois da análise do balanço, fica a dúvida: então, o Palmeiras tem dinheiro para trazer um camisa 9 sem comprometer as finanças?

Apesar dos números publicados configurarem recordes de receita e superávit para o Palmeiras, a situação parece estar mais próxima do equilíbrio do que da bonança.

Isso porque o superávit de R$ 123,4 milhões só se traduziu em R$ 8,7 milhões a mais no caixa do clube. 

Essa situação acabou acontecendo porque parte dos recursos que estão no resultado em 2021 já viraram caixa, como é o caso do empréstimo do Dudu. Além disso, o clube aproveitou o dinheiro extra para reduzir o peso da dívida no balanço.

No fim de dezembro, o Palmeiras contava com R$ 14,8 milhões em caixa. Não parece muito, mas vale lembrar que  o clube ainda tem R$ 23 milhões para receber em premiação pela conquista e bilheteria da final da Taça Libertadores. Portanto, dinheiro até tem, a questão que fica: para trazer quem?

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