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Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Trabalhou com produção de reportagem na TV Globo e foi editora de finanças pessoais de Exame.com, na Editora Abril.
Balanço do semestre

Dólar dispara em junho e é o melhor investimento do mês; mas com a alta dos juros, primeiro semestre foi da renda fixa

Bitcoin, por outro lado, vem apanhando em 2022, e foi o pior investimento do mês e do semestre

Homem puxa juros para cima
Alta dos juros foi a tônica do mês e de todo o primeiro semestre. Imagem: Shutterstock

Junho termina com um verdadeiro banho de sangue nos mercados, muitas tensões políticas e econômicas, além de juros e dólar em alta. Com isso, esse difícil mês para os ativos de risco marca o fim da primeira metade de um ano de muita volatilidade e uma escalada de juros global, que alçou os ativos de renda fixa pós-fixada ao status de melhores investimentos do semestre.

Neste último mês, as preocupações em relação ao aumento dos juros nos Estados Unidos contaminaram todos os mercados que se beneficiam de taxas mais baixas ou em queda - ações, fundos imobiliários, criptomoedas, títulos públicos prefixados ou atrelados à inflação.

O temor de que o Federal Reserve, banco central americano, precise elevar os juros rapidamente para conter a galopante inflação americana joga as taxas futuras lá para cima, desvalorizando os ativos de risco; em contrapartida, o dólar ganha força, uma vez que aumenta a atratividade dos títulos públicos americanos, que passarão a pagar mais.

Mas junho foi marcado também pelo aumento do medo de que um aperto monetário muito forte na Terra do Tio Sam acabe desencadeando uma recessão no país e contaminando toda a economia global, o que gera ainda mais volatilidade nos mercados.

Por aqui, tivemos ainda nossas próprias preocupações para jogar um pouco de gasolina ao incêndio, com o perdão da piada. A disparada dos preços dos combustíveis que castiga o bolso dos consumidores no Brasil e no mundo motivou o governo federal a empacotar numa Proposta de Emenda à Constituição (PEC) uma série de medidas que elevam os gastos públicos neste ano em cerca de R$ 40 bilhões acima do teto de gastos.

São gastos sociais como o aumento do valor do Auxílio Brasil e do vale-gás, além de um auxílio pago a caminhoneiros. Isso sem falar na renúncia fiscal depois de ter zerado os impostos federais sobre os combustíveis. Essas medidas, que arriscam a saúde fiscal do país, mostram que o Executivo e o Congresso já estão de olho nas eleições no segundo semestre.

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Assim, tivemos um mês de junho em que o dólar ficou com o primeiro lugar no ranking dos melhores investimentos, fechando com uma alta superior a 10%, a R$ 5,23 (cotação à vista) e R$ 5,24 (cotação PTAX), seguido da renda fixa pós-fixada, atrelada às taxas de juros, muito pressionadas com os fatores internos e externos.

Na outra ponta da lista, o Ibovespa perdeu a marca dos 100 mil pontos e fechou o mês em queda de 11,50%, a 98.541 pontos, enquanto o bitcoin amargou a pior posição do ranking, com queda de cerca de 30% em reais, para perto dos R$ 100 mil. Em dólar, a queda da criptomoeda também foi da ordem de 30% no mês, levando-a para o patamar dos US$ 20 mil - a qual chegou a perder em alguns momentos.

Veja o ranking completo dos melhores e piores investimentos de junho:

Melhores investimentos do mês

InvestimentoRentabilidade no mêsRentabilidade no ano
Dólar PTAX10,78%-6,13%
Dólar à vista10,15%-6,12%
Ouro7,60%-9,03%
Tesouro Selic 20271,11%5,97%
Tesouro Selic 20251,09%5,58%
CDI*1,06%5,35%
Poupança antiga**0,61%3,65%
Poupança nova**0,61%3,65%
Índice de Debêntures Anbima Geral (IDA - Geral)*0,56%6,08%
Índice de Debêntures Anbima - IPCA (IDA - IPCA)*-0,15%5,54%
Tesouro IPCA+ 2026-0,39%4,85%
Tesouro Prefixado 2025-0,86%-0,20%
IFIX-0,88%-0,33%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2032-1,13%-
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2040-2,73%0,16%
Tesouro IPCA+ 2035-2,81%-2,21%
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2033-3,13%-
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055-3,50%-2,27%
Tesouro Prefixado 2029-3,87%-
Tesouro IPCA+ 2045-5,69%-9,67%
Ibovespa-11,50%-5,99%
Bitcoin-28,83%-58,41%
(*) Até dia 29/06. (**) Poupança com aniversário no dia 27.
Todos os desempenhos estão cotados em real. A rentabilidade dos títulos públicos considera o preço de compra na manhã da data inicial e o preço de venda na manhã da data final, conforme cálculo do Tesouro Direto.
Fontes: Banco Central, Anbima, Tesouro Direto, Broadcast e Coinbase, Inc..

Os temores de que o Fed possa precisar acelerar a alta de juros para conter a inflação - e com isso acabar desencadeando uma recessão - foram piorados pela situação global nada animadora ao longo do mês de junho.

A guerra na Ucrânia ainda não dá sinais de arrefecer, e a queda de braço entre o presidente russo Vladimir Putin e líderes europeus pressiona a economia do Velho Continente. Todo esse conflito, é claro, continua pesando sobre os preços das commodities, que, por sua vez, seguem dificultando um esfriamento dos preços em todo o mundo.

A questão da covid-19 na China, onde os lockdowns continuam acontecendo, continua inspirando atenção, mas melhorou um pouco ao longo do último mês, com reaberturas econômicas que trouxeram um certo alívio ao mercado em momentos pontuais.

Seja como for, as questões geopolíticas e a inflação indicam que o sentido das taxas futuras de juros é para cima. As questões domésticas do Brasil também. Por aqui, o mercado começou a precificar o risco eleitoral, continua preocupado com a inflação - que cede com dificuldade - e agora vê a volta do aumento do risco fiscal com as sinalizações de que o governo vai mesmo elevar gastos, afinal.

Assim, mesmo com a indicação, por parte do Banco Central, de que a alta da Selic está chegando perto do fim, os juros futuros ainda subiram em junho, castigando os ativos de risco e derrubando os preços de mercado dos títulos públicos prefixados e atrelados à inflação.

Em contrapartida, as remunerações pagas por esses papéis estão retornando aos seus patamares históricos mais altos do Brasil pós-Real, tornando-se muito atrativas para quem decidir comprar agora.

Na última semana, o Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais (NTN-B) com vencimento em 2055, um título que ainda é oferecido para compra pelo Tesouro Direto, voltou a remunerar acima de 6% ao ano + IPCA, patamar de retorno que não era visto desde a crise de 2014-16.

Ações com os melhores desempenhos de junho

Em junho, as únicas ações que se salvaram no Ibovespa foram a Eletrobras, impulsionada pela privatização, o Fleury, impulsionado por uma fusão com a Hermes Pardini, e a resiliente WEG, que ganhou recomendações de compra após uma recente queda nos preços dos papéis.

EmpresaCódigoDesempenho
Eletrobras PNBELET612,03%
Eletrobras ONELET39,18%
FleuryFLRY37,18%
WEGWEGE33,99%
QualicorpQUAL3-0,80%
HyperaHYPE3-1,95%
BB SeguridadeBBSE3-3,83%
TaesaTAEE11-4,41%
EquatorialEQTL3-4,54%
EDP BrasilENBR3-4,57%

Ações com os piores desempenhos em junho

Entre os piores desempenhos do Ibovespa, nomes de tecnologia e varejo - que sofrem com os juros em alta - e nomes ligados ao setor de turismo - que apanha com a alta do dólar.

EmpresaCódigoDesempenho
MéliuzCASH3-43,16%
ViaVIIA3-38,54%
AzulAZUL4-38,19%
GolGOLL4-37,22%
Magazine LuizaMGLU3-36,83%
CVCCVCB3-35,90%
Americanas S.A.AMER3-33,23%
IRBIRBR3-30,95%
CSNCSNA3-29,03%
3R PetroleumRRRP3-28,78%

O início de um sonho... deu tudo errado!

O ano de 2022 começou bem para o Ibovespa, que foi puxado pela escalada dos preços das commodities (turbinada pela eclosão da guerra na Ucrânia), pelo desempenho das ações dos bancos (que se beneficiam da alta dos juros) e pelo fato de que a bolsa brasileira havia meio que ficado para trás enquanto os índices americanos subiam no fim do ano passado.

Com isso, o real também ganhou força ante o dólar, que chegou a se desvalorizar mais de 15% em relação à moeda brasileira, tendo atingido a faixa dos R$ 4,60, na mínima do ano.

Parecia tudo bom demais para ser verdade... e era! Já havia no ar a expectativa de que o Federal Reserve precisaria ser duro contra a inflação, decorrente da grande quantidade de estímulos monetários durante a pandemia e da rápida reabertura econômica que se seguiu, mesmo com as cadeias de produção globais ainda desorganizadas.

No Brasil, o aperto monetário já estava em curso - a Selic já vinha subindo desde o ano passado -, mas nos países ricos, ainda estava por vir.

Assim, os ativos cujos preços foram inflados durante a era de liquidez farta começaram a precificar esse movimento. Tanto é que, enquanto o Ibovespa subia no Brasil, as bolsas americanas sofriam.

Todo esse processo foi agravado com a invasão da Ucrânia pela Rússia, que criou uma crise de oferta de commodities como petróleo, gás e grãos, pressionando ainda mais a inflação global - e o Fed. Agora, o temor do mercado é de que o aperto monetário nos EUA precise ser tão duro que desencadeie uma recessão.

No Brasil, a inflação, que já tinha dificuldades de ceder, também ganhou um obstáculo a mais com a guerra. A alta nos preços dos combustíveis levou o governo a entrar em conflito direto com a Petrobras, o que por si só já contribuiu para o desempenho negativo do Ibovespa, dado o peso das ações da estatal no índice.

Agora, vemos também o governo ampliar os gastos públicos para tentar reduzir o peso dos preços dos combustíveis no bolso do brasileiro e já de olho nas eleições, que é um evento que, por si só, já tende a ampliar a volatilidade no mercado brasileiro.

Melhores investimentos do primeiro semestre

InvestimentoRentabilidade no ano
Índice de Debêntures Anbima Geral (IDA - Geral)*6,08%
Tesouro Selic 20275,97%
Tesouro Selic 20255,58%
Índice de Debêntures Anbima - IPCA (IDA - IPCA)*5,54%
CDI*5,35%
Tesouro IPCA+ 20264,85%
Poupança antiga**3,65%
Poupança nova**3,65%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 20400,16%
Tesouro Prefixado 2025-0,20%
IFIX-0,33%
Tesouro IPCA+ 2035-2,21%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055-2,27%
Ibovespa-5,99%
Dólar à vista-6,12%
Dólar PTAX-6,13%
Ouro-9,03%
Tesouro IPCA+ 2045-9,67%
Bitcoin-58,41%
(*) Até dia 29/06. (**) Poupança com aniversário no dia 27.
Todos os desempenhos estão cotados em real. A rentabilidade dos títulos públicos considera o preço de compra na manhã da data inicial e o preço de venda na manhã da data final, conforme cálculo do Tesouro Direto.
Fontes: Banco Central, Anbima, Tesouro Direto, Broadcast e Coinbase, Inc..

A deterioração macroeconômica e o aumento das incertezas vêm impulsionando os juros futuros no Brasil e nos EUA. Mas enquanto esse fenômeno machuca os ativos de risco e a renda fixa prefixada e indexada à inflação, a renda fixa cuja remuneração é atrelada às taxas de juros, como a Selic e o CDI, está brilhando no ano.

Os melhores investimentos do semestre, no Brasil, foram as debêntures (entram nesse pacote tanto os papéis indexados ao CDI quanto à inflação) e os títulos públicos Tesouro Selic, que pagam próximo da variação da taxa básica de juros. Ou seja, se deu bem quem se protegeu nas aplicações mais conservadoras.

Por outro lado, mesmo com a disparada recente, o dólar ainda mantém um desempenho bastante negativo em 2022, acumulando uma queda de mais de 6% no primeiro semestre. Mas os piores investimentos do período foram o ouro, o Tesouro IPCA+ 2045 e o bitcoin.

O mau desempenho do ouro em reais se deve, em grande parte, à queda acumulada do dólar, uma vez que a commodity metálica é cotada na moeda americana. Em dólar, a queda no ano é de apenas 1,52%.

Embora se beneficie de cenários inflacionários, o ouro começa a perder força quando a expectativa é de uma alta forte de juros nos EUA, uma vez que os títulos públicos americanos, nesse caso, se tornam mais atrativos, pois são seguros e pagam juros.

Quanto ao Tesouro IPCA+ 2045, trata-se do título público mais volátil atualmente disponível para compra no Tesouro Direto. Com longo prazo e sem pagamento de juros antes do vencimento, ele se vê muito exposto às flutuações nas perspectivas para as taxas de juros, apanhando feio quando elas disparam.

As ações com melhor desempenho no semestre

No semestre, a maior valorização do Ibovespa foi da Cielo. Após um longo sofrimento, a empresa voltou ao jogo e ainda se vale do enfraquecimento da concorrência, com o cenário macroeconômico ruim. A Eletrobras privatizada e a Petrobras - beneficiada pela alta do petróleo, apesar de todos os ruídos - também aparecem na lista.

EmpresaCódigoDesempenho
CieloCIEL365,49%
Eletrobras PNBELET646,85%
Eletrobras ONELET340,27%
HyperaHYPE335,46%
BB SeguridadeBBSE329,51%
MinervaBEEF327,69%
CPFL EnergiaCPFE325,76%
Banco do BrasilBBAS321,11%
Petrobras PNPETR419,18%
Petrobras ONPETR318,95%

As ações com pior desempenho no semestre

Na lanterna da tabela, a história do mês de junho se repete no semestre: nomes do varejo e de tecnologia, castigados pela alta de juros, com destaque para as empresas de e-commerce, que ainda encaram a concorrência ferrenha de companhias estrangeiras.

EmpresaCódigoDesempenho
Magazine LuizaMGLU3-67,45%
MéliuzCASH3-66,67%
ViaVIIA3-63,24%
LocawebLWSA3-57,22%
Americanas S.A.AMER3-56,54%
EmbraerEMBR3-53,95%
IRBIRBR3-49,50%
AzulAZUL4-48,97%
AlpargatasALPA4-48,18%
CVCCVCB3-47,84%

A Via Crúcis do bitcoin

O bitcoin merece um capítulo à parte, não porque tenha seguido uma dinâmica diferente do restante do mercado, mas porque o estrago que o cenário macroeconômico causou no mercado de criptomoedas no primeiro semestre foi realmente ímpar.

Já ficou bastante claro, ao longo do semestre, que as criptomoedas falharam na proposta dos desenvolvedores de funcionarem como uma proteção contra a inflação.

Além disso, a popularização desse mercado fez com que as moedas digitais passassem a se comportar cada vez menos como "ativos descorrelacionados" com o resto do mercado e cada vez mais como "ativos de risco", respeitando a dinâmica dos ativos de risco tradicionais, como as ações.

Assim, a partir do momento em que o Fed começou a dar sinais de que fecharia com força a torneirinha do dinheiro barato, os criptoativos, que se valorizaram muito durante os tempos de liquidez abundante, começaram a despencar.

Até aí, tudo bem. Ativos ligados a tecnologias novas e potencialmente disruptivas tendem a ser bastante voláteis e sensíveis às dinâmicas de juros, e quem investe nesse tipo de mercado costuma estar bem consciente disso. Faz parte.

O problema é que as desvalorizações bruscas e vertiginosas das criptos começaram a causar problemas de liquidez no mercado - um movimento de manada, com um monte de investidores querendo sair correndo desse mercado, vender suas criptomoedas e reaver ao menos parte do seu dinheiro, pode fazer com que certos players fiquem sem recursos para honrar pagamentos.

Essa saída desesperada do mercado cripto também levou algumas stablecoins - criptomoedas lastreadas em moedas fiduciárias e ativos reais - a perderem a paridade com seus ativos de referência, o que foi agravado por problemas internos de certos projetos.

Por exemplo, falhas na blockchain da criptomoeda Terra (LUNA), que levaram ao seu desaparecimento e também ao fim da sua stablecoin TerraUSD (UST); o descolamento em relação ao dólar por parte da USDD, stablecoin da Tron (TRX); e até um ataque hacker ao site da Tether (USDT), maior stablecoin do mundo.

No último mês, vimos, ainda, dois casos preocupantes no mercado cripto, também ligados ao colapso da Terra (LUNA): o congelamento das negociações de ativos digitais pela plataforma Celsius, de empréstimos e staking de criptomoedas; e a quebra do fundo Three Arrow Capital (3AC).

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