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Flavia Alemi
Flavia Alemi
Jornalista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pela FIA. Trabalhou na Agência Estado/Broadcast e na S&P Global Platts.
Efeito juros

Fundos multimercados têm trimestre arrasador e deixam CDI no chinelo. Ainda dá tempo de pegar essa onda?

No ano, o Índice de Hedge Funds da Anbima registra retorno de 7,2143% para os fundos multimercados, enquanto o CDI acumula 2,89%

Flavia Alemi
Flavia Alemi
22 de abril de 2022
7:00 - atualizado às 9:07
Ilustração utilizada em matéria sobre alta dos fundos multimercado, mostra homem de negócios surfando num vetor para cima
Imagem: iStock

Referência entre as gestoras de fundos multimercados — que podem investir em várias classes de ativos — a SPX Capital teve em março o melhor desempenho da história. E isso não é pouco se considerarmos que o fundo é pilotado pelo renomado Rogério Xavier.

Mas o resultado da SPX está longe de ser isolado. Os fundos multimercados de modo geral não só têm surfado bem em um cenário complicado marcado por inflação, juros em alta e guerra, como estão ganhando muito dinheiro.

Desde o começo do ano até 14 de abril, o Índice de Hedge Funds da Anbima, o IHFA, registra um retorno de 7,2143%. Trata-se de uma verdadeira surra no CDI (indicador de referência) acumulado de 2,89% no mesmo período.

Como esses gestores fizeram para navegar as águas turbulentas do mercado e, principalmente, o que esperar daqui para frente? Eu trago ambas as respostas para você a seguir.

Sem bolsa, com juros

Num ano em que o grande destaque entre os ativos brasileiros tem sido o Ibovespa, pode soar estranho que a alocação responsável pelo ótimo desempenho dos fundos multimercados até agora esteja sendo, na verdade, a renda fixa.

Dos vários fundos estrelados que integram o índice da Anbima, é possível notar que boa parte teve os ganhos atribuídos às posições tomadas em juros — ou seja, que apostam na alta das taxas — de diversos países.

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No caso do Ibiuna Hedge STH, por exemplo, a performance de 5,31% em março foi quase totalmente atribuída às posições em juros, que responderam, sozinhas, por 5,12% no mês. 

O SPX Nimitz, principal multimercado da gestora de Rogério Xavier citada no início desta reportagem, obteve rentabilidade de 7,34%, o maior retorno mensal desde o início do fundo, em 2010. 

E o que dizer do Vista Multiestratégia, que só no mês passado subiu espetaculares 13,1%?

Investidor não aproveitou o passeio dos multimercados

Os fundos multimercados em geral têm justamente essa característica de conseguir ganhar dinheiro tanto em cenários de alta como de baixa — desde que os gestores façam as escolhas certas.

O problema disso tudo é que parte dos investidores não está aproveitando a maré alta dos multimercados. 

Isso porque os dados mais atualizados da Anbima mostram que essa classe de fundos lidera os resgates em 2022. Até o dia 8 de abril, mais de R$ 43 bilhões foram tirados dos multimercados.

É verdade que muitos fundos sofreram mais em janelas de tempo maiores, principalmente no início da pandemia da covid-19. Os resgates, contudo, começaram bem mais tarde, a partir do segundo semestre do ano passado.

E o mais curioso é que esse movimento é justificado pelo mesmo fator que provocou os ganhos dessa classe de fundos: os juros.

Visão precipitada

De acordo com o analista da Empiricus Bruno Mérola, os investidores costumam ter uma visão precipitada de que quando os juros estão subindo, os fundos multimercados performam mal.

Mas a característica que define essa classe é, justamente, a possibilidade de ajustar a carteira conforme os cenários macroeconômicos mudam.

“O primeiro trimestre de 2022 mostrou que os fundos multimercados conseguem ganhar dinheiro com ativos que a pessoa física não tem acesso”, disse Mérola.

Muitos fundos obtiveram rentabilidades expressivas por conta de posições tomadas em juros em outros países, tanto desenvolvidos quanto emergentes.

Outra estratégia vencedora do mês de março foi operar vendido na bolsa de valores americana. Ambas são posições que a pessoa física não consegue fazer.

Commodities

Uma outra fonte de rentabilidade para os multimercados foram as commodities, mais uma classe de ativos que o investidor comum não está acostumado a comprar.

“As commodities começaram a ser fortemente afetadas desde o início da pandemia, pela transição energética global e pela guerra na Ucrânia. E os multimercados pegaram isso”, reforça Mérola.

Da rentabilidade de 13,1% do fundo Vista Multiestratégia, citado anteriormente, 12,3% vieram das commodities, especialmente do petróleo. Os preços dos barris dispararam com a eclosão da guerra na Ucrânia e têm reagido com força a sinais de uma oferta mais restrita.

Ainda dá para pegar a onda?

Se você está se perguntando se ainda tem o que aproveitar da alta dos multimercados, a resposta de Bruno Mérola é sim.

“Na minha opinião, nos cenários em que os juros estão altos e quando os Bancos Centrais começam a sinalizar que não vão aumentá-los muito mais, é o momento que os multimercados começam a se dar muito bem com posições no Brasil. Tem muita coisa boa para acontecer com esses fundos”, aposta Mérola.

Vale ressaltar que, para o analista, não existe um timing muito bem definido para comprar cotas de fundos multimercados: é algo que você deveria ter para sempre no portfólio.

É claro que, para aproveitar esse bom momento, é preciso escolher o bonde que leve o seu dinheiro pela trilha certa. Ou seja, é preciso fazer uma boa seleção dos gestores.

Confira abaixo a rentabilidade dos fundos multimercados preferidos de Bruno Mérola:

Fundo% mar/22202212 meses
SPX Nimitz7,34%14,99%22,44%
Vista Multiestratégia13,10%37,98%61,48%
Verde4,18%9,22%4,49%
Kapitalo Zeta3,94%7,31%15,16%
Vinland Macro Plus5,20%8,03%14,89%
Legacy Capital4,99%14,42%19,79%
Giant Zarathustra4,46%6,90%16,17%
CDI0,92%2,88%6,80%
Fonte: Anbima - Data de referência 18/04/2022

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