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Carolina Gama
Formada em jornalismo pela Cásper Líbero, já trabalhou em redações de economia de jornais como DCI e em agências de tempo real como a CMA. Já passou por rádios populares e ganhou prêmio em Portugal.
NA CORRIDA CONTRA A INFLAÇÃO

Vai pisar fundo? O que a ata do Fed mostrou e fez o investidor patinar

Na reunião política monetária de 3 e 4 de maio, o banco central norte-americano aumentou a taxa de juros em 0,50 ponto percentual — o maior avanço em 22 anos

Carolina Gama
25 de maio de 2022
15:23 - atualizado às 16:04
Montagem de Jerome Powell em carro de fórmula 1 atrás da curva competindo com carro da frente com nome de inflação
Jerome Powell em carro de fórmula 1 atrás de carro da inflação que está na frente - Imagem: Montagem Andrei Morais / Shutterstock / Divulgação

Na corrida contra a inflação, o Federal Reserve (Fed) está disposto a seguir pisando no acelerador dos juros para cruzar a linha de chegada antes dos preços altos. 

O piloto — o presidente do banco central dos EUA, Jerome Powell — já deixou claro que seguirá elevando a taxa básica até que haja evidências convincentes de que a inflação está desacelerando no país.

E a equipe nos boxes parece estar disposta a atender o pedido. A ata da reunião de 3 e 4 de maio mostrou que os dirigentes do Fed não só apoiaram o aumento de 0,50 ponto percentual (pp) na ocasião como estão preparados para dar o sinal verde para elevações da mesma magnitude nos próximos encontros.

Da arquibancada, o mercado assiste às revelações do documento sem saber se comemora ou se não. A reação inicial da bolsas em Nova York foi acelerar com Powell. Mas minutos depois, o S&P 500, por exemplo começou a oscilar entre perdas e ganhos.

O Fed não vai tirar o pé

Membros da equipe de Powell enfatizaram a necessidade de aumentar a taxa de juros rapidamente — e possivelmente mais do que os mercados antecipam — para enfrentar uma inflação que não dá tréguas, segundo a ata.

Eles observaram ainda que a política monetária pode ter que superar a chamada postura neutra — ou seja, quando não é favorável nem restritiva ao crescimento — uma consideração importante que pode ecoar pela economia.

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A reunião de 3 a 4 de maio viu o comitê do Fed aprovar o aumento dos juros em 0,50 pp e traçar um plano, a partir de junho, para reduzir o balanço de US$ 9 trilhões do banco central, composto principalmente de títulos do Tesouro e títulos lastreados em hipotecas.

Essa foi a maior elevação da taxa em 22 anos e ocorreu quando o banco central norte-americano está tentando colocar um freio na inflação, que alcançou o maior nível em 40 anos nos EUA. Atualmente, a taxa de juros está na faixa entre 0,75% e 1,00% ao ano.

A precificação de mercado atualmente vê o Fed movendo-se para uma taxa básica de juros em torno de 2,5% a 2,75% até o final do ano, o que seria consistente com lugar onde muitos dirigentes veem uma taxa neutra. Declarações na ata, no entanto, indicam que o comitê está preparado para ir além.

“Todos os participantes reafirmaram seu forte compromisso e determinação em tomar as medidas necessárias para restaurar a estabilidade de preços”

Trecho da ata da reunião do Fed de 3 e 4 de maio deste ano

60 vezes inflação

Que a disparada de preços é uma preocupação do Fed — e do mundo neste momento — não há dúvidas. Tanto que o presidente do banco central norte-americano está disposto a arriscar colocar a economia dos EUA em recessão com uma política monetária agressiva para conter esse avanço.

A ata divulgada nesta quarta-feira (25) deixou essa preocupação ainda mais evidente. O documento menciona 60 vezes a palavra inflação.

Se de um lado, os membros do Fed demonstram confiança de que a política monetária e a flexibilização de vários fatores contribuintes, como problemas na cadeia de suprimentos, ajudariam a situação, de outro lado, as autoridades observaram que a guerra na Ucrânia e os bloqueios associados à covid-19 na China exacerbariam a inflação.

Em março, o índice de preços com consumo (PCE, a medida preferida do Fed para a inflação) subiu 6,6% ante igual período do ano anterior, registrando aceleração em relação aos 6,4% registrados em fevereiro — o maior valor registrado desde 1978.

Não é só a inflação que preocupa o Fed...

Junto com a determinação controlar a inflação, vieram as preocupações com a estabilidade financeira.

Os dirigentes do Fed expressaram preocupação de que uma política mais rígida possa causar instabilidade tanto no mercado de dívida via Treasuries quanto no mercado de commodities.

Especificamente, a ata alertou sobre “as práticas de negociação e gerenciamento de risco de alguns participantes-chave nos mercados de commodities [que] não são totalmente visíveis para as autoridades regulatórias”.

Questões de gerenciamento de risco “podem dar origem a demandas significativas de liquidez para grandes bancos, corretoras e seus clientes”.

Ainda assim, as autoridades continuaram comprometidas em aumentar a taxa de juros e reduzir o balanço. A ata afirma que isso deixaria o Fed “bem posicionado no final deste ano” para reavaliar o efeito que a política estava tendo sobre a inflação.

O balanço trilionário do Fed

Na questão do balanço, a ata mostrou que o plano será permitir que um nível máximo de recursos seja lançado a cada mês, um número que chegará a US$ 95 bilhões até agosto, incluindo US$ 60 bilhões em títulos do Tesouro e US$ 35 bilhões em hipotecas.

A ata indica ainda que a venda definitiva de MBS, como são conhecidos os títulos lastreados em hipotecas, é possível, com aviso de que isso acontecerá com bastante antecedência.

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