Um dos maiores especialistas em inflação do país diz que não há motivos para o Banco Central elevar a taxa Selic em setembro; entenda
Heron do Carmo, economista e professor da FEA-USP, prevê que o IPCA registrará a terceira deflação consecutiva em setembro
Um dos maiores especialistas em inflação do Brasil não descarta a possibilidade de uma nova variação negativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste mês. Se a previsão de Heron do Carmo, professor sênior da FEA-USP se concretizar, essa seria a terceira deflação consecutiva, após os resultados de julho e agosto.
Por conta disso, o economista não vê razão para uma nova alta da taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central marcada para os próximos dias 20 e 21.
Vale destacar que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, declarou no início desta semana que a autoridade monetária não pensa em queda de juros neste momento e indicou que uma nova alta pode estar por vir.
Campos Neto destacou que a situação atual dos preços ainda inspira cuidados. Segundo ele, o Banco Central “continua navegando em um ambiente de alta incerteza” e a batalha contra o dragão inflacionário não está ganha.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista com Heron do Carmo.
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Como o sr. avalia o quadro atual de preços e a deflação pelo segundo mês seguido?
De 2020 para cá, tivemos quatro choques que não foram naturais que afetaram os preços. O choque da pandemia que foi deflacionário. O segundo choque foi o da saída da pandemia, que puxou preços para cima, como o do petróleo. O terceiro choque foi a guerra da Ucrânia, que impulsionou combustíveis e alimentos.
E, agora, no Brasil tivemos um choque deflacionário, com a redução de impostos sobre serviços de utilidade pública e combustíveis. O fato de a guerra da Ucrânia entrar numa certa estabilidade e o mercado de produtos agrícolas reagir com oferta maior por conta de várias safras acabou contribuindo para o arrefecimento dos alimentos.
Qual sua previsão para a inflação no ano?
Em torno de 6%. Cheguei a projetar mais de 10%. Mas, depois das medidas de corte de impostos e da mudança do comportamento do câmbio, reduzi a projeção.
A deflação veio para ficar?
Há possibilidade de termos deflação em setembro, mas, depois, a meu ver, não.
A deflação registrada em agosto, a segunda consecutiva, deve frear a intenção do BC de elevar os juros?
Não vejo razão para aumentar juros. A taxa real de juros já está positiva em relação à inflação passada: é de 13,75% ao ano para uma inflação em 12 meses abaixo de 9%. O efeito de mais uma alta seria muito pequeno.
Como explicar essa dissonância entre a deflação registrada pelos índices e o fato de a população não ter dinheiro para fazer compras no supermercado?
A situação está um pouco mais confortável, mas de jeito nenhum está normalizada. Apesar da deflação, as pessoas vão continuar sentindo desconforto entre a sua renda e os preços. É preciso um tempo suficientemente mais longo para que os preços relativos voltem ao padrão anterior ao das crises.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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