Mercado em 5 Minutos — Direito de resposta: podemos pelo menos respirar no final do trimestre?
O fim do terceiro trimestre conta com inúmeras frentes para prestarmos atenção: os riscos geopolíticos e de inflação não diminuem, enquanto as expectativas de crescimento menor continuam a permear o ambiente de investimentos
Bom dia, pessoal. Chegamos ao final do terceiro trimestre de 2022 com inúmeras frentes para prestarmos atenção – os riscos geopolíticos e de inflação não estão diminuindo, pressionando os ativos de risco à medida que as expectativas de crescimento menor e custos de financiamento mais altos continuam a permear o ambiente dos investimentos.
Lá fora, as ações na Ásia e no Pacífico caíram predominantemente nesta sexta-feira (30), após o movimento de sell-off verificado no Ocidente durante o pregão de ontem (29).
No aspecto positivo, na China, junto com as boas notícias envolvendo a reabertura de Hong Kong, os dados oficiais da atividade fabril chinesa expandiram inesperadamente em agosto (ainda está fragilizada).
Os mercados europeus tentam se recuperar nesta manhã depois de mais um tombo, ainda refletindo sobre a escalada da inflação alemã para dois dígitos e a continuidade do plano fiscal da primeira-ministra britânica Liz Truss, muito criticado pelo irresponsável corte de impostos, fato que abalou os investidores.
Os futuros americanos também conseguem sustentar uma alta, pelo menos por enquanto (pode virar, como já aconteceu nesta semana).
A agenda do dia para o contexto internacional é relevante, podendo pesar sobre os ativos de risco e, inclusive, espraiar para o Brasil. A ver...
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00:59 — Eu quero meu direito de resposta!
É natural que haja um movimento cauteloso por parte dos investidores no último pregão antes das eleições, com eventual ajuste de posições para não dormir muito comprado durante o final de semana e acordar na segunda-feira com alguma surpresa.
O debate de ontem fez muito pouco para agregar em algo para os eleitores. Lula e Bolsonaro ocuparam o tempo ofendendo um ao outro, Ciro ficou escanteado e Tebet manteve o tom ponderado. Os demais nomes não sabiam o que estava acontecendo.
A volatilidade está presente e o Brasil tem surfado o humor internacional.
Com a tentativa de recuperação lá fora, o país tem espaço para pelo menos tentar algo do gênero, apesar do clima local de incerteza quanto ao panorama eleitoral — há chance de vitória no primeiro turno, sim, apesar de não ser o cenário mais provável.
O problema será se houver uma mudança muito brusca da trajetória econômica e fiscal do país depois de cerca de seis anos de diálogo mercadológico do governo federal.
Entre os dados locais, destaque para a taxa de desemprego do IBGE, depois dos bons números do Caged ontem, e mais dados fiscais, com déficit primário do setor público podendo alcançar R$ 27,3 bilhões em agosto.
Outros indicadores mais secundários, como o Indicador de Incerteza da Economia de setembro, também estão no radar, bem como a participação de Roberto Campos Neto, presidente do BC, em evento em SP.
01:50 — Preparados para o PCE
Os EUA, conforme já temos observado há algum tempo, possuem o poder de alterar a rota dessa tentativa modesta de recuperação verificada nos mercados internacionais nesta manhã — note que o respiro de hoje não muda em a dinâmica geral dos mercados, com um excesso de pessimismo no curto prazo (justificável).
Ontem mesmo o pessimismo voltou a imperar com queda de mais de 2% no S&P 500, que estabeleceu uma nova mínima em 2022.
Por lá, os investidores prestam atenção no Índice de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês), o indicador de inflação preferido do Fed, que deverá ter seu núcleo (que exclui itens mais voláteis) acelerando para 4,8% na comparação anual.
Entre os demais dados, a renda deve aumentar 0,3% na comparação mensal, enquanto os gastos devem aumentar 0,2%. Uma aceleração frente ao mês de julho. Eventuais surpresas podem pressionar a curva de juros, afetando as ações.
Tentando enxergar por outro prisma, a boa notícia é que a economia americana continua forte, com os pedidos de seguro-desemprego atingindo a mínima de cinco meses.
O problema é que uma economia forte dá margem de atuação ao Federal Reserve, que tenta conter a inflação com aumentos adicionais de juros.
02:52 — A reabertura de Hong Kong
Outra boa sinalização foi o fato de que Hong Kong finalmente voltou a se abrir.
Pela primeira vez em mais de dois anos, as pessoas que voam para Hong Kong não precisam mais se trancar em um hotel por dias após a chegada, nem precisam temer serem jogadas em campos de isolamento se testarem positivo para Covid — ainda não poderão jantar em restaurantes por três dias.
A estratégia de Covid Zero do governo chinês enfrenta seu teste decisivo na véspera das "eleições" (destaque para as aspas) do Partido Comunista, que deverá colocar Xi Jinping em seu terceiro mandato (histórico).
Por isso, a notícia das mudanças nas regras, que entrou em vigor nesta semana, animou os investidores por lá — as empresas da cidade saudaram a mudança, mas já pediram por mais flexibilização.
A notícia vem junto de dados de manufatura chinesa que superaram as expectativas, apesar de ainda mostrar uma economia chinesa fraca, sem uma recuperação sustentada no horizonte — graças aos estímulos do governo, o setor de construção tenta se recuperar depois dos impactos recentes da crise imobiliária, mas outros segmentos, como o de serviços, ainda estão enfrentando dificuldades.
03:48 — Ninguém segura essa inflação
Assim como na Alemanha, a inflação na Zona do Euro também registrou crescimento de 10% na comparação anual.
O dado veio acima do esperado e representa uma aceleração frente ao resultado de julho — o núcleo, que exclui itens mais voláteis, já aponta para mais de 6% contra o mesmo período do ano passado.
Notadamente, os preços de energia ajudaram a impulsionar os dados de hoje. De qualquer forma, as expectativas de aperto monetário por parte do BCE não devem ser alteradas.
O ambiente não é dos mais fáceis, considerando a situação dos países europeus e o risco de recessão.
04:18 — Nova Ordem Mundial?
Nos últimos dias, as forças militares ucranianas retomaram quase toda a região de Kharkiv, que as forças russas ocuparam desde o início da guerra em 24 de fevereiro, e agora parecem estar avançando com cuidado e consolidando seus ganhos.
Embora os russos ainda tenham a capacidade de se reagrupar e revidar, a ofensiva relâmpago forçou Moscou a fazer uma retirada apressada e pode pesar no moral das tropas russas.
Ainda é cedo para dizer como as sanções e a guerra econômica afetarão o resultado da guerra na Ucrânia, mas haverá uma clara divisão e uma dissociação econômica nos próximos anos.
A União Europeia, por exemplo, agora reconhece que deve ter uma rede de energia independente do fornecimento da Rússia, enquanto o Ocidente não fará nenhum investimento estrangeiro no país no futuro próximo.
A nova dinâmica também está ocorrendo no cenário global, com velhas alianças sendo renovadas, bem como pedidos de algumas novas.
Enquanto isso, os laços entre a Rússia e a China estão se fortalecendo, mas não da maneira que Putin esperava.
Para ilustrar, a China vem importando o petróleo russo em níveis recordes, mas por um valor baixo preço e, no segundo trimestre, 81% das importações de carros novos da Rússia eram chinesas, paralelamente ao fato de a Xiaomi ter sido a fabricante de smartphones mais vendida.
É provável que os próximos anos guardem relação com a construção de novas cadeias de produção em nível global, podendo dividir o mundo em dois grandes blocos pelo menos, o Ocidental e o Oriental.
O movimento tem inúmeros desdobramentos para setores estratégicos, como energético, alimentício, logístico e outros.
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