Uma história sobre a rotação setorial: como as teses de crescimento podem dar lugar às de valor em 2022
Entenda o que uma tentativa de acordo de paz para evitar a Segunda Guerra Mundial tem a ver com o atual momento das bolsas dos EUA
Se você pudesse fazer um acordo de paz com alguém que muito provavelmente atuaria de maneira desonesta, de modo a quebrar a promessa em aproximadamente 12 meses, qual seria sua atitude?
Acredito que boa parte dos leitores responderão que não dariam andamento às negociações; afinal, qual o benefício em negociar com um mentiroso?
Bem, foi exatamente o que o premiê britânico, Neville Chamberlain, fez em 1938.
Para contextualizar, o final da década de 30, na Europa, foi marcado, entre outras coisas, pelo início da Segunda Guerra Mundial, em 1939.
Um ano antes, entretanto, Chamberlain se encontrava com Hitler em Munique para celebrar um tratado no qual a Alemanha tomaria a região dos Sudetos da Tchecoslováquia, concordando em cessar por aí suas ambições.
Era mentira dos alemães.
Leia Também
A polarização do mercado financeiro, criptomoedas fecham semana no vermelho e outros destaques
Além do yin-yang: Vale a pena deixar os fundos para investir em renda fixa?
O pior de tudo é que, conforme nos conta o longa-metragem "Munique à Beira da Guerra", de Christian Schwochow, baseado na obra de Robert Harris, o primeiro-ministro britânico provavelmente tinha em mãos as provas das verdadeiras intenções do governo alemão. Contudo, ele ainda optou por seguir com o acordo.
O motivo?
Foram três, na verdade.
O primeiro é que as lideranças mundiais queriam evitar uma nova grande guerra a qualquer custo, mesmo que isso soasse ingênuo. O povo europeu estava cansado.
O segundo deriva de uma certa esperança de que o acordo poderia realmente dar certo. Chamberlain entendia que algo ruim poderia acontecer com a moral europeia caso a população não visse seus representantes lutando pela paz.
Por fim, mas não menos importante, um tratado, mesmo que temporário, daria chance para os aliados se prepararem para o confronto.
Foi o que aconteceu.
O Acordo de Munique rendeu mais alguns meses para o Reino Unido e seus aliados se prepararem para uma nova guerra de proporções mundiais. Naturalmente, os sinais temporários de paz enganaram bem os agentes à época, mas não foi definitivo.
Mas o que isso tem a ver com a bolsa?
Um paralelo interessante pode ser traçado com o que tem acontecido com o desempenho das Bolsas americanas nas últimas semanas.
O mês de janeiro foi destrutivo para ativos de risco no âmbito dos países desenvolvidos, em especial nos EUA. O movimento se deu por conta da precificação de um aperto monetário mais agressivo, em resposta à inflação, o que jogou para cima a taxa de juros de 10 anos nos EUA.
A taxa de juros de 10 anos é considerada a taxa livre de risco em nível global. A sua variação, portanto, é sentida em várias outras localidades do globo.
Alguns movimentos são sentidos, principalmente a rotação setorial de teses de crescimento, com múltiplos altos, para teses descontadas (valor), com múltiplos baixos.
Melhor dizendo, juros mais altos significam custos de oportunidade maiores para o investidor, que tende a continuar cada vez mais seletivo com os nomes que escolhe para compor sua carteira.
Esse fluxo, então, perpetua a dinâmica de rotação: menos “growth” e mais “value”.
Foi o que aconteceu.
De sua máxima, no dia 19 de novembro do ano passado, ao final de janeiro, o índice Nasdaq, composto predominantemente por posições de tecnologia, caiu 16,8% até a mínima. Da mínima recente, o índice vem tentando se recuperar, tendo subido aproximadamente 5% desde então, mas ainda em congestão.
Um falso acordo de paz
Em minha visão, porém, tal suspiro recente é um falso acordo de paz, tal qual foi o tratado entre o Reino Unido e a Alemanha no final da década de 30.
Se for verdade, a rotação de recursos entre setores que vimos nas últimas semanas, da nova economia para a velha economia, deve continuar a acontecer.
Para sustentar isso, observem a imagem a seguir.
Eu pergunto a vocês: alguém venderia o ativo representado abaixo se fosse um gráfico de ações? Muito provavelmente não. Acontece que a ilustração diz respeito, na verdade, ao rendimento de 10 anos dos EUA, que se encontra em seus níveis mais altos desde o final de 2019.
Há espaço para buscarmos os 2% nas próximas semanas, até o final do primeiro trimestre, o que ensejaria continuidade do movimento que vimos anteriormente.
Ou seja, nesse caso, a rotação para o valor pode ir ainda mais longe.
Em outras palavras, se os rendimentos reais continuarem a se normalizar à medida que a inflação se normalizar, as teses de valor (economia tradicional descontada) continuarão a ter um desempenho superior (destaque para os setores de energia, materiais e finanças).
Adicionalmente, os múltiplos de valuation para os setores de valor ainda não se recuperaram totalmente aos níveis pré-pandemia. Embora as ações de duration longo (fluxos de caixa muito no futuro) já tenham corrigido bastante, ainda vejo desvantagens se os rendimentos dos títulos continuarem subindo.
Desdobramentos práticos
Para mim, portanto, os desdobramentos práticos são os seguintes:
- Yields (rendimentos) mais altos não devem perturbar estruturalmente o universo das ações, mas, sim, apoiar continuamente a rotação de crescimento para valor;
- Precisamos diferenciar as big techs (Amazon, Alphabet, Apple e Microsoft, por exemplo) das “non-profitable tech” (companhias de tecnologia que ainda não lucro, as quais só faziam sentido em meio a juros baixos) — as primeiras têm valuations razoavelmente convidativos, balanço muito forte, enorme geração de caixa e negociam a múltiplos de lucros não impeditivos;
- Gosto de posições de commodities, com fluxo de caixa no presente, tangíveis e devidamente mensuráveis (não são promessas), em especial as energéticas, como o petróleo — a forte demanda por óleo deve continuar em 2022;
- Se é pra vender o que foi bem e para comprar o que foi mal, o Brasil pode ser um grande vencedor — mercados emergentes são campeões tradicionais da rotação setorial, o que me deixa levemente animado com os ativos de risco domésticos.
- As ações cíclicas domésticas podem se multiplicar (aquelas com lucro, claro) — destaque aqui para varejo de moda, shoppings, indústrias e incorporadoras.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
O espaço para a rotação
Vale notar que, mesmo com as pessoas começando a comprar uma rotação de valor em larga escala, com um movimento violento nas primeiras semanas do ano, as teses de valor (descontadas) permanecem ainda abaixo de sua antiga linha de tendência versus crescimento, como podemos ver a seguir.
Para estar em paridade com seu nível anterior, de quando os juros de 10 anos foram para além de 1,75%, como é o caso agora, o valor precisaria subir mais de 30% em relação ao crescimento dos níveis atuais.
Outra interpretação ainda mais otimista é de que imediatamente após a grande crise financeira de 2008, os juros de 10 anos estavam próximos dos níveis atuais, mas as posições de value (valor) eram pelo menos o dobro mais caras.
Portanto, ainda há espaço para uma rotação considerável.
Fonte: Jefferies
Continuo a enxergar as ações de maior duration em risco devido a taxas de juros mais altas, especialmente porque continuam caras. Resumidamente, com isso, “it's value time”. Vendemos o que é growth, tecnologia e promessas de resultado futuro, para comprar o que é bom e barato.
Precisamos falar sobre indicadores antecedentes: Saiba como analisar os índices antes de investir
Com o avanço da tecnologia, cada vez mais fundos de investimentos estão utilizando esses indicadores em seus modelos — e talvez a correlação esteja caindo
Rodolfo Amstalden: Encaro quase como um hedge
Tenho pensado cada vez mais na importância de buscar atividades que proporcionem feedbacks rápidos e causais. Elas nos ajudam a preservar um bom grau de sanidade
Day trade na B3: Oportunidade de lucro de mais de 4% com ações da AES Brasil (AESB3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da AES Brasil (AESB3). Saiba os detalhes
Setembro em tons de vermelho: Confira todas as notícias que pesam nos mercados e impactam seus investimentos hoje
O mês de setembro começa com uma imensa mancha de tinta vermelha sobre a tela das bolsas mundiais, sentindo o peso do Fed, da inflação recorde na zona do euro e do lockdown em Chengdu
A febre dos NFTs passou, mas esta empresa está ganhando dinheiro com eles até hoje
Saiba quem foram os vendedores de pás da corrida do ouro dos NFTs e o que isso nos ensina para as próximas ondas especulativas
Balanço de agosto, o Orçamento de 2023 e outros destaques do dia
A alta de 6,16% do Ibovespa em agosto afastou o rótulo de “mês do desgosto”, mas ainda assim deixou um sabor amargo na boca. Isso porque depois de disparar mais de 10% ainda na primeira quinzena, impulsionado pela volta do forte fluxo de capital estrangeiro, as últimas duas semanas foram comandadas pela cautela. Uma dupla […]
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 4% com ações da Marcopolo (POMO4); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Marcopolo (POMO4). Saiba mais detalhes
Tente outra vez: basta desejar profundo para ver a bolsa subir? Confira tudo o que mexe com os seus investimentos hoje
Em queda desde a sexta-feira, as bolsas de valores estrangeiras começaram o dia em busca de recuperação singela. Por aqui, investidores procuram justificativas para descolar o Ibovespa de Wall Street
Commodities derrubam Ibovespa, Itaú BBA rebaixa a Petrobras (PETR4) e as mudanças na WEG (WEGE3); confira os destaques do dia
As últimas levas de notícias que chegam de todas as partes do mundo parecem ter jogado os investidores dentro de um labirinto de difícil resolução em que apenas a cautela pode ser utilizada como arma. O emaranhado de corredores a serem percorridos não só são longos, como também parecem estar sempre mudando de posição — […]
Gringos estão de olho no Ibovespa, mas investidor local parece sem apetite pela bolsa brasileira. Qual é a melhor estratégia?
É preciso ir contra o consenso para gerar retornos acima da média, mesmo que isso signifique correr o risco de estar errado
Entenda por que você não deve acompanhar só quem possui teses de investimento iguais às suas
Parte fundamental do estudo de uma ação é entender não só a cabeça de quem tem uma tese que vá em linha com a sua, mas também a de quem pensa o contrário
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 11% com ações da Santos Brasil (STBP3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Santos Brasil (STBP3). Saiba os detalhes
Uma pausa para respirar: Confira todas as notícias que movimentam os mercados e impactam seus investimentos hoje
A saída da atual crise inflacionária norte-americana passa necessariamente por algum sacrifício. Hoje, porém, as bolsas fazem uma pausa para respirar
Aperte os cintos: o Fed praticamente acabou com as teses de crescimento, e o fim do bear market rally está aí
Saída da atual crise inflacionária passa por algum sacrifício. Afinal, estamos diante de um ciclo econômico clássico e será preciso esfriar o mercado de trabalho
Ibovespa se descola da gringa, Itaú entra na disputa das vendas virtuais e a estratégia de Bolsonaro para os debates; confira os destaques do dia
Em Wall Street, o alerta do Federal Reserve de que o aperto monetário pode ser mais intenso do que o esperado penalizou as bolsas lá fora
Complacência: Entenda por que é melhor investir em ativos de risco brasileiros do que em bolsa norte-americana
Uma das facetas da complacência é a tendência a evitar conflitos e valorizar uma postura pacifista, num momento de remilitarização do mundo, o que pode ser enaltecido agora
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 5% com ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3). Veja os detalhes
Mercados, debate presidencial e um resultado inesperado: Confira todas as notícias que mexem com os seus investimentos hoje
Com a percepção de que o Fed optará pelo combate à inflação a todos os custos, os últimos dias de agosto não devem trazer alívio para os mercados financeiros. O Ibovespa ainda repercute o primeiro debate entre presidenciáveis
Por que saber demais pode tornar você um péssimo chefe
Apesar de desenvolvermos uma compreensão mais sofisticada da realidade como adultos, tendemos a cair em armadilhas com muito mais frequência do que gostaríamos de admitir
Wall Street tomba com Powell, os melhores momentos de Lula e Bolsonaro no Jornal Nacional e outros destaques do dia
Desde que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou o início da retirada dos estímulos monetários adotados na pandemia, durante o simpósio de Jackson Hole de 2021, o mercado financeiro global já se viu obrigado inúmeras vezes a recalcular a rota, e todas elas parecem levar a um destino ainda incerto, mas muito […]