Em busca de sentido nos investimentos: O ‘buy and hold’ de Warren Buffett estava errado?
Na visão do Oráculo de Omaha, você compra vendo um preço mais baixo do que o valor intrínseco estimado. Mas isso não significa ficar alheio (ou apático) aos acontecimentos
"Por certo tempo, estive deitado num barracão em que estavam aquartelados os que sofriam de tifo exantemático, em meio a pacientes com febre alta e em pleno delírio, muitos deles às portas da morte. Mais um acaba de morrer.
Que acontece pela enésima vez, sim, enésima vez, sem despertar um mínimo de reação ou sentimento?
Fico observando como um companheiro depois do outro se aproxima do cadáver ainda quente; um lhe surrupia o resto de batatas encardidas do almoço; outro verifica que os sapatos de madeira do cadáver ainda estão um pouco melhores que os seus próprios; um terceiro tira o manto do morto; outro, afinal, ainda fica contente por surrupiar um barbante — imagine.
Do choque à apatia
Fico olhando, apático. Finalmente, dou-me um empurrão e me animo a convencer o enfermeiro a levar o corpo para fora do barracão (um galpão de chão batido).
Quando ele resolve fazê-lo, pega o cadáver pelas pernas, fá-lo rodar em direção ao estreito corredor entre as duas fileiras de tábuas à esquerda e à direita, sobre as quais estão deitados os cinquenta enfermos acometidos da febre, para então arrastá-lo pelo chão acidentado até chegar à porta do barracão.
Dali sobe dois degraus para fora, em direção ao ar livre (…). Com muito esforço ele se alça primeiro, e depois o morto. (…)
Leia Também
A polarização do mercado financeiro, criptomoedas fecham semana no vermelho e outros destaques
Além do yin-yang: Vale a pena deixar os fundos para investir em renda fixa?
A insensibilidade
O meu lugar fica em frente à porta, do outro lado da barraca, próximo da única janelinha, um pouco acima do solo. Minhas mãos geladas se aconchegam à vasilha quente da sopa. Enquanto sorvo seu conteúdo sofregamente, por acaso dou uma espiada para fora da janela.
Lá está o cadáver recém-tirado do barracão, a fitar as janelas de olhos esbugalhados. Há apenas duas horas eu estava conversando com esse companheiro. Continuo tomando a sopa.
Se eu não tivesse ficado espantado com a minha própria insensibilidade, de certa forma por curiosidade profissional, esta experiência nem se teria fixado em minha memória, de tão pouco sentimento que o fato todo me despertou.”
Em busca de sentido
Peço desculpas pelo longo trecho. É Vitor Frankl, no clássico “Em busca de sentido”, descrevendo os terrores de sua passagem por campos de concentração, mais precisamente o momento em que o prisioneiro sai do estágio inicial do choque da chegada à apatia, em que a pessoa vai morrendo interiormente.
Depois de experimentar sensações de extrema tortura (física e psicológica), o prisioneiro desenvolve um mecanismo de autoproteção da psique, em que se reduz a percepção da realidade para focar-se exclusivamente na sobrevivência.
“O nojo, o horror, o compadecimento, a revolta, tudo isso nosso observador já não pode sentir nesse momento. Padecentes, moribundos ou mortos constituem uma cena tão corriqueira, depois de algumas semanas num campo de concentração, que não conseguem sensibilizá-lo mais.”
Um refúgio
Apesar de descrever com sensibilidade e, quase mesmo, poesia os horrores de um campo de concentração (nada me parece tão trágico quanto essa experiência), Frankl consegue encontrar um refúgio em si mesmo, capaz de nutri-lo com algum otimismo.
Como se a felicidade ou, sei lá, a capacidade de enfrentar a vida de forma altiva estivesse sempre dentro da gente.
Entre o espaço de tempo, ainda que infinitesimal, de um impulso externo e a nossa reação, ainda houve como oferecer ao mundo (e, quem sabe, a nós mesmos) algo mais arejado, auspicioso, encantado até.
O relatório do JP Morgan e os invstidores
Eu me peguei capturado por esse trecho enquanto lia pertinente relatório do JP Morgan da semana passada.
(Esclarecimento necessário: não pretendo conferir qualquer paralelismo ou comparação entre as coisas; nada se assemelha aos horrores do holocausto. Tenho o mais absoluto respeito pela História. Aqui me refiro exclusivamente ao estágio psicológico da apatia, que pode nos atropelar depois de semanas, meses ou anos de tortura física, mental ou financeira. Volto ao contexto.)
Trecho do documento dizia, em tradução livre, algo mais ou menos assim:
“Os investidores se mantêm atônitos, como se fosse tarde demais para vender ou hedgear suas posições; e cedo demais para comprar.”
- ESTÁ GOSTANDO DESTE CONTEÚDO? Tenha acesso a ideias de investimento para sair do lugar comum, multiplicar e proteger o patrimônio.
A apatia dos investidores
O mercado parece também tomado pela apatia, como se assistisse perplexo, de um lado, às preocupações sobre inflação e recessão, e, de outro, à atratividade de certos valuations.
O investidor médio parece se esquecer que gestão de recursos se faz diariamente, reagindo às informações marginais e ao comportamento do preço dos ativos de maneira dinâmica. Como dizia o filósofo Ramiro, “Bolsa tem todo dia.”
A filosofia “buy and hold” de Buffett
Até mesmo a filosofia do “buy and hold” empresta uma expressão com potencial para render interpretações equivocadas. "Comprar e segurar” não significa “comprar e esquecer”.
A ideia da cartilha buffettiana é adquirir um ativo hoje por um preço inferior ao seu valor justo, calculado com a devida margem de segurança, esperando uma convergência entre as coisas.
Num primeiro momento, imagina-se que essa convergência vai levar um certo tempo; por isso, a ideia é que se compre algo com a intenção de segurar até que o mercado todo perceba o valor intrínseco e ocorra uma atração das cotações por magnetismo a essa entidade intangível.
Agora, isso não significa uma espécie de casamento católico em que não há separação. Você casa, acha que as coisas vão durar para sempre, maaaas…. nem sempre é assim. Em muitas situações, o divórcio parece uma decisão superior.
As coisas mudam. E aí?
O investimento, também sob a ótica buffettiana, vai pelo mesmo caminho. Você compra vendo um preço mais baixo do que o valor intrínseco estimado.
Isso não significa abandonar qualquer tipo de acompanhamento e/ou ficar alheio (ou apático) aos acontecimentos.
Ao contrário, mesmo no “buy and hold”, se você compra algo hoje, amanhã mesmo, ainda que tenha comprado para longo prazo, você vai reavaliar sua posição, tanto o preço quanto o valor intrínseco, porque essas coisas não são estáticas e imutáveis.
A velha ideia: “se as coisas mudam, eu mudo de ideia, e você?”
Ainda que as mazelas externas possam tentar nos empurrar para uma postura mais apática e de desinteresse perante nossos investimentos, precisamos rejeitá-la, encontrando, dentro de nós mesmos, alguma capacidade para continuar reagindo de forma dinâmica, ainda que seja o mero instinto de sobrevivência.
Três prescrições diante dessa ideia:
01. Proteção de posições
Se o cenário é ruim ou os preços não são convidativos, ainda que um movimento de baixa já tenha começado, pode não ser tarde para proteger determinadas posições.
Os tais “bear market rallies” são comuns e extensos dentro de tendências de baixa mais pronunciadas.
Ainda existem ações caras nos universos de “growth” (crescimento) e tecnologia, por mais incrível que pareça.
Lembre-se de que a média recente de múltiplos contempla um ambiente de excessiva liquidez, juros extraordinariamente baixos e complacência com riscos. Talvez a comparação com esse período leve a conclusões precipitadas.
02. A inação também é uma decisão
Depois da análise atualizada e dinâmica do cenário, você pode optar por não fazer nada novo. A ânsia por uma atitude nova muitas vezes amplifica decisões ruins.
No Brasil, você é muito bem pago para esperar — 14% ao ano com liquidez diária e sem risco de crédito ou um juro real ex-ante de 8,5% são alternativas bastante convidativas.
Não confundir essa espera deliberada no CDI com apatia; ter caixa serve inclusive como uma postura altiva para aproveitar eventuais novas oportunidades que venham a surgir no caminho.
03. Barganhas na bolsa brasileira
Já há boas barganhas na Bolsa brasileira, sobretudo em ações com múltiplos baixos, vantagens competitivas claras e longo histórico de crescimento dos lucros por ação.
De maneira diversificada, com disciplina e paciência, o dinheiro novo pode ser alocado dinamicamente nesses ativos, com foco no longo prazo.
Sempre que estivemos nesses níveis de valuation capturamos bons lucros de maneira subsequente (pensando em intervalos de anos).
Precisamos falar sobre indicadores antecedentes: Saiba como analisar os índices antes de investir
Com o avanço da tecnologia, cada vez mais fundos de investimentos estão utilizando esses indicadores em seus modelos — e talvez a correlação esteja caindo
Rodolfo Amstalden: Encaro quase como um hedge
Tenho pensado cada vez mais na importância de buscar atividades que proporcionem feedbacks rápidos e causais. Elas nos ajudam a preservar um bom grau de sanidade
Day trade na B3: Oportunidade de lucro de mais de 4% com ações da AES Brasil (AESB3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da AES Brasil (AESB3). Saiba os detalhes
Setembro em tons de vermelho: Confira todas as notícias que pesam nos mercados e impactam seus investimentos hoje
O mês de setembro começa com uma imensa mancha de tinta vermelha sobre a tela das bolsas mundiais, sentindo o peso do Fed, da inflação recorde na zona do euro e do lockdown em Chengdu
A febre dos NFTs passou, mas esta empresa está ganhando dinheiro com eles até hoje
Saiba quem foram os vendedores de pás da corrida do ouro dos NFTs e o que isso nos ensina para as próximas ondas especulativas
Balanço de agosto, o Orçamento de 2023 e outros destaques do dia
A alta de 6,16% do Ibovespa em agosto afastou o rótulo de “mês do desgosto”, mas ainda assim deixou um sabor amargo na boca. Isso porque depois de disparar mais de 10% ainda na primeira quinzena, impulsionado pela volta do forte fluxo de capital estrangeiro, as últimas duas semanas foram comandadas pela cautela. Uma dupla […]
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 4% com ações da Marcopolo (POMO4); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Marcopolo (POMO4). Saiba mais detalhes
Tente outra vez: basta desejar profundo para ver a bolsa subir? Confira tudo o que mexe com os seus investimentos hoje
Em queda desde a sexta-feira, as bolsas de valores estrangeiras começaram o dia em busca de recuperação singela. Por aqui, investidores procuram justificativas para descolar o Ibovespa de Wall Street
Commodities derrubam Ibovespa, Itaú BBA rebaixa a Petrobras (PETR4) e as mudanças na WEG (WEGE3); confira os destaques do dia
As últimas levas de notícias que chegam de todas as partes do mundo parecem ter jogado os investidores dentro de um labirinto de difícil resolução em que apenas a cautela pode ser utilizada como arma. O emaranhado de corredores a serem percorridos não só são longos, como também parecem estar sempre mudando de posição — […]
Gringos estão de olho no Ibovespa, mas investidor local parece sem apetite pela bolsa brasileira. Qual é a melhor estratégia?
É preciso ir contra o consenso para gerar retornos acima da média, mesmo que isso signifique correr o risco de estar errado
Entenda por que você não deve acompanhar só quem possui teses de investimento iguais às suas
Parte fundamental do estudo de uma ação é entender não só a cabeça de quem tem uma tese que vá em linha com a sua, mas também a de quem pensa o contrário
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 11% com ações da Santos Brasil (STBP3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Santos Brasil (STBP3). Saiba os detalhes
Uma pausa para respirar: Confira todas as notícias que movimentam os mercados e impactam seus investimentos hoje
A saída da atual crise inflacionária norte-americana passa necessariamente por algum sacrifício. Hoje, porém, as bolsas fazem uma pausa para respirar
Aperte os cintos: o Fed praticamente acabou com as teses de crescimento, e o fim do bear market rally está aí
Saída da atual crise inflacionária passa por algum sacrifício. Afinal, estamos diante de um ciclo econômico clássico e será preciso esfriar o mercado de trabalho
Ibovespa se descola da gringa, Itaú entra na disputa das vendas virtuais e a estratégia de Bolsonaro para os debates; confira os destaques do dia
Em Wall Street, o alerta do Federal Reserve de que o aperto monetário pode ser mais intenso do que o esperado penalizou as bolsas lá fora
Complacência: Entenda por que é melhor investir em ativos de risco brasileiros do que em bolsa norte-americana
Uma das facetas da complacência é a tendência a evitar conflitos e valorizar uma postura pacifista, num momento de remilitarização do mundo, o que pode ser enaltecido agora
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 5% com ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3). Veja os detalhes
Mercados, debate presidencial e um resultado inesperado: Confira todas as notícias que mexem com os seus investimentos hoje
Com a percepção de que o Fed optará pelo combate à inflação a todos os custos, os últimos dias de agosto não devem trazer alívio para os mercados financeiros. O Ibovespa ainda repercute o primeiro debate entre presidenciáveis
Por que saber demais pode tornar você um péssimo chefe
Apesar de desenvolvermos uma compreensão mais sofisticada da realidade como adultos, tendemos a cair em armadilhas com muito mais frequência do que gostaríamos de admitir
Wall Street tomba com Powell, os melhores momentos de Lula e Bolsonaro no Jornal Nacional e outros destaques do dia
Desde que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou o início da retirada dos estímulos monetários adotados na pandemia, durante o simpósio de Jackson Hole de 2021, o mercado financeiro global já se viu obrigado inúmeras vezes a recalcular a rota, e todas elas parecem levar a um destino ainda incerto, mas muito […]