A inflação nos EUA pode impactar a alta de preços e da Selic no Brasil? Entenda a situação
Algumas projeções de mercado apontam para nove aumentos de 0,25% nos juros dos EUA por parte do Federal Reserve, o que pode pode ter implicações na taxa brasileira
Caro leitor,
O tema da inflação tem estado bastante presente no noticiário econômico nos últimos meses.
Após anos e anos enfrentando dificuldades para trazer a inflação para a meta estabelecida pelo banco central americano (de 2%), as leituras recentes têm indicado que a inflação no país está nos maiores patamares em décadas.
Inflação nos EUA
Ontem (12), por exemplo, tivemos a divulgação do CPI — o “primo” americano do nosso IPCA — de março na terra do Tio Sam. O aumento de preços em 12 meses atingiu a marca de 8,5%, o maior ritmo desde dezembro de 1981 e superior aos 7,9% medidos em fevereiro. No mês, o indicador ficou em 1,2%, ante 0,8% no mês anterior.
Uma grande parcela desse aumento está ligada à guerra entre Rússia e Ucrânia, que fez com que os preços de diversas commodities (principalmente as energéticas) atingissem níveis vistos somente no começo da década passada.
Na comparação com fevereiro, os gastos com energia aumentaram 11% (+32% em relação ao mesmo período do ano passado). O preço da gasolina teve alta de 18,3% no mês (48% no ano), maior variação desde 2009. Não à toa, a categoria foi responsável por praticamente 70% da inflação de 8,5% observada em março.
Leia Também
A polarização do mercado financeiro, criptomoedas fecham semana no vermelho e outros destaques
Além do yin-yang: Vale a pena deixar os fundos para investir em renda fixa?
Já os preços dos alimentos contribuíram com mais 10% desse aumento, tornando a vida das famílias de menor renda ainda mais difícil. Se os custos de vida crescem em um ritmo mais acelerado que os ganhos salariais, a parcela do consumo com esses itens fica cada vez maior.
Núcleo da inflação norte-americana
Nesse mar de preocupações, os dados do núcleo da inflação — que desconsidera as variações nos preços de energia e alimentos, que são mais voláteis — serviram como um alento para parte do mercado.
Apesar de o número ter vindo levemente acima do esperado pelos analistas nos últimos 12 meses — 6,5% vs. 6,4% —, no mês o núcleo da inflação totalizou 0,3%, abaixo do 0,5% projetado pelo mercado.
Seria este então o ponto de inflexão para a inflação?
Fed e o aumento dos juros
Logo após a divulgação do dado, as taxas de juros dos títulos de dez anos chegaram a cair quase 10 pontos-base, saindo do patamar de 2,8% para perto dos 2,7%. O sinal que ficou é de que o Federal Reserve talvez não precise ser tão duro no aumento de juros.
É importante notar, contudo, que, nos dias anteriores à divulgação do CPI, a taxa de dez anos do Tesouro americano saiu dos 2,6% para quase 2,85%.
Desde o começo do mês, foram mais de 40 pontos-base em um espaço de menos de 15 dias — algo inimaginável tempos atrás. Ou seja, ainda que o recuo tenha sido expressivo, está longe de representar uma reversão no movimento.
Inflação e os consumidores
E, particularmente, mesmo com o recuo de alguns itens, como o preço de carros usados, com queda de quase 4% no mês, energia e alimentos ainda devem manter o nível de preços elevado nos próximos meses.
Claro que uma redução na velocidade do aumento de preços é positiva para os consumidores. Mas enxergar uma inflexão dos patamares atuais de maneira substancial não me parece o mais plausível.
Mesmo com a queda das máximas, não podemos esquecer que o preço do barril de petróleo ainda se encontra próximo dos US$ 100, uma alta de mais de 33% no ano e de quase 70% nos últimos 12 meses.
Alimentos e exportação
Mas a situação que mais me preocupa mesmo é a dos alimentos.
No limite, as pessoas podem buscar outros meios de locomoção (ainda que para muitos isso seja algo extremamente difícil, claro). Mas quando falamos de itens básicos para a sobrevivência, algumas situações podem fazer com que os indivíduos tomem atitudes drásticas para ter acesso a esses produtos.
Recentemente vimos cenas de revolta por parte da população do Peru, protestando contra o forte aumento nos preços dos combustíveis e alimentos, obrigando o presidente a impor um toque de recolher para tentar conter os manifestantes.
E isso pode fazer com que mais países adotem restrições às exportações de alimentos para outros países, causando assim mais dificuldades em nível global.
Segundo dados do Banco Mundial, em poucas semanas o número de países que impuseram esse tipo de medida aumentou em 25%, chegando à marca de 35. Ao final de março, 53 novas políticas de intervenção que afetam o comércio de alimentos haviam sido impostas — das quais 31 estavam ligadas a restrição de exportação e 9 relacionadas especificamente ao trigo.
- MUDANÇAS NO IR 2022: baixe o guia gratuito sobre o Imposto de Renda deste ano e evite problemas com a Receita Federal; basta clicar aqui
As commodities agrícolas
Por ora, o controle das importações e exportações não é tão amplo quanto o observado após a Grande Recessão. Entre 2008 e 2011, os controles impostos representavam 74% do comércio global de trigo; hoje, esse número é de 21%.
Contudo, um ciclo de retaliações que gere novas medidas por outros países pode trazer novos aumentos de preço das commodities agrícolas. Estimativas apontam que o preço do trigo poderia subir mais 13% caso qualquer um dos cinco maiores exportadores da commodity decidisse banir o comércio com outros países.
E a inflação em patamares mais elevados que o esperado pelo mercado pode ensejar uma maior atuação por parte dos bancos centrais ao redor do mundo.
Juros nos EUA e no Brasil
Algumas projeções de mercado apontam para o equivalente a nove aumentos de 0,25 ponto percentual na taxa de juros por parte do Federal Reserve, o que a levaria para o intervalo entre 2,5% e 2,75% ao final de 2022.
Isso pode ter implicações inclusive na taxa brasileira — o próprio presidente do Banco Central do Brasil se disse surpreso com a inflação de março em terras tupiniquins, acima das projeções dos analistas.
Os formuladores de política monetária ainda terão que refletir muito nos próximos meses sobre qual o melhor plano para reduzir o nível de preços sem colocar em risco o ritmo de crescimento da economia global. Mas inflexão ainda me parece algo improvável na realidade atual.
Um abraço,
Enzo Pacheco
Precisamos falar sobre indicadores antecedentes: Saiba como analisar os índices antes de investir
Com o avanço da tecnologia, cada vez mais fundos de investimentos estão utilizando esses indicadores em seus modelos — e talvez a correlação esteja caindo
Rodolfo Amstalden: Encaro quase como um hedge
Tenho pensado cada vez mais na importância de buscar atividades que proporcionem feedbacks rápidos e causais. Elas nos ajudam a preservar um bom grau de sanidade
Day trade na B3: Oportunidade de lucro de mais de 4% com ações da AES Brasil (AESB3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da AES Brasil (AESB3). Saiba os detalhes
Setembro em tons de vermelho: Confira todas as notícias que pesam nos mercados e impactam seus investimentos hoje
O mês de setembro começa com uma imensa mancha de tinta vermelha sobre a tela das bolsas mundiais, sentindo o peso do Fed, da inflação recorde na zona do euro e do lockdown em Chengdu
A febre dos NFTs passou, mas esta empresa está ganhando dinheiro com eles até hoje
Saiba quem foram os vendedores de pás da corrida do ouro dos NFTs e o que isso nos ensina para as próximas ondas especulativas
Balanço de agosto, o Orçamento de 2023 e outros destaques do dia
A alta de 6,16% do Ibovespa em agosto afastou o rótulo de “mês do desgosto”, mas ainda assim deixou um sabor amargo na boca. Isso porque depois de disparar mais de 10% ainda na primeira quinzena, impulsionado pela volta do forte fluxo de capital estrangeiro, as últimas duas semanas foram comandadas pela cautela. Uma dupla […]
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 4% com ações da Marcopolo (POMO4); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Marcopolo (POMO4). Saiba mais detalhes
Tente outra vez: basta desejar profundo para ver a bolsa subir? Confira tudo o que mexe com os seus investimentos hoje
Em queda desde a sexta-feira, as bolsas de valores estrangeiras começaram o dia em busca de recuperação singela. Por aqui, investidores procuram justificativas para descolar o Ibovespa de Wall Street
Commodities derrubam Ibovespa, Itaú BBA rebaixa a Petrobras (PETR4) e as mudanças na WEG (WEGE3); confira os destaques do dia
As últimas levas de notícias que chegam de todas as partes do mundo parecem ter jogado os investidores dentro de um labirinto de difícil resolução em que apenas a cautela pode ser utilizada como arma. O emaranhado de corredores a serem percorridos não só são longos, como também parecem estar sempre mudando de posição — […]
Gringos estão de olho no Ibovespa, mas investidor local parece sem apetite pela bolsa brasileira. Qual é a melhor estratégia?
É preciso ir contra o consenso para gerar retornos acima da média, mesmo que isso signifique correr o risco de estar errado
Entenda por que você não deve acompanhar só quem possui teses de investimento iguais às suas
Parte fundamental do estudo de uma ação é entender não só a cabeça de quem tem uma tese que vá em linha com a sua, mas também a de quem pensa o contrário
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 11% com ações da Santos Brasil (STBP3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Santos Brasil (STBP3). Saiba os detalhes
Uma pausa para respirar: Confira todas as notícias que movimentam os mercados e impactam seus investimentos hoje
A saída da atual crise inflacionária norte-americana passa necessariamente por algum sacrifício. Hoje, porém, as bolsas fazem uma pausa para respirar
Aperte os cintos: o Fed praticamente acabou com as teses de crescimento, e o fim do bear market rally está aí
Saída da atual crise inflacionária passa por algum sacrifício. Afinal, estamos diante de um ciclo econômico clássico e será preciso esfriar o mercado de trabalho
Ibovespa se descola da gringa, Itaú entra na disputa das vendas virtuais e a estratégia de Bolsonaro para os debates; confira os destaques do dia
Em Wall Street, o alerta do Federal Reserve de que o aperto monetário pode ser mais intenso do que o esperado penalizou as bolsas lá fora
Complacência: Entenda por que é melhor investir em ativos de risco brasileiros do que em bolsa norte-americana
Uma das facetas da complacência é a tendência a evitar conflitos e valorizar uma postura pacifista, num momento de remilitarização do mundo, o que pode ser enaltecido agora
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 5% com ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3). Veja os detalhes
Mercados, debate presidencial e um resultado inesperado: Confira todas as notícias que mexem com os seus investimentos hoje
Com a percepção de que o Fed optará pelo combate à inflação a todos os custos, os últimos dias de agosto não devem trazer alívio para os mercados financeiros. O Ibovespa ainda repercute o primeiro debate entre presidenciáveis
Por que saber demais pode tornar você um péssimo chefe
Apesar de desenvolvermos uma compreensão mais sofisticada da realidade como adultos, tendemos a cair em armadilhas com muito mais frequência do que gostaríamos de admitir
Wall Street tomba com Powell, os melhores momentos de Lula e Bolsonaro no Jornal Nacional e outros destaques do dia
Desde que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou o início da retirada dos estímulos monetários adotados na pandemia, durante o simpósio de Jackson Hole de 2021, o mercado financeiro global já se viu obrigado inúmeras vezes a recalcular a rota, e todas elas parecem levar a um destino ainda incerto, mas muito […]