Como a alta dos juros afeta o valor das ações da bolsa, e ainda mais as empresas de tecnologia
Enquanto as empresas tech dispararam em 2020 e 2021, hoje, as companhias ligadas a commodities são as que possuem fluxos de caixa de curto prazo mais relevantes
Olá, seja bem-vindo à Estrada do Futuro, onde conversamos semanalmente sobre a intersecção entre investimentos e tecnologia.
O aumento dos juros é, novamente, o foco central dos investidores. Falar sobre o assunto é naturalmente algo especulativo.
Parte do mercado teme que o Fed (o Banco Central americano) não seja capaz de implementar um aperto monetário forte o suficiente para controlar a inflação.
Outra vertente de investidores teme exatamente o oposto: que o Fed vá longe demais e afogue o mundo numa recessão.
Onde a maioria dos investidores se perde, porém, é nos desdobramentos práticos dessa discussão para os mercados.
Quais ativos se beneficiam dos juros aumentando? Entre os prejudicados, qual o tamanho do problema?
Leia Também
A polarização do mercado financeiro, criptomoedas fecham semana no vermelho e outros destaques
Além do yin-yang: Vale a pena deixar os fundos para investir em renda fixa?
Quando falamos em empresas, existe impacto operacional em seu dia a dia?
Na coluna de hoje, meu objetivo é responder essas perguntas de uma maneira que te ajude a alocar seu capital em meio a um cenário tão conturbado.
Existe valor "justo"?
A primeira coisa que precisamos ter claro é que nenhum ativo tem um valor absoluto, único e verdadeiro.
O valor de qualquer ativo imobiliário é relativo, e essa relatividade se expressa através dos juros.
Quero dizer o seguinte: é perfeitamente possível que uma empresa valha "X" em 01 de janeiro e "Y" em 31 de dezembro, mesmo que muito pouco mude em sua operação no transcorrer de 12 meses.
Avaliação em duas etapas
A avaliação de um qualquer ativo financeiro tem duas etapas principais: estimar os seus fluxos de caixa futuros e depois transportar esses valores para o presente.
Se eu estimo que uma empresa será capaz de gerar R$ 1 milhão em fluxo de caixa em 2030, eu preciso estimar também o valor desse R$ 1 milhão hoje.
É aquela velha noção, super intuitiva, de que R$ 1 hoje tem um poder de compra muito menor que o mesmo R$ 1 há 20 anos.
Para isso, utilizamos um conceito de taxa de desconto, que nada mais é do que o "custo de oportunidade" do nosso dinheiro.
Taxa de juros longa
Essa taxa de desconto pode ser entendida como a taxa de juros de longo prazo de um país, acrescido de um prêmio de risco.
E qual a taxa de juros longa de um país?
O consenso entre os investidores é que essa taxa é o juros de 10 anos. No caso dos EUA, o Treasury de 10 anos de que tanto falamos.
E como essa taxa impacta o valor das empresas?
Se o meu prêmio de risco (ou seja, o retorno que eu, enquanto investidor, acredito ser suficiente para me remunerar adequadamente pelo risco) for de 5% ao ano, e o juros for de 1% ao ano, minha taxa de desconto (simplificando a aritmética) será próxima de 6%.
Estimar o valor daquele fluxo de caixa de R$ 1 milhão que está a 10 anos no futuro, resume-se a seguinte equação:
R$ 1.000.000 / [(1+6%)^10] = R$ 558.394,78.
Em outras palavras, se eu pagar por esse ativo R$ 558.394,78 e receber R$ 1 milhão em 10 anos, meu retorno terá sido de 6% ao ano.
É assim que os investidores pensam sobre o valor "justo" dos ativos.
O juros soberano
Agora, o que acontece se a taxa de juros de 10 anos - nosso juro soberano - sair de 1% para 2%?
Nesse caso, vamos repetir a equação, mantendo o prêmio de risco em 5%:
R$ 1.000.000 / [(1+7%)^10] = R$ 508.349,29
Ao aumentarmos a taxa de desconto, o valor presente diminui. Naturalmente, para chegar no mesmo R$ 1 milhão em 10 anos, se eu terei 1 p.p a mais de retorno todos os anos, eu posso partir de um valor inicial menor.
- ESTÁ GOSTANDO DESTE CONTEÚDO? Tenha acesso a ideias de investimento para sair do lugar comum, multiplicar e proteger o patrimônio.
Da teoria à prática
Nesse exemplo ilustrativo, o juros de 10 anos saindo de 1% para 2% representou uma queda de aproximadamente 8,9% no valor presente do nosso ativo, que possui apenas um único fluxo de caixa, 10 anos à frente no tempo.
Se ele fosse listado na Bolsa, essa é a reação que esperaríamos.
Agora, o que acontece na prática?
Os infinitos fluxos de caixa
Bom, empresas são compostas não de um, mas de possivelmente infinitos fluxos de caixa. Quanto mais distantes no futuro esses fluxos de caixa estiverem, mais sensíveis eles serão às mudanças nos juros.
Se você estiver genuinamente interessado(a), repita sozinho(a) as duas contas que fizemos acima, substituindo os 10 anos por 20 anos, e veja o que acontece.
Commodities e tecnologia
E quais são as empresas com fluxos de caixa mais distantes no futuro? Geralmente, as empresas de tecnologia.
E quais são as empresas cujos fluxos de caixa de curto prazo são os mais relevantes? As commodities.
Bem resumidamente, sob o risco de sermos excessivamente simplistas, esse é o movimento que o mercado batizou de "reflation trade": uma rotação de portfólios, saindo de posições com fluxos de caixa muito distantes no futuro (como tecnologia) e migrando para ativos com fluxos de caixa mais próximos do presente (como commodities).
Em 2022, mesmo setores mais resilientes, como o de ativos reais (o "real estate"), ficaram muito para trás em relação às commodities.
Conclusão
Como eu tentei demonstrar acima, é perfeitamente possível termos mudanças significativas no preço das ações, sem que os fundamentos de uma empresa tenham se deteriorado (ou melhorado) na mesma magnitude.
Em 2020 e 2021, por exemplo, as ações de tecnologia subiram muito além do que era razoável para seus fundamentos, justamente devido à queda vertical dos juros.
Este começo de 2022 nos apresentou umas das conjunturas mais complexas que já vimos: guerra, inflação de dois dígitos e a pandemia (ainda fortíssima em países como a China).
Num ambiente como esse, é perfeitamente normal que ativos se descolem de seus fundamentos e criem excelentes oportunidades de investimento.
Há algumas semanas, falei sobre três que considero enormes para quem deseja investir em tecnologia.
Precisamos falar sobre indicadores antecedentes: Saiba como analisar os índices antes de investir
Com o avanço da tecnologia, cada vez mais fundos de investimentos estão utilizando esses indicadores em seus modelos — e talvez a correlação esteja caindo
Rodolfo Amstalden: Encaro quase como um hedge
Tenho pensado cada vez mais na importância de buscar atividades que proporcionem feedbacks rápidos e causais. Elas nos ajudam a preservar um bom grau de sanidade
Day trade na B3: Oportunidade de lucro de mais de 4% com ações da AES Brasil (AESB3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da AES Brasil (AESB3). Saiba os detalhes
Setembro em tons de vermelho: Confira todas as notícias que pesam nos mercados e impactam seus investimentos hoje
O mês de setembro começa com uma imensa mancha de tinta vermelha sobre a tela das bolsas mundiais, sentindo o peso do Fed, da inflação recorde na zona do euro e do lockdown em Chengdu
A febre dos NFTs passou, mas esta empresa está ganhando dinheiro com eles até hoje
Saiba quem foram os vendedores de pás da corrida do ouro dos NFTs e o que isso nos ensina para as próximas ondas especulativas
Balanço de agosto, o Orçamento de 2023 e outros destaques do dia
A alta de 6,16% do Ibovespa em agosto afastou o rótulo de “mês do desgosto”, mas ainda assim deixou um sabor amargo na boca. Isso porque depois de disparar mais de 10% ainda na primeira quinzena, impulsionado pela volta do forte fluxo de capital estrangeiro, as últimas duas semanas foram comandadas pela cautela. Uma dupla […]
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 4% com ações da Marcopolo (POMO4); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Marcopolo (POMO4). Saiba mais detalhes
Tente outra vez: basta desejar profundo para ver a bolsa subir? Confira tudo o que mexe com os seus investimentos hoje
Em queda desde a sexta-feira, as bolsas de valores estrangeiras começaram o dia em busca de recuperação singela. Por aqui, investidores procuram justificativas para descolar o Ibovespa de Wall Street
Commodities derrubam Ibovespa, Itaú BBA rebaixa a Petrobras (PETR4) e as mudanças na WEG (WEGE3); confira os destaques do dia
As últimas levas de notícias que chegam de todas as partes do mundo parecem ter jogado os investidores dentro de um labirinto de difícil resolução em que apenas a cautela pode ser utilizada como arma. O emaranhado de corredores a serem percorridos não só são longos, como também parecem estar sempre mudando de posição — […]
Gringos estão de olho no Ibovespa, mas investidor local parece sem apetite pela bolsa brasileira. Qual é a melhor estratégia?
É preciso ir contra o consenso para gerar retornos acima da média, mesmo que isso signifique correr o risco de estar errado
Entenda por que você não deve acompanhar só quem possui teses de investimento iguais às suas
Parte fundamental do estudo de uma ação é entender não só a cabeça de quem tem uma tese que vá em linha com a sua, mas também a de quem pensa o contrário
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 11% com ações da Santos Brasil (STBP3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Santos Brasil (STBP3). Saiba os detalhes
Uma pausa para respirar: Confira todas as notícias que movimentam os mercados e impactam seus investimentos hoje
A saída da atual crise inflacionária norte-americana passa necessariamente por algum sacrifício. Hoje, porém, as bolsas fazem uma pausa para respirar
Aperte os cintos: o Fed praticamente acabou com as teses de crescimento, e o fim do bear market rally está aí
Saída da atual crise inflacionária passa por algum sacrifício. Afinal, estamos diante de um ciclo econômico clássico e será preciso esfriar o mercado de trabalho
Ibovespa se descola da gringa, Itaú entra na disputa das vendas virtuais e a estratégia de Bolsonaro para os debates; confira os destaques do dia
Em Wall Street, o alerta do Federal Reserve de que o aperto monetário pode ser mais intenso do que o esperado penalizou as bolsas lá fora
Complacência: Entenda por que é melhor investir em ativos de risco brasileiros do que em bolsa norte-americana
Uma das facetas da complacência é a tendência a evitar conflitos e valorizar uma postura pacifista, num momento de remilitarização do mundo, o que pode ser enaltecido agora
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 5% com ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3). Veja os detalhes
Mercados, debate presidencial e um resultado inesperado: Confira todas as notícias que mexem com os seus investimentos hoje
Com a percepção de que o Fed optará pelo combate à inflação a todos os custos, os últimos dias de agosto não devem trazer alívio para os mercados financeiros. O Ibovespa ainda repercute o primeiro debate entre presidenciáveis
Por que saber demais pode tornar você um péssimo chefe
Apesar de desenvolvermos uma compreensão mais sofisticada da realidade como adultos, tendemos a cair em armadilhas com muito mais frequência do que gostaríamos de admitir
Wall Street tomba com Powell, os melhores momentos de Lula e Bolsonaro no Jornal Nacional e outros destaques do dia
Desde que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou o início da retirada dos estímulos monetários adotados na pandemia, durante o simpósio de Jackson Hole de 2021, o mercado financeiro global já se viu obrigado inúmeras vezes a recalcular a rota, e todas elas parecem levar a um destino ainda incerto, mas muito […]