A Adobe acabou com sua maior ameaça, e mesmo assim as ações despencaram. Entenda o que aconteceu
Aquisição da startup Figma chamou a atenção pelo preço: a empresa pagou US$ 20 bilhões por uma concorrente que, nos últimos 12 meses, faturou pouco mais de US$ 200 milhões
Olá, seja bem-vindo à Estrada do Futuro, onde conversamos semanalmente sobre a intersecção entre investimentos e tecnologia.
Na semana passada, o grande assunto entre as empresas de tecnologia foi a aquisição da startup Figma, pela gigante de softwares criativos Adobe.
A operação, cujos benefícios para ambas as partes são bastante óbvios, chamou a atenção pelo preço: a Adobe pagou US$ 20 bilhões entre dinheiro e ações, por uma empresa que nos últimos 12 meses faturou pouco mais de US$ 200 milhões.
No dia do anúncio, as ações da Adobe caíram cerca de 20%. Em termos absolutos, o seu valor de mercado encolheu aproximadamente US$ 35 bilhões ao anunciar uma aquisição de US$ 20 bilhões.
Nessa história há lições a serem aprendidas sobre ambos os pontos de vista, mas especialmente em relação aos investidores de longo prazo.
Só para gente entender a história da Adobe
A Adobe é dona da suíte de softwares criativos mais populares do mundo.
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Seu "Creative Cloud" é vendido com um bundle de vários softwares, entre eles os famosos Photoshop e Illustrator, que são amplamente utilizados por designers do mundo inteiro.
Não é exagero dizer que a Adobe exercia um "quase monopólio" sobre este enorme segmento dentro da categoria de softwares.
Além disso, a Adobe é historicamente um caso de estudos nos MBAs: foi a primeira empresa a realizar em escala a migração do modelo de venda de licenças para o de assinatura (a famosa subscrição).
Essa transição gerou, literalmente, centenas de bilhões de dólares em valor de mercado para os seus acionistas.
Figma, uma nova concorrente
Nos últimos 10 anos, a Adobe cresceu, mas viu também uma concorrência interessante emergir, a Figma.
Sob o risco de soar excessivamente simplista, resumirei a diferença entre os dois produtos em sua metodologia: a Figma desenvolve produtos criativos com foco no compartilhamento e cooperação; tudo é feito via browser, sem que os times estejam trabalhando em diferentes versões de um mesmo projeto.
A suíte de produtos da Adobe, que apenas recentemente passou a oferecer produtos parrudos via browser, também permitem a cooperação, mas são construídos sobre uma metodologia que herda todos os prós e contras dos tradicionais versionamentos.
Nos últimos 10 anos, a Figma ganhou tração principalmente entre startups.
Para o mercado, a Figma estava para a Adobe, assim como o Slack está para o Microsoft Teams.
Em todos os eventos de investidores da Adobe, sempre havia uma pergunta sobre a concorrência, especialmente a Figma.
Em geral, seus executivos diziam não ver nenhuma pressão e asseguravam aos investidores que seu "quase monopólio" estava seguro.
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E de repente, um cheque de US$ 20 bilhões
A oferta da Adobe mostra que o "quase monopólio" não estava tão seguro assim.
A grande pergunta que fica para o investidor é como justificar, ou mesmo se há justificativa para um valuation tão elevado.
A maneira como eu vejo essa operação é a seguinte: os designers amam a Figma. O crescimento da empresa já causou danos de longo prazo aos produtos da Adobe.
Esses danos apenas não apareceram ainda em seus números.
Lembre-se, os executivos da empresa constantemente reforçavam para os investidores que estava tudo bem.
A queda de US$ 35 bilhões no valor de mercado da Adobe foi o reconhecimento tardio de que os executivos estavam dourando a pílula.
Caso a Figma seguisse como uma empresa independente, é provável que seu dano ao valor de mercado da Adobe fosse ainda maior em longo prazo.
Adobe, Figma e o valor de mercado
Isso quer dizer que os US$ 20 bilhões foram um valor justo a se pagar?
Dificilmente.
Há 1 ano a Figma realizou sua última rodada de captação privada e foi avaliada em US$ 10 bilhões.
De lá para cá, as empresas de tecnologia listadas na Nasdaq perderam, na média, entre 60% e 70% do valor de mercado.
Se a Figma fosse uma empresa listada, é muito provável que a Adobe teria pago muito menos para adquiri-la.
Certamente, a aquisição adiciona riscos enormes no curto e médio prazo a Adobe.
E no longo prazo?
Toda vez que me perguntam, eu digo que há duas maneiras de você ganhar dinheiro como uma ação: caso a empresa cresça seu lucro por ação e/ou caso o mercado mantenha ou expanda o múltiplo pago por ela.
No caso da transação, eu estimo em aproximadamente 7% a diluição dos acionistas da Adobe.
Ou seja, em curto prazo, a transação é ruim do ponto de vista do lucro por ação (não à toa, as ações caíram).
Em longo prazo, porém, o efeito pode ser bem diferente em termos de múltiplos.
Com o maior risco existencial da Adobe não sendo mais relevante, é bem provável que, daqui algum tempo, os investidores topem pagar um múltiplo mais elevado pelas ações.
Esse comportamento é bastante típico e pode ser observado em outros casos na indústria de tecnologia.
De qualquer maneira, acredito ser bem provável que as ações da Adobe passem um bom tempo no limbo, até que todos se acostumem com essas últimas notícias.
Show must go on
A operação entre Adobe e Figma é mais um dos exemplos de como o setor segue aquecido para aquisição de pequenas empresas de tecnologia.
Isso é algo que escrevi há algumas semanas para o Seu Dinheiro.
Se você deseja se expor a oportunidades como essa, eu deixo aqui uma leitura recomendada, com três casos de empresas de tecnologia com alto potencial de serem adquiridas nos próximos meses. Convido você a acessá-la neste link.
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