Petrobras na mira do governo e petróleo em alta levam o Ibovespa a cair mais de 2%; dólar tem leve alta

O clima esquentou no leste europeu nas últimas semanas, o preço do petróleo ferveu e uma frente fria pode estar em direção ao Distrito Federal, em uma tentativa de impedir que o dragão da inflação cause um estrago ainda maior na economia e na bolsa.

O principal índice da bolsa brasileira fechou o dia em queda de 2,52%, a 111.593 pontos. O mercado de juros teve uma forte alta, mas o fluxo estrangeiro seguiu entrando e buscando posições entre as empresas exportadoras, o que garantiu que o dólar à vista encerrasse a sessão em alta de apenas 0,03%, a R$ 5,0797. Na mínima do dia, a moeda americana chegou a recuar 1%. 

Mesmo antes de se tornar oficialmente uma guerra, os atritos entre Rússia e Ucrânia levaram o preço do petróleo a disparar e, em poucos meses, o barril do Brent subiu cerca de 70%. Só nesta tarde o avanço foi de mais de 4%, com a possibilidade de os Estados Unidos restringirem a exportação do óleo russo. 

A alta pode parecer uma boa notícia para as petroleiras, mas na verdade é um problemão para o governo federal, que verá o preço dos combustíveis subir ainda mais. A pressão no bolso do consumidor incomoda a classe política em ano de eleição e leva ao estudo de medidas desagradáveis para o mercado financeiro. 

A tentativa de subsidiar diesel, gasolina e outros derivados não é nova e, embora tenha grande impacto fiscal, começa a parecer mais agradável do que as outras alternativas que começam a surgir.

Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, o governo estuda congelar temporariamente os preços, uma medida que afeta todos os acionistas da Petrobras – até mesmo a União. Não por acaso as ações da estatal recuaram mais de 7% nesta segunda-feira. 

Petróleo em alta significa problemas não apenas para a Petrobras, e o tombo visto nas ações da Gol e da Azul nesta tarde são um bom exemplo disso. É mais alimento para a inflação em um momento em que a situação já está delicada, e os bancos centrais de todo o mundo começam a reverter as medidas acomodatícias adotadas durante o pico do coronavírus. 

Se a pressão das commodities continuar, a aposta é que os BCs precisem elevar os juros a patamares ainda mais altos, levando a economia global a uma nova recessão – uma das inúmeras desvantagens de emendar uma guerra logo após uma longa pandemia.

Em Wall Street, a maior perda foi do Nasdaq, com uma queda de 3,62%. O Dow Jones caiu 2,38%, e o S&P 500 recuou 2,96%. Por aqui, o Ibovespa até ensaiou ignorar o clima tenso lá fora, apegado ao desempenho do minério de ferro, mas o tombo da Petrobras e o temor global com a inflação dificultaram o processo. 

Confira o comportamento do mercado de juros:

Petrobras sob pressão

Com o petróleo nas alturas, a pressão sobre o nível atual dos preços dos combustíveis volta a gerar incômodo na classe política, o que eleva os temores de que a Petrobras altere a sua política de preços ao ser pressionada por seu maior acionista – a União. 

Nesta manhã, antes da notícia sobre um possível congelamento de preços, o presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer o que acha da política de preços da estatal. Nas palavras do presidente, não dá para continuar assim. “Se for repassar isso tudo para o preço dos combustíveis, tem que dar aumento de 50% e não é admissível”. 

A equipe econômica acredita que mudanças na forma de tributação dos combustíveis podem ser suficientes para aliviar a pressão para os consumidores, em uma forma de aliviar a popularidade do presidente, mas, de acordo com o Broadcast, o governo não descarta a hipótese de congelar os preços temporariamente. O impacto da notícia amargou ainda mais o humor do Ibovespa.

No fim de semana, o executivo Luiz Rodolfo Landim foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a presidência do conselho de administração da Petrobras. Landim já foi presidente da BR Distribuidora (atual Vibra) entre 2003 e 2006. A aprovação do nome de Landim deve acontecer na Assembleia Geral Ordinária do dia 13 de abril.

Para Régis Chinchila, analista de investimentos da Terra Investimentos, a mudança no conselho está ligada a essa pressão que tem sido feita à gestão da estatal e traz preocupação ao mercado.

A equipe da Ajax Investimentos tem um posicionamento semelhante e aponta que, embora a escolha seja técnica e Landim tenha conhecimento sobre o mercado de petróleo, o momento é delicado, e o questionamento da política de preços adiciona pressão à mudança. 

Notícias do front

A terceira rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia se mostrou mais uma vez infrutífera, e os investidores ficaram atentos às tentativas de viabilizar um corredor humanitário para o escoamento de civis. Embora aprovado pelas duas partes, a medida não estava sendo implementada. 

Após duas tentativas fracassadas, a Rússia anunciou hoje que irá realizar um cessar-fogo nas cidades de Kiev, Kharkiv, Sumy e Mariupol para permitir a saída da população. 

Segundo o governo ucraniano, a proposta russa aponta que os civis só podem sair das regiões bombardeadas para ir à Rússia e a Belarus, o que foi classificado como "inaceitável" pelas autoridades. 

Sobe e desce do Ibovespa

Sem qualquer relação com a guerra no leste europeu, o minério de ferro subiu 5% durante a madrugada, na China. Embora os ganhos das siderúrgicas e mineradoras tenham sido expressivos, foram insuficientes para que o Ibovespa conseguisse sair do mergulho causado pelo mau humor externo e as preocupações dos investidores com o futuro da Petrobras. Confira as maiores altas do dia na bolsa:

As ações da Azul e da Gol lideraram as quedas do dia no Ibovespa, com a forte alta do petróleo e a fraqueza operacional do setor. Confira também as maiores quedas:

*Colaboração Leonardo Milane, Estrategista-Chefe da VLGI Investimentos

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