O ALÍVIO DURA QUANTO TEMPO?
Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta quarta-feira (30), apesar dos sinais mistos dos mercados globais durante ontem (29). Internacionalmente, os investidores permanecem cautelosos antes dos principais eventos econômicos que provavelmente afetarão as perspectivas para as taxas de juros nos EUA. Além disso, na China, a primeira queda em novas infecções por Covid em mais de uma semana está gerando algum sentimento positivo.
Os mercados europeus e os futuros americanos abrem o dia em alta, abrindo espaço para que o dia não seja impeditivo do ponto de vista internacional para uma valorização dos ativos brasileiros, que dependerão ainda do ambiente local para definir a tendência a ser seguida ao longo do pregão de hoje. O mercado de commodities também está caminhando bem hoje, com petróleo em alta e minério de ferro próximo da estabilidade, fatores que podem cair bem com os ativos brasileiros nesta quarta-feira.
A ver…
00:36 — Nem o Lula sabe quem vai ser o ministro
No Brasil, depois de alguma frustração com os dados do Caged no início da semana, os investidores locais contam hoje com a digestão dos dados de desemprego da Pnad Contínua, bem como alguns números do panorama fiscal, que vem agradando o mercado até aqui pelo menos (resultado de 2022 tem sido bom, com superávit). Temos também a apresentação do plano estratégico de 2023-27 da Petrobras. Fora os dados e eventos, acompanhamos o ambiente político incerto de Brasília.
O dia de ontem foi de repercussão positiva das novidades na capital federal, para começar com o gasto fora do teto mais suave, podendo variar de R$ 100 bilhões a R$ 150 bilhões, sendo que o prazo máximo seria de dois anos, o que daria tempo para que uma nova regra fiscal fosse trabalhada (a PEC só avançará na semana que vem, apesar de já ter conseguido as assinaturas). Depois, algumas alas em Brasília voltaram a cogitar Alckmin na Fazenda, fazendo dobradinha com Haddad no Planejamento.
A verdade é que nem o Lula parece saber o que quer da vida, podendo deixar a apresentação completa dos ministérios apenas para depois de sua diplomação, no dia 12 de dezembro. A expectativa, no entanto, é que ao menos alguns nomes da economia sejam antecipados, de modo a acalmar os ânimos — nomes complementares, como o de Josué Gomes, presidente da Fiesp, e de Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho do Bradesco, também estão circulando.
01:33 — Na expectativa pelas palavras de Powell
Nos EUA, o início da semana foi difícil, com os investidores cautelosamente aguardando pelos dados relevantes dos próximos dias. Pelo menos o mês até aqui foi positivo para os ativos estrangeiros, com alta de mais de 3% para o índice Dow Jones e mais de 2% para o S&P 500. Naturalmente, à medida que os investidores começam a precificar uma pausa no ciclo de aumento de juros do Fed, as ações voltam a ter alguma atratividade — o mercado está ciente de quanta dor os aumentos agressivos das taxas do Fed trouxeram para as ações.
Com isso, os investidores continuam atentos a cada palavra dos membros do comitê do Federal Reserve, procurando por qualquer pista de que os aumentos estão terminando. As coisas podem ficar mais voláteis até o final da semana, principalmente com o Departamento do Trabalho programado para divulgar o relatório de empregos de novembro na sexta-feira — se estima a criação de cerca de 200 mil novos empregos durante o mês, ante um ganho de 261 mil em outubro. Essa queda provavelmente seria vista como uma notícia positiva pelos investidores.
02:17 — A greve dos ferroviários americanos continua no radar
O presidente americano Joe Biden está tentando convencer o Congresso a intervir nas negociações paralisadas entre os sindicatos dos ferroviários e os operadores das ferrovias, de modo a evitar uma greve antes do prazo de 9 de dezembro. A negociação visa encerrar uma longa disputa trabalhista entre as maiores ferrovias de carga do país e mais de 115 mil de seus trabalhadores, aprovando uma resolução conjunta sob a Lei do Trabalho Ferroviário de 1926, que forçaria os funcionários a aceitar o contrato aprovado pelo Conselho de Emergência Presidencial.
O acordo de cinco anos que resultou de discussões anteriores ofereceu aos ferroviários um aumento de 24% nos salários de 2020 a 2024, também concedendo um dia de folga remunerada adicional, além das férias existentes. Os pontos críticos permanecem sendo sobre os horários de trabalho e tempo de licença (saúde) pago. O problema é que, segundo algumas estimativas, as ferrovias nos EUA impactam cerca de um terço de todo o frete nos EUA, o que significa que pode haver efeitos indiretos para muitas indústrias que podem resultar em outra ameaça inflacionária. Volatilidade no radar.
03:09 — O problema demográfico
O mundo vai precisar conviver com um problema demográfico mais generalizado muito em breve, de maneira semelhante ao que já acontece em algumas economias desenvolvidas. E que problema é esse? Bem, se trata da redução no ritmo de crescimento populacional, que acaba sendo um desafio para o potencial de crescimento da economia de maneira estrutural a longo prazo.
No Brasil, por exemplo, nos últimos 30 anos, a população cresceu cerca de 65%, enquanto a economia cresceu 2% ao ano. Para frente, podemos ver um experimento de crescimento próximo a zero da população (vamos crescer o número até provavelmente 2050), sendo que a economia cresceria menos de 2% ao ano caso não criemos uma solução para o problema da produtividade.
Também vemos problema neste sentido na China, que promete não ser mais o motor do mundo — até mesmo porque estamos entrando em uma era de menor globalização e maior regionalização —, e nos EUA. O problema demográfico está dado para as próximas décadas, resta saber como vamos nos adaptar e como os ativos de risco vão reagir ao longo do tempo à nova realidade (ainda não há consenso sobre isso).
04:01 — Investindo na próxima década
Este ano tem sido bastante movimentado para o mercado, mantendo a volatilidade alta e os investidores focados no aqui e agora (fluxo de notícias). Tentando fugir da mesmice da cabeça rotineira dos investidores, às vezes vale a pena diminuir o zoom e ter uma perspectiva de longo prazo (o que vai funcionar nos próximos 10 anos?).
Após a crise financeira de 2008, as economias centrais foram caracterizadas por um crescimento econômico lento, inflação baixa, taxas de juros baixíssimas e flexibilização quantitativa (quantitative easing) por parte dos bancos centrais em todo o mundo. Era um ambiente muito bom, principalmente para ativos financeiros com maior duration (aqueles com maior parcela de seus fluxos de caixa ocorrendo em um futuro distante).
Isso inclui as famosas ações de empresas voltadas para o crescimento. Liderado por um grupo restrito de ações de Big Tech, o S&P 500 teve retorno de 16% ao ano desde o início de 2009 até o final de 2021. Agora, esse ciclo parece ter acabado e os próximos 10 anos devem ser muito diferentes dos últimos 14 anos, com oportunidades muito mais diversificadas e amplas (a solução de correr para a tecnologia acabou).
No próximo ciclo de mercado, os índices de ações e títulos devem ter retornos baixos de um dígito, com os investimentos geradores de caixa de volta à moda — as taxas de juros mais altas significam que os fluxos de caixa distantes valem menos quando descontados de volta ao presente, e garantir o financiamento é mais caro.
O repensar das cadeias de suprimentos globais já está em andamento, será um obstáculo para as multinacionais e contribuirá para o aumento da inflação, sendo também um impulso de longo prazo para certas economias de mercados emergentes, como o Brasil (no futuro, os novos vencedores não serão necessariamente os fabricantes de tecnologia, mas os compradores de tecnologia).
Essa dinâmica significa que o universo de potenciais ações vencedoras inclui setores orientados para o valor. Enquanto isso, a renda fixa está realmente gerando alguma receita pela primeira vez em quase 15 anos. As megatendências que se desdobrarão ou acelerarão na próxima década incluem a transição para a energia verde, sem nos esquecermos dos combustíveis fósseis ainda.